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Maria Isabel Iorio: a carioca que rompe padrões e carrega o corpo feminino com ousadia e inteligência

Por Daniele Gross, voluntária da Biblioteca Caio Fernando Abreu

A poeta Maria Isabel Iorio brinca livremente com as palavras e, desse jogo entremeado por letras, surgem novos significados. É assim a partir de um texto instrucional para escapar de um incêndio, em que faz uso da rasura, adicionando sensualidade no que antes fora regra — destaque feito por Heloísa Buarque de Hollanda, no livro organizado por ela, As 29 Poetas Hoje (2021), nova compilação de 26 Poetas Hoje (1976), que trazia autores da contracultura, da chamada geração marginal.

E se em 26 Poetas… havia apenas 5 mulheres dentre todos os poetas ali elencados — entre
elas a hoje renomada Ana Cristina Cesar —, na nova edição, Hollanda nos presenteia com uma
obra de exclusiva produção de poesia feminina e feminista e que, segundo a organizadora, tem
grande influência de Ana Cristina: uma “(…) poética que, agora, passa a ser modulada por uma
nova consciência política da condição da mulher e do que essa consciência pode se desdobrar
em linguagens, temáticas e dicções poéticas”, (HOLLANDA, em As 29 Poetas Hoje, p. 18, versão
Kindle).

Assim é essa jovem carioca: intensa e provocadora, poeta, artista visual, que já em seu primeiro livro de poemas, Nuvem opaca (2012), lançado quando tinha apenas 20 anos, nascido a partir dos escritos na parede do quarto, nos mostra sua capacidade de usar as palavras dando ressignificados, como em “comecei a anotar o que eu penso / comecei a notar que eu penso”, em que a simples supressão de uma vogal ressignifica em nova ação, novo verbo; ou ainda, quando, ao retirar o artigo “o” no primeiro verso, tira do “que” um efeito de substantivo (o que eu penso, ou meus pensamentos), retomando o que à sua função tradicional de pronome.

Pequenas mudanças, grandes significados, com fortalecimento de seu lugar de luta, de reconhecimento, de identidade, de ruptura, trazendo o corpo feminino, expelido do padrão heteronormativo, apresentando o sexo entre mulheres, sem vergonha, sem pudores, tal como em estudo da tração na sutileza da diferença (As 29 Poetas Hoje).

Além dessa e outras obras coletivas, a artista carioca também escreveu Em que pensaria quando estivesse fugindo (2016), Aos outros só atiro o meu corpo (2019), Dia sim dia não fazer chantagem (2021). Formada em letras, é também cofundadora do Movimento Respeita!, coalizão de poetas; e também coorganizadora do Les/Bi/Trans/a Slam, para pessoas LBT. Para conhecer mais, acesse o portfólio da artista: https://mariaisabeliorio.myportfolio.com/

Ilustração: Gustavo Inafuku, voluntário da Biblioteca Caio F Abreu

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