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10 motivos para assistir a série brasileira “Chão de Estrelas”

Produção nacional pode ser assistida no Canal Brasil pelo Globoplay. Abaixo listo 10 motivos para ver e se apaixonar:

1. Brasil com cara de Brasil

Com o avanço do audiovisual brasileiro (bruscamente interrompido pelo atual Governo Federal diga-se de passagem), as produções locais vinham se multiplicando e muitas foram beber de fontes internacionais.

Séries como “Bom dia, Verônica” e “3%”, ambas da Netflix, passeiam por uma estética estadunidense enquanto “Desalma”, do Globoplay, vem com aquele tom sombrio europeu que ficou popular com o sucesso da alemã “Dark”, também da Netflix.

Pensando em uma estética efetivamente brasileira, o destaque das produções dos últimos anos remetiam com frequência à favelas e presídios como a antiga “Cidade dos Homens”, da Rede Globo, filhote do megasucesso “Cidade de Deus”, até as recentes “Irmandade”, da Netflix, e “Dom”, do Prime Video.

Nada disso é um problema, afinal, com apoio e financiamento, tem espaço para todo mundo e quanto mais melhor, no entanto, é delicioso assistir uma produção brasileira que tenha cara de Brasil, com suas qualidades e defeitos, belezas e feiura e este é o caso de “Chão de Estrelas”.

2. Meio spin-off, meio homenagem

A primeira vez que a trupe do Chão de Estrelas surge é no premiado e celebrado longa “Tatuagem”, de 2013. Na trama, Clécio Wanderley (Irandhir Santos) é o líder do grupo teatral que, em meio à uma luta contra a censura e o regime militar nos anos 70, se envolve com o jovem militar Fininho (Jesuita Barbosa). Já na série, o grupo de teatro é retratado nos dias atuais, mas dessa vez lidando com uma censura que opera com outras ferramentas como o capital, por meio da especulação imobiliária, a burocracia e a velha repressão policial.

As homenagens ficam por conta dos nomes do elenco original, que ganham mais destaque na série, como Sílvio Restiffe, Soia Lira e Nash Laila, além das participações especiais de Jesuíta Barbosa, Ariclenes Barroso e Rodrigo García.

3. Uma ode à memória e ao teatro

Assistir “Chão de Estrelas” em meio à uma pandemia com notícias de teatros encerrando permanentemente suas atividades pelo país e lidando com aquela vontade louca de se aglomerar em um espetáculo é um exercício, mas faz a gente lembrar do porque a luta pela cultura é algo tão vital.

Retratando uma companhia teatral resistindo à diversos ataques, a série traz cenas de um espetáculo que ao meu ver precisa ser apresentado nos palcos assim que for possível, além de diversas cenas existencialistas e contemplativas sobre a importância da memória para nossa sociedade.

As homenagens ao teatro surgem ainda da deliciosa escalação de elenco que traz os atores Giordano Castro e Mario Sérgio Cabral do celebrado grupo Magiluth (Recife), Nash Laila do icônico Teatro Oficina (São Paulo) e Paulo Andre do igualmente magistral Grupo Galpão (Belo Horizonte).

4. O brilhantismo de Hilton Lacerda

Conheci Hilton Larcerda em 2013 para uma matéria sobre o filme “Tatuagem”, na época, com 24 anos e recém chegado no jornalismo sinto que desperdicei uma daquelas poucas chances na vida de fazer uma grande entrevista. Ainda que tivesse feito uma pesquisa sobre o diretor e tivesse assistido (pela primeira de muitas vezes) o longa fiquei na superficie dos clichês com direito à pergunta “como é ser um dos expoentes do cinema pernambucano?”. Na época muito educado e doce Hilton me respondeu que existia cinema, talvez um cinema brasileiro, mas dizer que sua produção era “cinema pernambucano” era de certa forma reduzir o trabalho. Coisa de sudestino da minha parte mesmo.

Com o tempo fui entendendo o que ele disse e me apaixonando cada vez mais pelo seu trabalho, seja como diretor dos excelentes “Tatuagem” e “Fim de Festa”, seja como roteirista dos inquietantes “Piedade”, “Corpo Eletrico” e “Baixio das Bestas” e “Festa da Menina Morta”. Costumo dizer que algo que não considero tão bom do Hilton é melhor do que a maioria das coisas que considero boas.

Aqui em “Chão de Estrelas” Hilton é responsável pela criação e pela direção ao lado da Milena Times, dos bons curtas “Represa” e “Au Revour”.

5. Trilha sonora

Outra dobradinha de “Tatuagem” é o Dj Dolores, responsável por grandes trilhas nacionais como “Amor Plástico e Barulho” e “O Som ao Redor”. Na série, com mais tempo de tela, o trabalho do cantor, compositor, designer e DJ (ufa) brilha como nunca. De quebra, um dos episódios conta ainda ainda com a participação especial de Fred 04, líder da banda Mundo Livre S/A

6. Nash Laila

A fins de manutenção da credibilidade jornalística tenho que comunicar que a Nash é uma amiga queridíssima, no entanto minha paixão por ela já amplamente divulgada vem de longa data, uma década antes da gente se conhecer, mais especificamente de 2007 quando me encantei pela Jessica de “Deserto Feliz”.

Desde sua estreia nas telonas no filme de Paulo Caldas, Nash participou produções excepcionais como os longas “Amor Plástico e Barulho” e “Corpo Elétrico”, o maravilhoso curta “O Delírio é a Redenção dos Aflitos” e a mais recente série “Hit Parade” (que vai ganhar post aqui no site da Casa 1 já já).

Em “Chão de Estrelas” da vida a Telminha, uma personagem deliciosamente contraditória e levemente maldosa que te conquista já no primeiro capitulo. A Nash é daquelas atrizes que críticos dizem ser de “atuação econômica”, ou seja, uma grande profissional que não recorre à maneirismos e merece todo o reconhecimento do mundo.

7. Representatividade Trans

Muita gente pode não entender, ainda que o movimento trans seja bastante didático quando fala da importância da representatividade trans e a não existência do transfake, mas quando você assiste uma produção com uma pessoa trans trazendo questões inerentes aquele corpo é impossível não entender.

E é nesse contexto que a presença do ótimo Dante Oliver se mostra fundamental. Com pequenas tramas paralelas, a trama apresenta as vezes de forma escancarada, as vezes de forma sutil e até poética algumas situações vividas por pessoas trans. Vale conferir também o Instagram e TikTok do ator, recheado de conteúdo.

8. Atrizes arrebatadoras

Esther Goes, Soia Lira e Titina Medeiros

Com um elenco afinadíssimo é bastante difícil dizer quem se destaca, mas ao meu ver, os grandes papeis estão nas mão de grandes atrizes, todas, sem excessão estão ótimas, porém não tem como deixar de falar da convidada especial Esther Goes, elegantérrima, da Soia Lira, brilhando em cada cena, e de Titina Medeiros, odiosa. Vale lembrar também as ótimas atuações de Uiliana Lima e Lívia Falcão.

No fim, meu coração foi arrebatado pela Ana Marinho, que interpreta a hipnotizante Leninha. Eu particularmente não conhecia o trabalho dela e infelizmente não existe muitas informações online sobre a atriz que é também professora na UFPB. Não vejo a hora das coisas retomarem para pegar um avião e assistir um espetáculo protagonizado por ela.

Ana Marinho

9. Gustavo Patriota

Incrivelmente charmoso e de sorriso largo, Gustavo Patriota já tinha mostrado ao que veio no longa “Fim de Festa” ao lado do Irandhir Santos, mas é em “Chão de Estrelas” que ele brilha solto. Com uma língua afiada, seu personagem se torna ainda mais grandioso nas cenas que divide com Nash e Lívia Falcão. Correndo o risco de soar clichê, é daqueles jovens atores que vai longe.

10. Boas tramas paralelas

E como se não bastasse tudo isso “Chão de Estrelas” ainda consegue abordar uma série de outros temas importantes. Além de falar sobre arte, censura, especulação imobiliária e violência institucional, também traz de forma honesta e delicada tramas sobre saúde mental, parentalidade, racismo e fundamentalismo religioso.

Eae, te convenci? Lembrando que “Chão de Estrelas” pode ser visto no Canal Brasil do Globoplay.

Iran Giusti é formado em Relações Públicas pela FAAP, passou por agências como TVRP e Remix Social Ideias. Como jornalista atuou no Portal iG, BuzzFeed Brasil. Atualmente é repórter no Terra Nós e diretor institucional da Casa 1

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