A categoria mais representativa do Prêmio Jabuti

O Prêmio Jabuti é considerado um dos mais importantes do Brasil no campo da literatura. Sua primeira edição foi em 1959, quando premiou Jorge Amado na categoria romance com “Gabriela, Cravo e Canela”.

O nome da premiação se deu pelos pulsantes movimentos modernistas e nacionalistas do período de criação, quando se valorizava a cultura popular brasileira e as raízes indígenas e afrobrasileiras. Ao longo dos seus 62 anos, o Jabuti  foi realizado em diversos lugares: na sede da Câmara Brasileira do Livro, durante Bienais do Livro, no Memorial da América Latina, na Sala São Paulo e no Auditório Ibirapuera Oscar Niemeyer.

No total, são 20 categorias divididas em quatro eixos: 1. Literatura, com conto, crônica, histórias em quadrinhos, infantil juvenil, poesia, romance de entretenimento e romance literário; 2. Ensaios, com artes, biografia, documentário e reportagem, ciências, ciências humanas, ciências sociais e economia criativa; 3. Livro, com capa, ilustração, projeto gráfico e tradução; 4. Inovação, com fomento à leitura e livro brasileiro publicado no exterior.

Porém, como não poderia deixar de ser, a premiação está de forma constante sob os holofotes pela falta de representatividade dos e das premiadas. Na constante disputa do “não temos autores negros premiados por que não temos autores negros publicados ou não temos autores negros publicados porque não são premiados?”, debate que se estende ainda para mulheres, pessoas indígenas, pessoas trans e diversos outros sujeitos dos chamados grupos minorizados.

Por isso celebramos com orgulho as indicações dos e das 10 finalistas da categoria conto divulgada na semana passada. Do total, sete títulos são de autoria de mulheres, pessoas negras, amarelas e marrons.

Confira a seguir os títulos:

Cadernos Negros – Volume 42, de Esmeralda Ribeiro e Márcio Barbosa.

Este volume 42 traz contos de escritorxs de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Minas Gerais, Santa Catarina, Maranhão e Ceará. São histórias que permitem olhares diversos sobre assuntos como relações afetivas, memórias familiares (há textos interessantes que resgatam a imagem de mães e avós), violência policial, o dia a dia nos quilombos, e muitos outros.

Organizado por Márcio Barbosa e Esmeralda Ribeiro, este volume, como os outros da série, foi feito de forma colaborativa e proporciona a oportunidade de se conhecer o que de mais atual vem sendo produzido no campo da literatura afro-brasileira.

Ela queria amar, mas estava armada, de Liliane Prata.

Nas vinte histórias que compõem este livro, Liliane Prata traça um panorama atual e corajoso das relações – e das tensões – entre mulheres e homens. Privilegiando o ponto de vista feminino e alternando entre momentos de ternura enternecedora e de crueza absoluta, as narrativas sempre surpreendem, em textos urbanos e intensos, ora nervosos, ora líricos, ora repletos de humor. Os personagens vivem os mais diversos conflitos, e neles podemos facilmente reconhecer amigas e amigos, mães e pais, filhas e filhos e até a nós mesmos.

As temáticas dos contos são universais e inseridas no contexto urbano brasileiro, e a dificuldade de se relacionar anda lado a lado com o cansaço típico da nossa época, a angústia, a fragilidade psíquica, a dificuldade de ouvir o outro. Crises de ansiedade, depressão, burnout, transtorno alimentar, idas frequentes ao psicólogo e consultas no Google são comuns entre os personagens, que oscilam entre excesso de informação do mundo e falta de conhecimento de si mesmos; entre a raiva e a mágoa e a vontade de viver, amar e receber amor.

Ela queria amar, mas estava armada é um fascinante mergulho na pluralidade feminina, um convite ao autoconhecimento e à possibilidade de nos colocar no lugar do outro e entender melhor os sentimentos, os sonhos e os temores que, no fundo, são comuns a todos nós.

Gosto de amora, de Mário Medeiros.

“Com olhares atentos, os personagens de Gosto de Amora sobrevivem em ambientes conturbados. Para superar os obstáculos, eles são matreiros em captar cada aprendizado do mundo exterior. Nesta tentativa de permanecerem vivos, revelam, em grandes ou pequenos gestos, seus atos de resistência diária.

Os contos do Mário Medeiros revelam sentimentos, memórias e uma busca de compreensão e sentido a partir de experiências singulares. Seus personagens respiram e inspiram. Eles se conectam com nossas memórias, nossas águas profundas. Nos humanizando, eles podem nos tornar melhores. A partir daquele oceano profundo, talvez seja possível alcançar a superfície e vislumbrar algum horizonte.” – Marcelo D’Salete

Passagem estreita, de Divanize Carbonieri.

Passagem estreita de Divanize Carbonieri aborda um universo de mulheres marginais, subterrâneas, rebaixadas a uma condição ínfima na sociedade, que protagonizam histórias de luta, violência e superação. Guerrilheiras, escravas, jovens de periferia, professoras, escritoras, indigentes insistem e teimam em sobreviver e romper as estruturas opressivas de submissão e reprodução da subalternidade. Uma mente feminina lucidamente crítica e irônica escrutina os jogos de aparências e de dissimulação que encobrem a barbárie imperante. As personagens e as narradoras, problematizadas, imbuídas de uma sensação de que a vida não vale a pena, de um conflito de consciência, são colocadas em situações extremas em que o dialógico, a alteridade e a diferença levam ao adensamento da crise interior.

Rachaduras, de Natalia Timerman.

Rachaduras, estreia na ficção de Natalia Timerman, elenca 22 contos que falam dos dilemas do desejo em uma sociedade marcada por insatisfações, medos inconscientes, impasses sociais e pela agitação dos acasos cotidianos. Os textos da autora apresentam uma escrita ao mesmo tempo segura e experimental, tendendo ao poético, por meio de uma prosa límpida e permeada de oralidade, própria de uma expressividade inventiva e repleta de meandros significativos.

O livro é dividido em três partes. “Felizes para sempre”, a seção de abertura, traz histórias de casamentos, vida com os filhos, noites atormentadas pela insônia e pelo ímpeto de mudança, pela aposta de, uma vez mais, alcançar o prazer incerto da vida diária. A promessa de felicidade duradoura se esvai nos meandros do cotidiano atarefado, no desgaste e nas pequenas fissuras das relações.

O teor irônico do nome da primeira seção se repete na segunda parte, “Príncipes e princesas”, onde personagens em busca do amor romântico, ou simplesmente de satisfazer suas ilusões de paixão e interesse pelo outro, terminam por se desencontrar ou se desinteressar mutuamente. Em alguns dos contos a interferência das novas tecnologias indica que — além de facilitar a comunicação — as redes sociais, o celular e outros canais de informação também contribuem para os descaminhos dos desejos.

A terceira parte, que fecha o volume, intitula-se “Outros planos”. Os contos ganham um alcance temático mais amplo e se abrem para experiências da conflagração do espaço urbano, da desigualdade e das diferenças agudas. A linguagem e a estrutura dos contos também se deslocam para uma elaboração mais tensa. Sobressai o uso de uma linguagem das ruas, das gírias e de falas involuntárias. A experimentação também atinge a própria estrutura do conto, que tende a outras formas, como a do prontuário, da crônica e do diário. Algo da experiência pessoal da autora como médica psiquiátrica também avulta nessa seção sobre o descentramento do eu em um mundo de fortes contrastes, diversidade e sofrimento emocional.

Como diz o escritor João Anzanello Carrascoza, no texto de orelha do livro, os personagens do livro estão “à caça de uma furtiva felicidade”. Para a escritora Giovana Madalosso, que escreveu um texto para a quarta capa do livro, os contos da autora são “escritos com o cérebro à flor da pele”. Neles, “atravessamos a superfície do banal para encontrar o subterrâneo complexo e muitas vezes inesperado das relações”.

“Rachaduras” marca a primeira publicação ficcional da escritora e psicoterapeuta Natalia Timerman, depois de sua aclamada estreia com “Desterros” (ed. Elefante, 2017), um relato sobre a experiência da autora como médica psiquiátrica no Centro Hospitalar do Sistema Penitenciário de São Paulo.

Redemoinho em dia quente, de Jarid Arraes.

Escritora conhecida por seus cordéis, Jarid Arraes estreia no gênero dos contos em Redemoinho em dia quente. Focando nas mulheres da região do Cariri, no Ceará, os contos de Jarid desafiam classificações e misturam realismo, fantasia, crítica social e uma capacidade ímpar de identificar e narrar o cotidiano público e privado das mulheres.

Uma senhora católica encontra uma sacola com pílulas suspeitas e decide experimentar um barato que a leva até o padre Cícero, uma lavadeira tenta entender os desejos da filha, uma mototáxi tenta começar um novo trabalho e enfrenta os desafios que seu gênero representa — Jarid Arraes narra a vida de mulheres com exatidão, potência e uma voz única na literatura brasileira contemporânea.

“O leitor se surpreenderá com a originalidade e a fluência da voz que aqui, nestes contos, enfrenta e revela o emaranhado de contradições que cada um de nós carrega.” – Maria Valéria Rezende

Sombrio Ermo Turvo, de Veronica Stigger.

Este grupo de ficções de Veronica Stigger — contos, causos, epifanias, poemas e textos de inspiração teatral — oferece, com sua variedade de forma e ritmos, um conjunto absolutamente irresistível, aterrador e risível de nossas fragilidades (do corpo e da mente). A história do aluno de colégio invejado por levar tupperware preto; o dia em que nevou numa cidade dos trópicos; o longo conto-poema sobre sangue, menstruação e morte.

Ototo, de Henrique Komatsu.

“Ototo” é um livro sobre o silêncio: o silêncio que existe entre um pai e um filho, o silêncio que existe entre as palavras, o silêncio do sagrado, o silêncio das lacunas na memória, o silêncio que habita o desconhecido, o estranho, o silêncio da vergonha, o silêncio da violência e o silêncio da dor, o silêncio do final. Os doze contos tratam dessas variadas formas de quietude, apresentando ao leitor o que sobra aos personagens quando vivem cada uma dessas ausências: diante do silêncio de um pai, o que sobra? Diante do silêncio do divino, sobra o que? Diante do silêncio da vergonha, da violência, da dor, do esquecimento, diante do silêncio final, o que resta ao personagem? “OTOTO”, palavra que intercala a sonora vogal “O” e a consoante surda “T”, trata dessas consonâncias entre o dito e o não dito.

Urubus, de Carla Bessa.

“A verdade é que estão se devorando uns aos outros. E depois nós é que somos os abutres, nós os fatídicos, os mau-agourentos, o ser humano é um bicho estranho mesmo. A nós deixam o trabalho de livrá-los de seus próprios restos. Deviam nos agradecer. Desta vez demos cabo de tudo rapidamente, afinal, era tão pequeno o manjar, terminamos sem deixar resquícios, raspamos o prato, como eles dizem, cientes da importância do nosso trabalho. Pois se estamos no fim da cadeia, também fechamos um círculo, somos: recomeço.”

A lista completa dos vencedores e vencedoras será divulgada no dia 26 de novembro de 2020 no site do Prêmio Jabuti.

“Nunca deixei de ocupar o meu espaço como uma pessoa preta, gorda e travesti não-binarie”, diz New Guus

Post feito por Fred Costa, voluntário de conteúdo

Abraçada por onde escolheu passar, Guus Tupinambá Tenório da Silva, ou simplesmente, New Guus, como gosta de ser conhecida na internet, nasceu em São Paulo/SP, tem 28 anos de idade, é filha e neta de baianos, morou por anos em Fortaleza/CE e mora há mais de um ano em Natal/RN. É uma travesti negra com forte poder de argumentação, cantora, cursa Ciências Sociais e é bolsista do Tiresias, grupo de pesquisa sobre diversidade e gênero na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), é colunista politica do site Cine RG e integra coletivos como “Manas e Monas” e “LGBTec”, na intenção de contribuir com suas visões de mundo e disseminar uma melhor compreensão das causas acerca da diversidade.

Além de tudo isso, ultimamente, ainda vem contribuindo com informações relevantes e compactadas em vídeos para o seu canal homônimo no Youtube. Diante desse currículo de responsabilidade, resolvemos bater um papo e absorver essa potencia toda!

A compreensão, de fato, da pessoa que você é, veio aos 15 anos de idade ou foi basicamente quando você conseguiu expor isso a sua família? Naquela circunstância, você logo se entendeu como travesti ou foi um processo até chegar a essa conclusão? Como foi esse processo?

Não e tenho percebido que a vida é esse grande descobrir coisas sobre nós. Naquela época, eu percebi que gostava de homem, e me entendia como uma pessoa cisgênero, mas aquele momento, de assumir parte de quem eu sou, foi extremamente importante. Esse processo, longo e contínuo, de quase 15 anos para, finalmente, me perceber e entender como uma travesti não-binarie, além de me mudar para o Nordeste, foi essencial. Em Fortaleza, conheci outras pessoas não-binaries que serviram de referência pra mim e esse entendimento foi libertador. Desde então, tenho descoberto quem realmente eu sou. Aliás, prefiro o termo “estou”, até porque tenho me percebido também uma pessoa pansexual. Enfim, é um eterno descobrir-se.

Seus pais e avós são baianos. Você nasceu em São Paulo e logo depois veio pro Nordeste, onde passou por Fortaleza e mais outros 5 estados até se estabelecer, onde hoje vive que é Natal. Como foi que essa experiência foi acontecendo? De forma programada ou totalmente imprevisível?

Sim, eu venho de uma família preta, nordestina e com descendência indígena. Meus avós e minha mãe e meu pai tem o sobrenome Tupinambá e tenho muito orgulho disso! Eu não tive a alegria de nascer na Bahia, nasci em São Paulo e, depois na vida adulta, me mudei pra Fortaleza, que é um lugar lindo com um povo incrível, extremamente aberto e receptivo. Ano passado, eu também passei por Recife, Maranhão, Piauí e Paraíba. Cada lugar é rico em suas culturas, eu fui para esses estados para desenvolver um trabalho com o público LGBTQIA+ e foi incrível. Eu sou apaixonada por essa parte do nosso país. Esse trabalho que desenvolvi ligava à comunidade LGBTQIA+ com a fé e a espiritualidade. Então, acabou que foi acontecendo de forma programada mesmo e cheio de surpresas.

Atualmente, você vive em Natal, onde cursa Ciências Sociais, pela UFRN. Apesar de recente, você já se considera acolhida em que sentido na cidade que, apesar de ser capital, ainda possui muitos aspectos provincianos?

Eu amo Natal. É uma cidade linda, com belas paisagens, mas confesso que o único lugar que me senti confortável foi na própria UFRN. Todas as vezes que saia ou ia no shopping, eu me sentia um ET, o que foi bem diferente de Fortaleza. Em Natal, fui acolhida por um grupo específico de amigos, porém, de forma geral, não vejo Natal como um espaço acolhedor, enquanto uma pessoa trans, mas nunca deixei de ocupar o meu espaço como uma pessoa preta, gorda e travesti não-binarie. Estou acostumada a incomodar e uso isso ao meu favor, mas tive uma dificuldade em me adaptar. Aliás, sofri transfobia em Natal por um casal de mulheres lésbicas, inclusive, foi algo bem triste e me que afetou de forma bem ruim psicologicamente, porém consegui com terapia e apoio dos amigos transformar essa dor em energia, foi daí que comecei o meu canal no Youtube.

Você possui uma formação bem alinhada com as Artes. É formada em Canto Popular e também em Artes Cênicas, ambos cursos realizados em São Paulo. Essa veia artística encontra pulso no seu canal no YouTube ou aquele espaço é mais pra gerar compreensão e debate?

Com certeza. O meu canal no YouTube é a junção da arte com a informação e o debate. Eu sou formada pela ETEC de Artes de São Paulo e fiz teatro pela Escola de Artes de Osasco, pelo ETA em São Paulo, e são esses espaços que me formaram pra ter um certo conforto com as câmeras. Já as Ciências Sociais, eu faço o caminho para discutir política e sociedade. Então, resumindo o meu canal é esse espaço de arte política ou política através da arte, estou muito feliz com o resultado do canal, ele vai crescendo ao poucos, mas os feedbacks não poderiam ser melhores, tenho conseguido alcançar o meu objetivo de levar informação, de forma clara e didática, e com leveza e humor. E 2021 vai sair um trabalho musical sobre a vivência de pessoas trans e travestis não-binaries.

Você se considera uma pessoa cristã. Como é essa compreensão?

Sim, sou cristã e sempre gosto de dizer, que acredito e me relaciono com um Cristo que não está nos templos ou religiões e sim que vive em mim, porque, do contrário ele não me aceitaria, acredito que como travesti posso ocupar o espaço que eu quiser. Não existem barreiras e se existirem a gente se torna mar e contra o mar não existe barreira que nos resista. Quando olho para a pessoa de Cristo e para história que ele nos deixou, me sinto abraçada e quero levar esse amor que não exclui a todos, todas e todes que quiserem e se identificam ou não com Cristo. Isso está para além das paredes de uma igreja ou das barreiras de uma religião. E isso está para além dos livros e teologia, Cristo é uma pessoa e não um livro, seu amor não tem limites, por muito tempo acreditei estar errada, mas quando percebi que ele me amava mesmo eu sendo aquilo que a sociedade mais odeia, eu me dei conta que a opinião que importa é a dele e a de mais ninguém. E para quem acredita Jesus nos ama, durmam com esse barulho moralistas.

Atualmente, os coletivos crescem com uma força interessante na sociedade. Você mesma integra dois, o “Manas e Monas” e o “LBTec”. Por que dessa decisão de fazer parte deles? O que cada um te acrescenta? E o que você acrescenta a cada um?

Eu conheci a galera do “Manas e Monas”, na Etec de Artes. Fui a apresentadora dos saraus por um bom tempo e amava, acabei me afastando e agora com a pandemia voltei. O LGBTec é um grupo de pessoas das engenharias que acabei conhecendo por indicação de um amigo. Os coletivos são de extrema importância, primeiro porque é esse quilombo, essa família e essa rede apoio, lá todes se respeitam se apoiam, se incentivam, compartilham ideias e somam nas lutas e é assim que nós, juntes, fortalecemos os movimentos sociais. E eles me acrescentam, primeiro as percepções de mundos completamente diferentes, vivências incríveis que, através deles, eu me fortaleço, eu questiono meus privilégios e compartilho dificuldades, acreditando que é uma troca muito boa, eu recebo e acabado doando de forma mútua.

Casa 1 lança bazar e financiamento coletivo para arrecadar fundos para novo projeto

Mulheres são maioria na população brasileira e no eleitorado, mas são apenas 12,32% na política institucional, ou seja, 87,68% dos cargos nas câmaras de vereadores, assembleias legislativas, congresso nacional e senado é composta por homens. Isso significa que nossas leis e políticas seguem sendo pensadas por um único grupo de pessoas, em sua maioria branca e masculina e pesquisas mostram que corpos representam sim pautas e as defendem com maior força.

A desigualdade no país tem gênero, raça e classe e muitos projetos já buscam fortalecer candidaturas dos chamados grupos minorizados, no entanto um fator é raro nos apoios: o cuidado com a saúde mental dos e das que lutam para ocupar os espaços políticos institucionais.

Por isso a Clínica Social Casa 1, o braço de saúde mental da Casa 1 pretende, de forma emergencial oferecer apoio para mulheres lésbicas, bissexuais e trans, assim como para mulheres negras heterossexuais e pessoas não binárias neste momento de luta e enfrentamento que são as eleições. A chamada violência política e os ataques físicos e virtuais são impedimentos para que esses corpos cheguem ao poder e promovam a mudança por que tanto lutam. O assassinato da vereadora Marielle Franco, até hoje sem resposta, é um dos casos mais emblemáticos e extremos de onde essa violência chega.

Por isso precisamos da sua ajuda para oferecer plantões de escuta, atendimentos psicoterápicos e aconselhamento jurídico, assim como ferramentas de acesso como pacote de dados para fortalecer as mulheres para a luta que é uma campanha política.

Vale ressaltar que toda a equipe que dará suporte para as candidatas será feminina, visando não só o estabelecimento de um espaço seguro de escuta como o fortalecimento da representatividade e das profissionais de saúde que hoje são maioria mas ocupam muito menos cargos de liderança e recebem 43,5% a menos do que os homens.

Para colocar esse projeto que chamamos de Escuta Candidata, em pé, abrimos uma campanha de financiamento coletivo e também um bazar virtual no Instagram com peças das marcas Adriana Barra, Paula Raia, Cartel 011, Adidas Jeremy Scott, entre outros.

Nosso tempo é curto e a campanha vai só até o dia 18 de outubro, mas temos certeza que com a ajuda de todo mundo vai rolar!

[Artigo] A estratégia Democrático-Popular e a luta LGBT

Por Coletivo LGBT Comunista – SP

No dia 30 de outubro, o Coletivo LGBT comunista postou em suas redes sociais o texto “A estratégia Democrático-Popular e a luta LGBT” e achamos as colocações de extrema importância e pedimos então para compartilhar aqui no nosso blog. O texto faz parte também do zine: Tesoura – Aposta, que está em sua terceira edição que traz uma série de provocações acerca da estratégia democrático-popular . O zine pode ser lido aqui.

Confira o artigo completo:

COMEÇANDO DO COMEÇO: O QUE É ESTRATÉGIA?

Qual a primeira imagem que vem à mente ao pensar num campo de batalha? Provavelmente uma dessas: armamentos, as tropas a postos, o conhecimento do ponto fraco do inimigo, do território, os recursos que cada um possui, o interesse de cada lado na vitória daquele conflito específico, o embate que está prestes a acontecer. Todo o acúmulo utilizado no planejamento e realização de uma batalha é chamado de tática.

A batalha não acontece de forma isolada e independente de uma guerra, mas como parte dela. Essa guerra é composta por vários momentos necessários, as batalhas, que compõem um todo. A compreensão totalizante da guerra, com objetivos amplos e gerais, é chamada de estratégia para a ciência militar.

A partir da teoria militar para a guerra, pensa-se a política. Essa é a origem da pedra angular da compreensão política, a estratégia, e de seus desdobramentos orientados por esse objetivo, as táticas. Portanto, é necessário compreender que, a depender de uma série de questões, como a composição das classes e correlação de forças, interesses de classes etc, as organizações políticas aderem a determinadas estratégias políticas distintas.

Esse texto se propõe a discutir uma estratégia política em específico, conhecida como estratégia democrático-popular, e suas influências e desdobramentos para a classe trabalhadora, em geral, e para a população LGBT trabalhadora, em específico.

“Uma estratégia se refere à forma pela qual a classe – através dos instrumentos coletivos construídos para a luta – interpreta, combina, organiza e dirige os diversos enfrentamentos particulares no sentido geral da revolução.” (MARTINS, PRADO, FIGUEIREDO, MOTTA, NEVES, 2019, p. 28)

O QUE É A ESTRATÉGIA DEMOCRÁTICO-POPULAR?

Ao estudarmos a história da luta social no Brasil desde o último século, percebemos dois ciclos históricos diferentes. Períodos em que a classe trabalhadora adotou duas estratégias diferentes: o primeiro acontece entre a década de 1920 e de 1960, até o golpe empresarial-militar; o segundo nasce do enfrentamento à ditadura (no período de redemocratização) e vai até 2016, com o golpe empresarial-parlamentar. Podemos notar que ambas as estratégias culminaram num fracasso do movimento dos trabalhadores em seu sentido revolucionário, encontrando seu fim em um processo de golpe político. Nosso interesse é discutir esse segundo momento da classe trabalhadora, que se arrolou do fim do século passado até 2016, deixando suas consequências tanto organizativas quanto políticas até hoje.

Quando começa a se constituir, a Estratégia Democrático-Popular (que aqui chamaremos de EDP) visa a chegada ao socialismo, como a estratégia do período anterior. Diferentemente da Estratégia Nacional-Democrática, que representa a hegemonia da esquerda entre os anos 1920 e 1960 – sob influência do PCB –, a EDP rejeita a aliança com a burguesia como uma de suas táticas.

Antes que a EDP possa se realizar, alguns elementos surgem no horizonte. Dentre eles, a crise do socialismo em escala internacional e a queda da URSS. No Brasil, o PCB enfrenta problemas de articulação por conta da derrota interna para a ditadura. Junta-se a isso a crise econômica no fim do golpe militar, que aprofundou a miséria dentre a base da classe trabalhadora, abrindo espaço para o surgimento de uma nova articulação e, com isso, uma nova estratégia para a classe é apresentada. Esta nova articulação culmina na consolidação do PT, partido que elabora e encabeça essa estratégia. Acontece que esta estratégia, dita socialista em seu surgimento, começa a abrir uma série de concessões do ponto de vista das tarefas de uma estratégia revolucionária, visando com isso adequar seu programa para disputar a esfera institucional. Este movimento tem seu início na década de noventa.

Na virada para os anos 2000, essas adaptações estão completamente realizadas, a metamorfose está completa. A estratégia que era socialista já tinha se tornado uma estratégia que visava uma democracia aos moldes da burguesia. Nesse processo, o partido deixa de pautar a oposição dos interesses de classe entre trabalhadores e burguesia, e passa a promover uma identificação ideológica entre os dois grupos – o eleitor é um cidadão que, como qualquer outro, está preocupado com o país. Devemos, portanto, caminhar juntos no desenvolvimento da nação, propondo um governo que pretende garantir os interesses de ambos. Ou seja, o conjunto de táticas empregadas não construía o socialismo, mas um Estado “verdadeiramente” democrático.

Neste Estado, a ideia é constituir um caminho para acumular forças, através de políticas de assistência social e a promoção de direitos para os trabalhadores para, então, realizar uma transformação mais radical. Mesmo que em seu início a EDP buscasse se diferenciar da Estratégia Nacional-Democrática, negando a aliança entre trabalhadores e burguesia nacional, seu movimento histórico nos mostra que essa negação se manifesta na prática enquanto uma identificação entre os interesses dois grupos – o que afirma e atualiza este aspecto da estratégia fracassada anterior. Agora amplos setores estariam envolvidos nessa estratégia, em especial o empresariado nacional e o latifúndio, que não é mais inimigo, mas aliado fundamental na luta contra os “verdadeiros” antagonistas, que são os agentes da ditadura, os rentistas e especuladores.

O pacto nacional de conciliação de classes está feito. É selado com um documento, a “Carta ao Povo Brasileiro” (2002), e por ele o PT se norteia até o último momento: até o golpe de 2016. Até então – e mesmo depois –, as forças de esquerda apostam na institucionalidade e na democracia burguesa como formas de barrar o golpe da classe dominante em curso. O socialismo não era opção para o partido dirigente da classe. Apostamos, enquanto classe trabalhadora, nas instituições e na atitude civilizada das classes dominantes. Entretanto, setores fundamentais da burguesia já não viam mais a possibilidade de sustentar as necessidades do acúmulo de capital a partir do pacto gerenciado pelo PT, um partido da ordem, e optam por abrir mão deste. Aqueles setores envolvidos no amplo pacto são os que agora descartam a EDP, que deu certo enquanto foi possível para os seus interesses, e se voltam para a estratégia de ataque frontal à classe trabalhadora. Sim, eles também têm estratégia e assumem também posições táticas em função de seus interesses de classe.

TÁ, MAS O QUE O MOVIMENTO LGBT TEM A VER COM ISSO?

Retornemos ao final da ditadura. Naquele momento, outros agentes sociais entram em cena na política brasileira: os movimentos sociais. Primeiro, vamos olhar esse fenômeno em escala mundial. Os movimentos sociais vêm de uma tradição que se inicia em Maio de 1968, na França, mas encontram sua realização com a queda da URSS e a crise do socialismo real, em 1989-91. Maio de 68 e os novos movimentos sociais pretendem atestar a falência da forma de se organizar que passa por um partido leninista e também confirmam a importância de pautas como o feminismo, a questão racial, a questão ecológica e a questão da sexualidade.

Diferente dos partidos revolucionários, esses movimentos costumam centrar esforços em uma pauta mais específica e ter estrutura mais horizontal, descentralizada, que pode agregar uma série de coletivos e organizações dispersas e com objetivos distintos e pontuais. Quando surgiram, pautaram-se em espantalhos teóricos promovidos pelo Ocidente de que o marxismo não havia discutido “questões de gênero e de raça”, e essas pautas em significativas proporções seriam absorvidas por um movimento autônomo e auto-organizado. É preciso reconhecer, no que concerne à população LGBT, que a esquerda revolucionária da época sustentava posições conservadoras e por vezes até violentas com essas pessoas. Os novos movimentos sociais buscam, portanto, se apresentar como alternativa política “moderna”, “democrática” e “plural”.

Percebe-se um distanciamento entre as organizações marxistas e os movimentos sociais que se constituem, pela distinção na forma organizativa, mas também por um descolamento pela própria compreensão do que cada um desses segmentos terá como central. A gênese dos movimentos sociais carrega uma negação, ou metamorfização, da discussão acerca do trabalho.

Para nós marxistas, o ser humano se humaniza (se torna coletivo, social) a partir do trabalho e da transformação da natureza, que implica também na nossa transformação individual e coletiva. O trabalho é, portanto, fundante do ser social. Já no modo de produção capitalista, o trabalho se encontra numa contradição fundamental, que é a apropriação privada (pela burguesia) da riqueza que é socialmente produzida (pela classe trabalhadora). A partir desse entendimento, temos como central o trabalho e o conflito que é produzido a partir da contradição capital-trabalho, a luta de duas classes antagônicas. E é a partir dessa centralidade que definimos os rumos da organização revolucionária, em direção à emancipação da classe trabalhadora.

Movimentos com essas novas características, que se diferenciam qualitativamente dos partidos, aparecem no mundo inteiro, inclusive no Brasil. Aqui, a fundação do grupo “Somos: Grupo de Afirmação Homossexual” (1978) marca o início do movimento LGBT organizado. Em outras pautas, também, o avanço desses movimentos no Brasil é muito expressivo no mesmo período, como por exemplo com o Movimento Negro Unificado (MNU), fundado também em 1978. Mas quando se diz que essa nova forma de movimento entra em campo, não está implícito que o partido saia de cena. Pelo contrário, a estratégia democrático-popular terá nos movimentos sociais alguns importantes agentes, como o próprio movimento LGBT. O que se dá, então, é uma combinação entre essas duas formas de organização, atrelando movimentos sociais fundamentais para a estratégia que se hegemonizou.

Se a estratégia democrático-popular se trata da forma como a classe trabalhadora se organizou desde a redemocratização, uma análise dessa estratégia ficaria incompleta se ignorasse que a classe também se organizou na estrutura de movimentos sociais. E que características foram apresentadas na concepção política e formas de luta?

Em primeiro lugar, o que salta aos olhos, a respeito da questão LGBT, é que temos, pela primeira vez na história do país, um movimento articulado, que se organiza a partir de uma pauta inédita enquanto movimento social, se nutrindo de uma tendência mundial, em que, pela primeira vez, a questão homossexual era considerada parte do jogo político e uma das frentes de opressão da sociedade capitalista. Aqui no Brasil, entretanto, a discussão chega de modo tardio, dez anos após Maio de 1968 e nove após Stonewall, em 1969.

Também há outro ponto importante. A partir de meados de 1980, com a chegada da pandemia de HIV/Aids ao Brasil e sua associação à homossexualidade, as consequências desse marco perpassam pela organização do movimento LGBT. Se num primeiro momento ele centrava esforços na resistência à ditadura, questionando o Estado burguês e seu histórico repressivo e anticivilizatório, a epidemia será uma das questões que reorientarão esse movimento. O papel da luta contra o HIV/Aids será decisivo na relação que o movimento LGBT passará a tomar, pois as duas principais organizações do momento (após um decréscimo gigantesco na quantidade de organizações do primeiro período), o Triângulo Rosa (RJ) e o Grupo Gay da Bahia (BA), começarão a se articular em torno dessa pauta e demandar ao Estado condições reais para que a população LGBT parasse de morrer. E isso se dará inclusive atrelado a outros movimentos, como o próprio movimento pela reforma sanitária, que culminará na criação do SUS em 1988.

Como consequência, para a aproximação com o Estado e a institucionalidade, sob os motivos de conquistar direitos e “trazer cidadania” à população LGBT, a estratégia democrático-popular cai como uma luva no movimento.

Se já sob o governo FHC a participação no Estado começa a ser construída, em 1995 é criada a ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos), entidade que representaria o movimento LGBT perante as organizações da sociedade civil e o Estado, demandando a este as bandeiras que achasse interessante. Com a vitória petista em 2002, as políticas e articulações LGBTs na esfera institucional são alçadas a novo patamar anteriormente desconhecido.

Como a direção da ABGLT mantinha estreita relação com o PT (assim como a CUT e a UNE, por exemplo, o que demonstrava o impacto e a influência da EDP na esquerda brasileira), uma tendência que se apresentaria seria a confusão das pautas do movimento LGBT com as próprias pautas do governo federal. O empobrecimento nos conteúdos e nas propostas da ABGLT foi acentuado, de tal modo que em dado momento houve uma intervenção direta de representantes do governo federal na II Conferência Nacional LGBT, em 2011, pautando o que deveria ser proposto ao Estado ou não, de acordo com a suposta viabilidade de se levar adiante – mas significando apenas uma castração da entidade que representava o movimento diretamente nos seus espaços deliberativos dos rumos da entidade.

Outra tendência que existia como forma de aumentar a “participação popular” nas instituições, que também perpassou por todas as áreas da vida civil, foi a criação de Conselhos. No caso do movimento LGBT, foi criado um Conselho Nacional LGBT a partir de uma demanda da ABGLT e do movimento, que confluía com um interesse do governo em alargar esses espaços. O limite dos conselhos era nítido, entretanto: a participação popular estava resumida a dar “pitaco”, fazer proposições, mas sem qualquer poder deliberativo real. Não se decidia sobre os rumos do país, tendo um caráter formal de inserção da população nas discussões políticas e mantendo as decisões à cúpula dirigente, o que incluía a burguesia e o latifúndio – peças centrais para a efetivação da EDP.

Se por um lado a relação do movimento LGBT com a estratégia democrático-popular se dava nas instituições, através da participação política acima caracterizada; por outro lado, a relação com a institucionalidade tinha como pressuposto a eleição de figuras LGBTs, inclusive porque o PT era o partido que agremiava a maior parte dessas candidaturas. Mais uma vez, a centralidade da estratégia que impregnava o movimento LGBT era a ampliação da democracia e a inserção nesses espaços.

Nos movimentos sociais, cada vez mais o indivíduo aparecia como grande sujeito político: o indivíduo que atua localmente, realizando a micropolítica, o indivíduo que se assume, se empodera e é mais transgressor do que revolucionário. Se o campo de disputa é diminuto ou institucional e o sujeito político se resume ao indivíduo (não mais à classe), o voto surge como um dos grandes momentos de participação política possível.

A relação entre o movimento LGBT e o governo que efetivou a EDP, isto é, o governo petista, nas figuras de Lula e Dilma Rousseff, se apresentava como uma relação estável e duradoura, amiga, em que as LGBTs tinham voz dentro do governo. Fora do mundo das aparências, desvelando a essência, a relação estabelecida era de submissão, em que o movimento LGBT inclusive tinha sempre à porta a possibilidade de ter seus direitos rifados em nome da estabilidade do pacto de classes – como fora com o kit Anti-Homofobia e o programa Brasil Sem Homofobia, por exemplo. As críticas mais radicais apresentadas pela ABGLT (quando existiam) ou pelo movimento LGBT descentralizado eram sistematicamente minimizadas sob o pretexto da correlação de forças ou governabilidade, afinal, as LGBTs eram mais insignificantes dentro desses governos do que o fundamentalismo religioso.

CONCLUSÃO

O movimento LGBT em particular, e a esquerda em geral, sob a estratégia democrático-popular, foram deseducados à prática da organização política e da luta radicalizada, se limitando às esferas institucionais de disputa: eleições, conselhos, demandas por direitos, “democracia real”.

Com a crise internacional do capitalismo e a necessidade de se acelerar o neoliberalismo e radicalizá-lo, a burguesia não exitou em abrir mão de seu governo “popular” e colocar um representante legítimo de seus interesses, que nem formalmente teria vínculo com a classe trabalhadora, e sepultou uma série de direitos que o PT apregoava serem eternos e representarem o triunfo de sua estratégia.

A classe trabalhadora estava desarmada para resistir aos ataques, uma vez que suas formas clássicas (sindicais, partidárias e estudantis) e novas (movimentos de bairro, moradia, anti-opressões etc), ao serem cooptadas, se educaram nas últimas décadas através de reivindicações ao Estado ou da ocupação de seus espaços institucionais, ainda que formais, e não em greves, manifestações massivas e construções cotidianas de um poder paralelo ao próprio poder estatal.

Não se trata de uma deturpação do que seria a estratégia democrático-popular, mas de sua completa efetivação. E ela representa uma derrota para a luta da classe trabalhadora brasileira, inclusive a LGBT. Uma tentativa de reinscrevê-la na história da classe trabalhadora, como sendo viável para o atual contexto do desenvolvimento capitalista, demonstra a incapacidade de autocrítica e superação de parte da esquerda. Não devemos ter medo de assumir nossos erros; aliás, o próprio PCB assumiu a falência de sua estratégia nacional-democrática, que precedeu a ditadura de 64.

É fundamental que nos reeduquemos através dos instrumentos de luta tradicionais, como a atuação sindical, partidária e estudantil, mas também incorporando todos os elementos mais avançados que são fruto dos movimentos sociais; e que nossa atuação seja pautada por uma estratégia que tenha como objetivo a Revolução Brasileira, de caráter socialista. Urge a construção de um poder popular, centrando nas mãos da população trabalhadora a capacidade para decidir sobre os rumos de seu país e de suas vidas.

Pela revolução socialista brasileira!
Pelo poder popular!
LGBT tem classe!

Coletivo LGBT Comunista – SP

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