Estamos há 48 horas sem luz e existe a chance de ficarmos mais 72 e esse é um exemplo prático do porque lutamos de forma interseccionada
Existe muita gente que acredita que a casa 1 não deva existir, assim como nenhum projeto que se organize pelas chamadas pautas identitárias. Essas pessoas, em geral afirmam que ao nos unirmos por conta das nossas orientações afetiva sexuais e identidade de gênero estamos pulverizando questões sociais e separando em grupos, fragmentando assim a luta contra as desigualdades, no entanto, é inegável que as desigualdades afetam de forma mais violenta determinados grupos.
No dia 22 de novembro deste ano, com as fortes chuvas e ventanias, ficamos sem parte do telhado e com o espaço fechado por quase uma semana. Agora em dezembro, o mesmo está acontecendo, porém por conta da queda de energia.
Ao longo dos nossos 8 anos de existência já sofremos com inundações, desabamentos, falta de água, luz e diversas outras questões relacionadas à crise climática e falta de estrutura da cidade para lidar com ela.
E por isso sempre tivemos a crise climática como uma das nossas pautas. Em 2024 por exemplo tivemos uma série de atividades chamadas “Climão Hein…” que buscavam aproximar as pessoas da pauta climática. As rodas de conversa contaram com nomes como o especialista em direito ambiental Danilo Farias, a gestora ambiental e ativista Pamela Gopi, assim como uma representantes do Greenpeace

A escolha para convidar a artista Auá Mendes para criar o painel central do Galpão Casa 1, exposto entre 2021 e 2025, também não foi ao acaso. Indígena e trans, Auá trouxe para o espaço imageticamente a luta da população lgbtqiapn+ e a importância da demarcação de terras indígenas.

Além disso, vemos na prática diariamente como a crise climática afeta a população LGBTQIAPN+, seja no impacto direto das vivências da população em situação de rua que sofre com calor e frio extremos, seja em outros públicos vulneráveis que perderam tudo. casos como esses que acolhemos constantemente foram abordados de forma excepcional pela jornalista Jess Carvalho na matéria “Como a crise climática reforça a exclusão de pessoas LGBTQIA+”, publicada pela Agência Diadorim no mês de julho.
Outro artigo fundamental para compreender a importância da intersecção entre nossa comunidade e a crise climática foi escrito pela diretora executiva do projeto Vote LGBT, Bru Pereira para a CNN Brasil durante a COP 30 intitulado “A crise climática também é uma pauta LGBT”
“A desigualdade social e a lgbtfobia se misturam com a desigualdade ambiental – e produzem um cenário em que não são “os humanos” em geral que sofrem, mas sempre os mesmos corpos. a ideia de justiça climática nasce justamente daí: não basta “salvar o planeta” em abstrato, é preciso olhar para quem está em risco primeiro, quem tem menos acesso à moradia digna, saneamento básico, renda, políticas públicas. no brasil, isso significa assumir que a população LGBT+, sobretudo negra, pobre e das periferias urbanas e rurais, está na linha de frente dos impactos – mas raramente está sentada à mesa onde se decide o futuro, ” apontou Bru no texto.
E não podemos esquecer, é claro, da luta pelo parque do Bixiga, capitaneada pelo Teatro Oficina por décadas junto de pessoas moradoras do Bixiga, e que a gente com muito orgulho participou ao longo de quase toda última década.
