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Diadema inaugura primeiro Ambulatório Trans do ABC

O Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo segundo dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil (Antra) e da ONG Transgender Europe (TGEU), e não possui, na maioria das vezes, atendimento acolhedor e respeitoso para essa população. Mas isso vai mudar na nossa cidade! Dia 15 de setembro, a Prefeitura de Diadema irá realizar a entrega do Ambulatório DiaTrans: primeiro Ambulatório de Saúde Integral da População de Travestis e Transexuais de Diadema e do Grande ABC.

“É com muita alegria que viabilizamos, em apenas nove meses de gestão, o Ambulatório DiaTrans de Diadema. A entrega desse serviço é um marco no que diz respeito ao atendimento humanizado e acolhedor para as pessoas trans e travestis de Diadema e vai ao encontro aos três princípios do SUS: Universalidade, Integralidade e Equidade. É esse o SUS que queremos: de qualidade, respeitoso e sem discriminação”, afirma a secretária Rejane. 

Vanessa Ribeiro Romão, coordenadora do Ambulatório DiaTrans, explica o que é o novo serviço.  “A gente costuma falar que o Ambulatório é um lugar de fala, de escuta, de acolhimento. A gente quer que aqui seja um lugar onde a pessoa venha procurar o serviço sabendo que vai ser ouvida, bem acolhida, que vai conseguir sair daqui com um direcionamento. Porque quando se fala em ambulatório trans, acham que é só um local onde o médico prescreve hormônio, mas não é só isso, a gente quer que seja um local de fala, de voz, de escuta, além do processo de hormonização. Esse é o objetivo. Tratar a pessoa na sua integralidade, no corpo, na alma, na mente. A gente quer fazer esse tipo de trabalho”.

Ambulatório DiaTrans

Localizado no 2º andar do Quarteirão da Saúde, o Ambulatório DiaTrans surge para atender uma reivindicação histórica por atenção integral à saúde da população trans e está alinhada às propostas feitas pelos trabalhadores e usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) na 11ª Conferência Municipal da Saúde, realizada na cidade no mês de agosto.

Robson de Carvalho, coordenador de Políticas de Cidadania e Diversidades, relembra que o movimento organizado LGBTQI+, em Diadema, iniciou-se a partir de 2002, e, nos últimos tempos, a principal pauta foi que a comunidade fosse respeitada e, pensou então na implantação de um ambulatório para atendimento da população trans, com foco nessa questão do acolhimento e do respeito mútuo. “A vinda do ambulatório é muito importante para ser um espaço de empoderamento, de fala, de escuta e de humanização. Durante muitos anos essa população foi esquecida, tanto na questão da saúde, do emprego e do social e o DiaTrans, que está sendo efetivo nessa gestão, poderá oferecer caminhos e diálogos. O papel do ambulatório é mesmo de fazer com que o cidadão ou a cidadã se sinta em casa. A gente quer que seja uma extensão da casa da travesti, do homem ou da mulher trans. Deixar essa questão do atender e fazer com que a gente crie vínculos de humanização e de atendimento acolhedor. Esse é o principal foco e a nossa proposta para o ambulatório trans aqui no município de Diadema”.

O serviço especializado, que já está em funcionamento desde o dia 1º de setembro, disponibiliza atendimento de saúde à travestis e transexuais (masculino e feminino), acolhimento médico e acolhimento em enfermagem, psicologia, psiquiatria e serviço social. A equipe é formada por uma vinculadora, enfermeira, psicóloga, médico infectologista e assistente social.

A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) desenvolveu um fluxo de trabalho que prevê cuidados específicos desde a chegada ao serviço, passando pelo acolhimento, consultas médicas e acompanhamento de outras categoriais profissionais, respeitando as necessidades e especificidades de cada indivíduo com o objetivo de melhorar a qualidade de vida desse usuário. E, na lógica do cuidado integral à saúde, essa população poderá ser referenciada para tratamento de outras necessidades nas demais unidades que compõem a rede municipal de saúde. Outro ponto a ser trabalhado é a questão da prevenção, em parceria com o Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA), para distribuição de preservativos, uso da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), da PEP (Profilaxia Pós-Exposição ao HIV), entre outros.

Paula da Costa Ferreira, tem 42 anos, é nordestina e escolheu Diadema para morar em 2003. Ela conta que começou a aplicar hormônios, por conta própria, em 2004. Depois disto, começou rapidamente a ver a transformação no corpo. Foi nessa época que começou a sentir a pressão da família, que evangélica, não aceitava sua escolha. “A família não aceitava, mas não me arrependo da minha transformação e nem tenho vontade de voltar atrás. O ambulatório vai ajudar as pessoas a se aceitarem. Tem gente que não se aceita, é difícil. Com 22 anos, por exemplo, tentei suicídio porque não era fácil. Cada um tem sua história, a minha é essa”.

Paula foi a segunda paciente a ser atendida no ambulatório. “Já passei pelo acolhimento, no primeiro dia de funcionamento do ambulatório, e agora vou passar pela consulta com a assistente social”, conta animada.

O serviço é uma realização da Secretaria Municipal da Saúde por meio de uma parceria com a Coordenadoria de Políticas de Cidadania e Diversidades LGBTI+ e conta com apoio do Centro de Referência e Treinamento DST/AIDS-SP que será a referência para as cirurgias e para a educação continuada permanente. 

Quem pode usar e como acessar

A princípio todos os pacientes que procurarem o equipamento serão acolhidos. Crianças e adolescentes menores de 16 anos serão encaminhados para o Projeto Sexualidade (ProSex), do Hospital das Clínicas, onde tem hebiatria e realiza o acompanhamento desse público.

Os jovens de 16 a 18 anos serão atendidos e acompanhados no Ambulatório DiaTrans nas questões de saúde mental e outras demandas, mas a hormonioterapia, por lei, só é possível acima de 18 anos. 

A Atenção Básica, por meio da UBS continua sendo a porta de entrada para acesso à toda a rede de saúde municipal, incluindo o Ambulatório DiaTrans. Assim, quando o paciente procurar a UBS poderá ser referenciado para o Ambulatório. 

“Esse paciente não vai ser exclusivo do ambulatório, porque, em determinados momentos, ele voltará para a Atenção Básica para passar por um dentista por exemplo. Vamos trabalhar em conjunto com toda a rede de saúde, seja Atenção Básica, Centro de Especialidades do Quarteirão da Saúde, Centro de Referência, Saúde Mental, entre outros”, explica Vanessa.

“Nós temos a Coordenadoria de Políticas de Cidadania e Diversidades que também será um ponto para ajudar na continuidade e incentivo em outras áreas, como escolaridade, emprego, questão familiar, entre outros elementos de uma rede de apoio”, Robson. 

Vale ressaltar que o serviço também funciona por livre demanda, sem barreiras e sem necessidade de encaminhamento. O Grupo de Entrada funciona de quarta-feira, das 13h às 19h. A princípio, o usuário que procura espontaneamente o serviço passa em acolhimento com a vinculadora e depois por uma consulta admissional com a enfermeira e coordenadora do serviço; e os demais atendimentos ocorrem de quinta-feira (das 8h às 19h) e de sexta-feira (das 13h às 19h).

A Casa 1 é uma organização localizada na região central da cidade de São Paulo e financiada coletivamente pela sociedade civil. Sua estrutura é orgânica e está em constante ampliação, sempre explorando as interseccionalidade do universo plural da diversidade. Contamos com três frentes principais: república de acolhida para jovens LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) expulsos de casa, o Galpão Casa 1 que conta com atividades culturais e educativa e a Clínica Social Casa 1, que conta com atendimentos psicoterápicos, atendimentos médicos e terapias complementares, com foco na promoção de saúde mental, em especial da comunidade LGBT.

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