Virada Cultural: 20 programações LGBTQIAP+ imperdíveis

Nos dias 27 e 28 de maio, a cidade de São Paulo receberá mais de 500 atrações gratuitas em palcos espalhados pela cidade.

Com o tema “Virada do Pertencimento”, a edição acontecerá em 12 palcos espalhados nas regiões da Zona Sul (Capela do Socorro, Campo Limpo, Heliópolis, M’Boi Mirim e Parelheiros), Zona Oeste (Butantã), Zona Norte (Brasilândia e Parada Inglesa), Zona Leste (Cidade Tiradentes, Itaquera e São Miguel Paulista) e área central (Vale do Anhangabaú e entorno).

Listamos aqui, as atrações LGBTQIAP+ do evento.

CENTRO

27/05

18h| Gloria Groove | Palco Anhangabaú

18h | Hedwig – Rock, Amor e Traição | CineSesc

19h | Amazônia Pop com AÍLA | Palco Praça das Artes

21h | The Rocky Horror Picture Show | CineSesc

22h30 | Quebrada Queer | Sesc Avenida Paulista

23h30 | Priscilla – A Rainha do Deserto | CineSesc

28/5

00h | Je Treme Mon Amour + MC Pokaroupas | Palco Praça das Artes

00h30 | Josyara | Palco Anhangabaú

17h30 | Quebrada Queer | Sesc Avenida Paulista

Zona Oeste

27/5

20h | La Grupa | Centro Cultural da Diversidade

20h | Rico Dalasam | Palco Butantã

21h | Mart’nália | Palco Tendal da Lapa

22h30 | Karaokêra Querida | Sesc Pompéia

28/5

14h | Sodomita | Centro Cultural da Diversidade

15h | AnaVitória | Palco Butantã

16h | Jup do Bairro | Centro Cultural da Diversidade

Zona Sul

27/5

20h | Gabeu | Palco M’Boi Mirim

21h | Ellen Oléria canta Beyoncé | Sesc Ipiranga

28/5

14h | Jeff Moraes | Casa de Cultura Chico Science

18h | Ellen Oléria canta Beyoncé | Sesc Ipiranga

A programação completa pode ser encontrada aqui.

Foto de capa: Valdinei Souza/ divulgação

Tudo que rolou na Casa 1 em abril

Comunicar as pessoas que apoiam e financiam o projeto sobre as atividades que realizamos é um hábito que mantemos desde o início da Casa 1! 

As atividades e eventos presenciais em todos os espaços continuam, mas não vamos parar de registrar aqui nas redes o que fizemos durante o mês para atualizar todas as pessoas que acompanham e apoiam o nosso trabalho. 

Nossa equipe de pessoas contratadas segue atuando para que o público que atendemos possa receber o cuidado e o auxílio que merecem, e aproveitamos para agradecer também a dezena de voluntários, voluntárias e voluntáries, que doam seu tempo para que o projeto possa seguir existindo. Obrigada! 

Vamos às prestações de contas do mês de abril ! 

Serviço Social

500 kg de alimentos repassados para instituições parceiras e pessoas assistidas 

4 reuniões de rede com o Hotel Social Caravelas, Rebraca, UBS Nossa Senhora do Brasil e CAPS Itapeva

4000 peças de roupa distribuídas para pessoas trans e travestis nos atendimentos semanais

117 cadastros do público LGBT+ foram realizados pela equipe possibilitando o acompanhamento e atendimento contínuo pela equipe do Serviço Social.

em média 100 orientações sociais e endereçamentos para o sistema de garantia de direitos foram realizados

Clínica Social

24 atendimentos de psiquiatria 

12 atendimentos de psicoterapia  

12 atendimentos de psicoterapia com moradores e moradoras da república de acolhida

3 atendimentos de psicoterapia para público externo

Empregabilidade

15  pessoas atendidas no Plantão

Biblioteca Comunitária

729 atendimentos

803 títulos recebidos de doação (livros, DVDs, CDs e histórias em quadrinhos)

651 títulos distribuídos no Balaio Literário;

76 kits de literatura para crianças e adolescentes distribuídos;

54 empréstimos de exemplares;

113 títulos cadastrados no Sistema de Alexandria

Produção de conteúdos da equipe voluntária:

3 livros para conhecer a autora Sabina Anzuategui

Confinada – e o sequestro da população preta, pobre e periférica durante a pandemia

Programação e Educativo

Realização da Oficina de Colomba Pascal

Exibição do filme Regra 34

Realização da Oficina de Nomes no Sesc Avenida Paulista

Retificação de 13 pessoas em parceria com Starbucks

Encerramento da oficina “Transmutação Têxtil e a ressignificação do trabalho”

Encerramento do Ateliê aberto de Costura

Profissionalizante

Continuidade das aulas de Cabelo e Maquiagem

Institucional

Formação geral de voluntariado 

Preservação do Quilombo Saracura / Vai-Vai será discutida em Audiência Pública na Câmara de SP

Na segunda-feira (8/5), a partir das 19h, a Comissão de Política Urbana, Metropolitana e Meio Ambiente da Câmara Municipal de São Paulo fará uma Audiência Pública sobre a revisão do PDE (Plano Diretor Estratégico) – PL (Projeto de Lei) 127/2023, com o tema “Preservação da memória e do patrimônio do quilombo Saracura / Vai-Vai”.

O Quilombo Saracura / Vai-Vai

Descoberto em 2022 durante as escavações de uma estação da futura linha 6 – Laranja do Metrô, o sítio arqueológico Saracura está localizado no terreno onde ficava a quadra de samba da escola Vai-Vai, no Bixiga, região central. O bairro abrigou entre os séculos 19 e 20 o quilombo Saracura, um dos primeiros quilombos do município.

Sobre a revisão

Prevista na Lei do PDE (Lei nº 16.050, de 31 de julho de 2014), a revisão é obrigatória e foi encaminhada pela Prefeitura para análise e discussão da Câmara em 20 de março.

Participação e transmissão

A participação do munícipe é fundamental no processo de discussão da proposta. Além da participação presencial e do envio de manifestações e sugestões via formulário digital (clique aqui), é possível contribuir com o debate inscrevendo-se para participar por videoconferência. Veja quais são os procedimentos aqui. Esta última modalidade é válida somente para audiências que forem realizadas na sede do Legislativo paulistano.

A audiência será transmitida, ao vivo, por meio do Portal da Câmara (link do Salão Nobre, disponível na página Auditórios Online) e pelo canal Câmara São Paulo no YouTube. Outra opção é acompanhar pelo canal 8.3 da TV aberta digital (TV Câmara São Paulo).

Transporte gratuito

Confira aqui como utilizar o serviço de transporte gratuito para participar presencialmente desta audiência.

Serviço:
Audiência Pública temática – Preservação da memória e do patrimônio do quilombo Saracura / Vai-Vai
Data: 8/5
Horário: 19h
Local: Salão Nobre – Câmara Municipal de São Paulo
Transmissão: Salão Nobre, redes sociais da CMSP, e canal 8.3 da TV aberta digital
Informações: www.saopaulo.sp.leg.br/revisaopde

Foto de capa: Brasil de Fato

Tibira do Maranhão, primeira vítima de LGBTfobia registrada no território brasileiro, pode virar Herói da Pátria

Em 1614, um indígena tupinambá foi executado pela Igreja Católica em missão no Brasil.

Conhecido como Tibira do Maranhão (“Tibira” é o termo tupi utilizado para nomear identidades que não cabem na norma cis-heteronormativa), o indígena teve sua cintura amarrada na boca de um canhão no Forte de São Luís e, quando os executores lançaram fogo, metade do corpo de Tibira caiu em terra e outra metade foi em direção ao mar. O relato do crime violento e desumanizador foi detalhado no livro do missionário francês Yves d’Évreux “Viagem ao Norte do Brasil feita nos anos de 1613 e 1614“.

Em 2020, Juão Nyn, multiartista lançou e resgatou a história no livro “TYBYRA: Uma Tragédia Indígena Brasileira“, peça teatral que contextualiza o acontecido e traz outras reflexões acerca da resistência indígena no país nos dias atuais.

Assista a aula aberta de Juão Nyn para a Casa 1

A história também foi contada pelo sociólogo e antrópolo Luiz Mott, professor da Universidade Federal da Bahia e fundador da ONG Grupo Gay da Bahia no livreto “São Tibira do Maranhão”.

Em homenagem à Tibira o governo do Maranhão inaugurou uma placa na Praça Marcílio Dias, São Luís.

A trágica e violenta morte de Tibira foi usada para que a moralidade e os padrões dos colonizadores fossem impostas aos povos originários. Relembrar essa história é também estar sempre ciente do apagamento e a punição à diferentes orientações afetivas-sexuais e identidades como uma herança perversa da colonização.

Célia Xakriabá e Erika Hilton registram PL para que Tiriba seja considerado Herói da Pátria

Hoje, 19 de abril, comemorado o Dia dos Povos Indígenas, as deputadas Célia Xakriabá e Erika Hilton protocolaram um projeto de lei para incluir Tibira no livro de Heróis da Pátria.

“Hoje, então, se faz necessário de reconhecer o heroísmo de Tibira do Maranhão, ao ousar ser quem se era e por defender seu território, incluindo seu nome no livro dos heróis nacionais brasileiros”, escreveram nas redes sociais.

Para coletivos indígenas e LGBTQIAP+, a proposta é um marco que reconhece a existência e a luta dos povos indígenas desde a colonização.

O livro Heróis e Heroínas da Pátria também é conhecido como Livro de Aço e fica em Brasília no Panteão da Pátria e da Liberdade.

Arte de capa: Miguel Galindo

Tudo que rolou na Casa 1 em março

Comunicar as pessoas que apoiam e financiam o projeto sobre as atividades que realizamos é um hábito que mantemos desde o início da Casa 1! 

As atividades e eventos presenciais em todos os espaços continuam, mas não vamos parar de registrar aqui nas redes o que fizemos durante o mês para atualizar todas as pessoas que acompanham e apoiam o nosso trabalho. 

Nossa equipe de pessoas contratadas segue atuando para que o público que atendemos possa receber o cuidado e o auxílio que merecem, e aproveitamos para agradecer também a dezena de voluntários, voluntárias e voluntáries, que doam seu tempo para que o projeto possa seguir existindo. Obrigada! 

Vamos às prestações de contas do mês de março ! 

Serviço Social

400 kg de alimentos repassados para instituições parceiras e pessoas assistidas 

6 reuniões de rede com a UBS Humaitá, PROMUD (Programa da Mulher Dependente Química), Casarão Brasil, Casa Miga e Centro de Convivência Bela Vista

4000 peças de roupa distribuídas para pessoas trans e travestis nos atendimentos semanais

em média 100 orientações sociais e endereçamentos para o sistema de garantia de direitos foram realizados

Clínica Social

38 atendimentos de psiquiatria 

Empregabilidade

11 pessoas atendidas no Plantão

4ª Feira de Empregabilidade Trans e Travesti 

Biblioteca Comunitária

1033 atendimentos

623 títulos recebidos de doação (livros, DVDs, CDs e histórias em quadrinhos)

464 títulos distribuídos no Balaio Literário

172 kits de literatura para crianças e adolescentes distribuídos

66 empréstimos de exemplares

Reunião LiteraSampa para discussão sobre gestão coletiva

1860 títulos já estão cadastrados no Sistema de Alexandria

Produção de conteúdos da equipe voluntária:

Natalia Borges Polesso: uma conversa fluida sobre sexualidade, família, acolhimento, representatividade e políticas públicas

‘Controle’: uma reflexão sobre o medo de se encontrar e o amor entre duas mulheres

TORNA-TE O QUE TU ÉS: convite à leitura de Leticia Lanz

Programação e Educativo

Continuidade do Ateliê Aberto de Costura

Continuidade das aulas de Yoga no Galpão

Processo seletivo para Oficina de Transmutação Têxtil

Processo seletivo para Oficinas de Páscoa

Oficina de Páscoa de biscoitos

Profissionalizante

Início dos cursos de maquiagem e cabelo

Institucional

Formação geral de voluntariado 

Casa1 e Sesc Avenida Paulista realizam “Oficina de Nomes”

Por meio de material impresso interativo, o público investigará temas relacionados às identidades e nomes, seu impacto no cotidiano e provocações sobre a realidade de pessoas trans e a questão da mudança no registro de seus nomes.

Além de oficinas abertas e um guichê de atendimento com o Poupa Trans para orientar pessoas que desejam fazer a retificação de nome e gênero a programação também conta com a presença de Renata Carvalho para uma conversa sobre o mito do corpo neutro do artistas e os corpos marcados na arte.

A conversa com Renata Carvalho visa trazer questões sobre saúde mental e empoderamento dos corpos dissidentes, identificando os marcadores individuais e coletivos, ampliando a consciência de possuí-los e, com isso, despertar o autoconhecimento, a autoestima, o cuidado, a importância do trabalho coletivo, o coexistir, as trocas de experiências e alianças.

Propondo um partilhamento interseccional sobre representatividade, as construções sociais, o imagético social do senso comum, estereótipos, arquétipos, narrativas viciadas e recreativas nas artes e partindo da subjetividade e vivência de cada corpo, a artista convida o público para dialogar /trocar/ experimentar com outros corpos que escapam da norma.

O corpo é instalação e obra, de abjeto à sujeito. A descoberta da interseccionalidade desses corpos, as narrativas que os aproximam e os afastam. Que corpos estão sempre em um não lugar? O não pertencer.

Renata Carvalho é atriz, diretora, dramaturga e transpóloga. É graduanda em Ciências Sociais e fundadora do Monart (Movimento Nacional de Artistas Trans) e do “Manifesto Representatividade Trans”. Como transpóloga (uma antropóloga trans), estuda o corpo travesti/trans desde 2007, quando torna-se agente de prevenção voluntária em ISTs, HIV/AIDS, tuberculose e hepatites pela secretária municipal de saúde de Santos, trabalhando especificamente com travestis e transexuais na prostituição.

Conversa com Renata Carvalho:

14/4, das 19h às 21h30
Aberto

Guichê de atendimento Poupa Trans
13/4 a 30/4
Aberto

Oficinas abertas:

Escrita criativa/Zine, com Gil Porto Pyrata
16/4, das 14h30 às 17h30
Espaço para exercício da escrita de maneira criativa, voltada para a produção de uma zine caseira coletiva. A oficina busca explorar as potências narrativas desse formato e provocar interações e construção de um material coletivo ao final da atividade.

Quadrinhos, com Ivo Puiupo e Nicholas Steinmetz
21/4, das 14h30 às 17h30
Nesta atividade o público utilizará métodos de experimentação para explorar as possibilidades gráficas e narrativas nos quadrinhos. Alunos produzirão material próprio durante o encontro e não é necessário que tenham experiência prévia com quadrinhos ou desenhos.

Ilustração, com Lune Carvalho
23/4, das 14h30 às 17h30
Por meio do desenho e da pintura, a proposta é desenvolver ferramentas de auto expressão através da criatividade e desenho, com exercícios práticos que estimulam a criação de elementos através de manchas, utilizando a imaginação.

Bordado, com Levy
30/4, das 14h30 às 17h30
Serão ensinados pontos básicos para bordado com linha: ponto atrás, ponto cheio, ponto corrente e nó francês. A partir dos pontos, serão criadas peças nos bastidores para objetos de decoração.

Gil Porto Pyrata trabalha como zineire, artista sonoro e performer, usando como instrumento a palavra, a poesia e a escrita. Como pessoa trans não binária, traz a pesquisa de uma escrita a partir do corpo para construção de narrativas contra hegemônicas.

Ivo Puiupo começou sua carreira nos quadrinhos em 2011. Sua obra habita as fronteiras da narrativa sequencial desenhada-escrita e suas interseções com a pintura, a fotografia, a produção de ateliê e por vezes torna-se também contra-sequencial.

Nicholas Steinmetz é formado em Design Gráfico pela PUCPR. Sua trajetória como artista se iniciou no mundo dos quadrinhos e das publicações independentes (zines) em 2018.

Lune Carvalho é ilustrador, trans masculino e bissexual. Pai de dois doguinhos, ama jogos e cultura nerd.

Levy é artista têxtil. Trabalha com costura, criando peças e dando aulas. Atualmente trabalha ministrando aulas de costura na Casa1 e em outros espaços. Ama gatos e pode dizer que seu hobby é deixar linhas de costura
por qualquer lugar que passa.

Acesso à saúde de pessoas LGBT+ com mais de 50 anos é o pior do Brasil

De acordo com um estudo realizado por pesquisadores do Hospital Albert Einstein, da Faculdade de Medicina da USP e Universidade de São Caetano do Sul, pessoas LGBT+ com mais de 50 anos têm o pior acesso ao sistema de saúde, público e privado, no Brasil. 

A pesquisa “Transformando o invisível em visível: disparidades no acesso à saúde em idosos LGBTs” mostrou que a pior pontuação de acesso à saúde é da população LGBT+ e negra: 41%. Pessoas LGBTs brancas ficaram com 29%. Entre as pessoas cishéteros brancas, apenas 17% das pessoas avaliaram como ruim seu acesso à saúde contra 28% da população cishétero negra. 

“Em uma sociedade capacitista que entende o envelhecimento como declínio, perda e incapacidade, pessoas LGBTQIAPN+ envelhecidas experimentam uma dupla invisibilidade: tanto pela marginalização e desvalorização das(os) idosas(os) quanto pela LGBTfobia, o que aumenta muito suas vulnerabilidades, inclusive em relação à saúde. Por muito tempo e ainda hoje pessoas LGBTQIAPN+ são expulsas de casa ou cortam vínculos com suas famílias biológicas e constroem laços até profundos com “famílias de escolha”, mas a solidão e o isolamento social ainda são frequentes nos estágios avançados das vidas dessas pessoas”, explica Adriel Santana, médico voluntário da Casa 1. 

Mais de 6 mil pessoas foram entrevistadas e 1.332 se identificaram como LGBT+. A produção de dados é importante para conhecer a realidade desse público, mas não deve ser a única ferramenta no combate a desigualdade.

“Entender quais são as necessidades de saúde de pessoas LGBTQIAPN+ ao longo da vida é fundamental para a elaboração de serviços de saúde efetivos, mas estamos muito longe disso. Existem estudos que mostraram taxas maiores de depressão, obesidade, sedentarismo, suicídio e uso de álcool e substâncias psicoativas, entre outros agravos de saúde, na população LGBTQIAPN+. O acesso à saúde também precário pode contribuir para um controle pior de doenças crônicas como diabetes ou hipertensão. O rastreio de câncer de colo de útero é por vezes negligenciado em mulheres lésbicas e homens trans. Mulheres trans não são ativamente rastreadas para câncer de mama ou de próstata. No entanto, as respostas para esse cenário precisam ir além das ciências da saúde e também envolver mudanças institucionais e sociais”, continua Adriel. 

No Brasil, os grupos minoritários, incluindo a comunidade LGBT+, expressam baixos índices de confiança na prestação de serviços de saúde, quadro motivado especialmente por experiências negativas no passado. 

“Que vontade você teria de ir numa consulta sabendo que o nome que estará na sua ficha não é o seu e que o gênero ainda vai constar como o gênero designado no nascimento? Que sua identidade de gênero ou será tratada como irrelevante (e silenciada ou não abordada) ou como único “problema de saúde” que você tem? Por exemplo: uma senhora cis hetero procura um pronto socorro porque está com diarreia, mas o receio de ser julgada, constrangida e diminuída a leva a não contar à(ao) médica(o) plantonista que vive com HIV; a(o) plantonista não pensa em causas de diarreia que podem acometer pessoas que vivem com HIV, não cogita efeito colateral das medicações, prescreve uma medicação inapropriada e assim por diante. Toda essa LGBTfobia institucional leva a atendimentos de péssima qualidade e com efeitos desastrosos na saúde das pessoas”.

Para o médico, grupos e profissionais voltados para a saúde de pessoas não-cis e não-héteros se constroem a partir de esforços individuais. “A medicina, como aparato de biopoder, é cis-heteronormativa. A gerontologia, que é o estudo do envelhecimento em aspectos biológicos, psicológicos, sociais e outros, persiste há tempos na superação do mito da velhice assexual, mas profissionais médicos ao atenderem uma pessoa idosa ainda pressupõem que ela(e)(u) é hetero, que não transa mais, que não tem risco de pegar IST, que não tem mais desejos e nem demandas de saúde sexual. Acredito que as presunções de assexualidade, de cisgeneridade e de heterossexualidade são as principais fontes de estigma no atendimento de saúde de pessoas LGBTQIAPN+ envelhecidas”.

“A formação de profissionais de saúde precisa urgentemente abranger especificidades da saúde de pessoas LGBTQIAPN+. Os gestores dos serviços de saúde precisam entender que a LGBTfobia institucional (desde as aparentemente inofensivas às mais violentas) adoece e mata pessoas. Por fim, é preciso superar a ideia de que pessoas idosas não tem (ou não podem ou não devem ter) vida sexual, para além de visões capacitistas e cis-heteronormativas”, completa Adriel. 

Foto de capa: reprodução