BLOG

Com texto e direção de Rodrigo França, espetáculo Angu combate estereótipos ao contar histórias de pessoas pretas e gays

Após duas temporadas no Rio de Janeiro, peça com Alexandre Paz, João Mabial e Orlando Caldeira chega a São Paulo, no Sesc Ipiranga

Buscando subverter o olhar social fetichista que objetifica, coisifica, criminaliza e hiperssexualiza as “bixas pretas”, o espetáculo Angu, idealizado por Alexandre Paz e Nina da Costa Reis, faz sua primeira temporada em São Paulo. Com direção e dramaturgia de Rodrigo França, a peça fica em cartaz no Sesc Ipiranga entre os dias 25 de maio e 23 de junho, com sessões às sextas e aos sábados, às 20h, e, aos domingos, às 18h. No feriado do dia 30 de maio, quinta-feira, tem sessão às 18h.

Na trama, histórias de “bixas pretas” se entrelaçam, mostrando ao público que as vidas dessas pessoas não se resumem apenas às situações de violência. “Nos meus trabalhos, gosto de mostrar que existem outras realidades possíveis. Ficção e documental se misturam no trabalho, gerando empatia dos espectadores”, afirma França. O texto concorreu ao Prêmio Shell de 2024 pelo Rio de Janeiro.

Além de evocar narrativas passíveis e possíveis envolvendo negros gays, a montagem celebra e agradece ícones como Madame SatãGilberto França; o bailarino Reinaldo PepeRolando Faria Luiz Antônio (Queer Les Étoiles) e Jorge Laffond. Em cena estão Alexandre PazJoão Mabial e Orlando Caldeira.

“Estamos homenageando gente preta que foi pioneira e acabou embranquecida, abandonada ou esquecida, principalmente quando se fala na luta LGBTQIAPN+”. Rodrigo França, diretor

Sobre a encenação

“Angu é um grito. Não necessariamente de socorro, porque acima de tudo existe potência, amor, desejo e intensidade na vida. O espetáculo é um Ebó. Que saiamos do teatro limpos e reequilibrados daquilo que nos oprime, nos aliena, nos engessa de sonhar”, acrescenta o diretor.

A peça tem a missão de enaltecer esses corpos que estão lutando por sua felicidade e existência. Os espectadores acompanham um sargento da Polícia Militar que honra a sua farda, mas tem a sua sexualidade como alvo de piadas para seus colegas; um jovem estudante de enfermagem que se deslumbra com a classe média branca e deseja ser por ela incluído, porém, é somente hiperssexualizado; um sonhador que fica diariamente sentado no banco da rodoviária e se envolve numa tarde de amor em um banheiro público; um menino encantando com o que dizem do seu tio Gilberto, um homem negro gay que desapareceu no mundo para fazer a sua arte longe da família homofóbica; Madame Satã – transformista que teve que largar a arte para viver à margem como malandro da Lapa; e uma homenagem ao Les Étoiles, icônica dupla queer negra brasileira que abriu as portas da Europa para a MPB.

Todos os personagens subvertem o esperado: não haverá um homem negro performando a sua masculinidade ultra, mega viril e heteronormativa. “Muito do que vivemos no nosso cotidiano foi incorporado aos personagens, o que enriquece a montagem”, diz Alexandre.

Ao retomar as referências artísticas da negritude, o espetáculo configura-se como um resgate à ancestralidade preta e gay. “Estamos homenageando pessoas que morreram apenas por ser quem são. Gente que foi pioneira e acabou embranquecida, abandonada ou esquecida, principalmente quando se fala na luta LGBTQIAPN+, que costuma ter como protagonista o homem gay e branco”, comenta Rodrigo.

O cenário de Clebson Prates, que concorreu ao Prêmio Shell de 2024, é uma grande metáfora para tudo isso.  “Em cena está um grande armário, mas a provocação que fazemos é: quem realmente pode ficar ‘dentro do armário’? Usamos essa ideia para discutir o que é o patriarcado no aspecto cultural, econômico e filosófico. É esse pensamento que mata tudo o que foge dessa estrutura de poder”, defende França.

Já a trilha sonora assinada por Dani Nega contribui na criação de uma ambiência ritualística para o espetáculo. “Queremos que o público seja transformado pelo nosso Angu. E que celebre as bixas pretas, já que ser bixa preta tem consternado muita gente”, defende Orlando.

Sinopse
A trama conta seis histórias paralelas vivenciadas por pessoas negras gays, ou bixas pretas, buscando subverter o olhar social fetichista que as objetifica, criminaliza e hiperssexualiza.

Masculinidades Negras: ciclo de bate-papos

Dialogando com o espetáculo Angu, e fazendo parte da programação do Festival Sesc Culturas Negras, o Sesc Ipiranga realiza um ciclo de bate-papos sobre Masculinidades Negras. Organizado em quatro encontros, pessoas convidadas especialistas desenvolvem, a cada dia, discussão de um tema específico sobre Masculinidades Negras, expandindo a compreensão sobre as diversas relações étnicas/raciais, de gênero e orientação sexual, que constituem a humanidade dos homens negros em relação à sociedade.

Serviço

Angu
Data: 
25 de maio a 23 de junho, às sextas e aos sábados, às 20h, e, aos domingos, às 18h | No feriado do dia 30 de maio, quinta-feira, tem sessão às 18h
Local: Sesc Ipiranga – Rua Bom Pastor, 822 – Ipiranga – São Paulo – SP
Ingresso: R$50 (inteira), R$25 (meia-entrada) e R$15 (credencial plena)
Compre aqui: https://www.sescsp.org.br/programacao/angu/
Classificação indicativa: 14 anos
Duração: 90 minutos

Masculinidades Negras: ciclo de bate-papos

Dia 23/05 – Homens Pretos, Masculinidades e Relações Raciais, com Henrique Restier e Vinicius Zacarias

Dia 06/06 – Masculinidades Negras: uma questão de saúde, com Thiago A. S. Soares, Daniel de Souza Campos e Leonardo Peçanha

Dia 13/06 – Masculinidades Negras, Educação e Gênero, com Douglas Araújo e Mônica da Silva Francisco

Dia 20/06 – Masculinidades Negras, cultura e arte, com Douglas Iesus e Nego Lipão

Data: 23 de maio a 20 de junho, às quintas, às 20h, exceto dia 30 de maio. Grátis.

Não é preciso retirada de ingressos.
Classificação indicativa: Livre
Duração: 90 minutos

Foto de capa: divulgação/Rai do Vale

A Casa 1 é uma organização localizada na região central da cidade de São Paulo e financiada coletivamente pela sociedade civil. Sua estrutura é orgânica e está em constante ampliação, sempre explorando as interseccionalidade do universo plural da diversidade. Contamos com três frentes principais: república de acolhida para jovens LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) expulsos de casa, o Galpão Casa 1 que conta com atividades culturais e educativa e a Clínica Social Casa 1, que conta com atendimentos psicoterápicos, atendimentos médicos e terapias complementares, com foco na promoção de saúde mental, em especial da comunidade LGBT.

Notícias Relacionadas

Damas produções faz nova temporada de Senhora X, Senhorita Y em São...

Espetáculo de dança e performance ROXA explora identidade de gênero...

TRUPE EM TRÂNSITO estréia na zona leste o espetáculo de rua gratuit...

Casa 1 e Coletivo AMEM realizam Feira de Empregabilidade LGBTQIAPN+...

Com o tema “Aquilombar é Cura”, a Parada Preta 2024 aco...

Especulação imobiliária e marchinhas de carnaval temperam a comédia...

Espetáculo LGBT+ estreia gratuitamente em bibliotecas de SP

“Amor e outras Revoluções”, peça inspirada em obra de b...

BICHADOS, da Cia. Artera de Teatro, faz temporada na Oficina Cultur...

Espetáculo teatral “INVISÍVEL” estreia em São Paulo e a...

Musical sobre ativista Herbert Daniel estreia em São Paulo no Núcle...

Coletiva de teatro Rainha Kong apresenta obra sobre a trajetória da...