Leci Brandão tem vida e obra celebrada em musical no Rio de Janeiro

Nome incontornável da música brasileira, compositora e intérprete de mão cheia, Leci Brandão é uma mulher à frente do seu tempo, pioneira em tudo o que tem feito em quase meio século de carreira.

Primeira mulher a integrar a Ala de Compositores da Mangueira, e segunda mulher negra a ser eleita para a Assembleia Legislativa de São Paulo, Leci assumiu a homossexualidade publicamente no fim dos anos 70, em entrevista ao jornal Lampião da Esquina, e, alguns anos depois, rompeu com a gravadora multinacional por não aceitar abrandar as letras contestadoras. É autora de sucessos atemporais como Papai vadiouIsso é fundo de quintalEssa tal criaturaOmbro amigo e Zé do Caroço, este último regravado por artistas tão diversos como Seu Jorge, Anitta, Mariana Aydar, Grupo Revelação e a banda de rock Canto Cego. Para reverenciar a vida e a obra de Leci Brandão, o diretor Luiz Antonio Pilar leva ao palco do Sesc Copacabana, a partir de em 12 de janeiro, o musical Leci Brandão – Na Palma da Mão, com texto do jornalista e escritor Leonardo Bruno. O espetáculo foi contemplado no edital FOCA 2021 – na linha de teatro, no Programa de Fomento à Cultura Carioca.

Tay O’Hanna e Verônica Bonfim interpretam Leci Brandão e sua mãe, D. Lecy, respectivamente, e Sérgio Kauffmann representa personagens masculinos presentes na vida da cantora, como o líder comunitário Zé do Caroço, inspiração de uma de suas músicas mais famosas.

A narrativa é construída a partir da relação entre mãe e filha, muito forte até a morte de D. Lecy, aos 96 anos, em 2019. “O espetáculo é contado sob o ponto de vista da mãe, referência maior na vida de Leci. São reminiscências dela. No espetáculo, às vezes a mãe canta canções significativas do repertório da Leci para a Leci. Em Das coisas que mamãe me ensinou, fizemos uma alteração na letra ‘tudo isso é resultado das coisas que sua avó (ao invés de mamãe) me ensinou’: a avó da Leci ensina pra mãe, que ensina pra Leci e Leci deixa seu legado. A ideia foi construir um espetáculo cujo arcabouço mostrasse toda a tradição familiar e religiosa, o respeito e a educação de uma família preta, que a Leci traz”, resume o diretor Luiz Antonio Pilar.

O texto de Leonardo Bruno marca sua estreia no universo teatral: “Para a pesquisa que eu havia feito para o livro Canto de Rainhas (Agir, 2021) já me chamava a atenção como ela era muito avançada para a época. Os cinco primeiros discos, lançados na segunda metade dos anos 70, falam de coisas que estamos discutindo agora – mulheres, negros, LGBT, desigualdade social e por aí vai. E ainda foi corajosa ao romper com a gravadora que queria lhe impor repertório. As letras dizem muito sobre quem ela é, falam da sua história de vida, facilitou muito na hora de escrever”, conta. Para a montagem do espetáculo, o texto original ganhou adaptação dramatúrgica feita a seis mãos pelo diretor Luiz Antonio Pilar, a assistente de direção Lorena Lima e a diretora de movimento Luiza Loroza.

A simbologia do Candomblé, muito presente na vida da artista, é um dos fios condutores da dramaturgia. Filha de Ogum e Iansã na religião africana, Leci passou cinco anos sem gravar desde que se afastou da Polygram, por não aceitar reescrever suas letras. Em uma consulta às entidades no terreiro, ouve que tudo ficará bem. Ela assina com uma gravadora nacional, grava um disco com seu nome e estoura. Em agradecimento, todos os seus discos a partir de então tem uma saudação a um Orixá. “O espetáculo está estruturado dessa forma. A primeira saudação é para Exu, para abrir os caminhos. A todo momento esses Orixás vêm e assim vamos alicerçando a cena”, explica o diretor.

Grande parte dos 17 números musicais do espetáculo são composições de Leci Brandão, como A filha da Dona LecyOmbro amigoGente negra Preferência. Outras, como Corra e olhe o céu, de Cartola, e o samba-enredo da Mangueira História pra ninar gente grande, campeão de 2019, são significativas na trajetória da artista. Além do trio de atores, que também canta, estão no palco quatro músicos que tocam ao vivo – Matheus Camará (violão e clarinete), Thainara Castro Lucas Badeco (percussão) e Rodrigo Pirikit(violão, cavaquinho e agogô). “Eu trouxe para fazer a direção musical o Arifan Junior. É uma figura onipresente nas rodas de samba da cidade e tem feito com o Awurê um resgate muito importante dos sambas religiosos, de reafricanizar o samba, mas também para dar um caráter mais orgânico e verdadeiro à parte musical, trazendo o clima de uma roda de samba real, com menos rigor e apuro, como em geral é visto nos musicais”, define Pilar.

O espetáculo não tem uma linha cronológica e faz algumas licenças poéticas, como a troca da música Cadê Marisa?, com a qual Leci ganhou um festival ainda bem jovem, por Papai Vadiou. “Minha intenção maior foi sempre integrar a música, o figurino e o cenário numa coisa só, uma concepção global, em que tudo se relaciona”, conta o diretor. Dentro desse conceito, a cenógrafa Lorena Lima, homônima da assistente de direção, detalha a ambientação cênica: “A árvore, de 2,50m, rodeada por pedras, é o destaque do cenário, que será um grande quintal, um terreiro em tons terrosos e verde, com o chão todo coberto de folhas secas de mangueira”. Dessas folhas, surgem peças do figurino criados por Rute Alves, que serão usados pelos atores, que não saem de cena durante o espetáculo.

Leci Brandão estendeu sua luta política para o plenário e, já radicada em São Paulo, filiou-se ao PCdoB e foi eleita deputada estadual em 2010 com 86.298 votos. Atualmente em seu quarto mandato, recebeu 90.496 votos em 2022. Aos 78 anos, segue ativa na música e na vida parlamentar, conclamando o povo para levar na palma da mão a luta pelas causas de todos os marginalizados.

Leia mais: LECI BRANDÃO NA ENCICLOPÉDIA SAPATÃO

SERVIÇO:

Quando: de 12 de janeiro a 12 de fevereiro de 2023

Onde: SESC Copacabana – Mezanino

Acesse o perfil do Sesc Copacabana para saber mais

Protagonismo feminino e negro no elenco de “Elas Brilham – Vozes que Iluminam e Transformam o Mundo”

Em cena, atrizes do teatro musical brasileiro cantam do soul de Aretha Franklin ao rock de Tina Turner, das composições autorais de Dona Ivone Lara à voz eterna de Whitney Houston. Esse é ELAS BRILHAM – VOZES QUE ILUMINAM E TRANSFORMAM O MUNDO – DOC.MUSICAL, em cartaz no Teatro Claro SP.

No elenco estão nomes como Diva Menner, primeira mulher trans a participar do The voice Brasil; Ester Freitas, mulher negra, cantora e atriz; Débora Pinheiro, mulher negra, campeã do Canta Comigo, da Record e Ludmillah Anjos, mulher negra, atriz e cantora. O espetáculo foi criado para dar voz e contar as histórias de mulheres que quebraram preconceitos, venceram o machismo e abriram as portas para o futuro da humanidade.

SERVIÇO

ELAS BRILHAM – VOZES QUE ILUMINAM E TRANSFORMAM O MUNDO – DOC.MUSICAL

CLASSIFICAÇÃO: LIVRE

DURAÇÃO: 100 MINUTOS

LOCAL: TEATRO CLARO – SÃO PAULO

ENDEREÇO: SHOPPING VILA OLÍMPIA – R. OLIMPÍADAS, 360 – 5° ANDAR – VILA OLÍMPIA, SÃO PAULO – SP

CAPACIDADE: 799 PESSOAS 

ACESSIBILIDADE

AR-CONDICIONADO

HORÁRIOS 

  • SEXTA-FEIRA ÀS 21H00
  • SÁBADO ÀS 18H00 E 21H00
  • DOMINGO ÀS 18H00

INGRESSOS  

PÚBLICO EM GERAL: R$37,50 A R$ 220,00

CLIENTES BRASILPREV: R$37,50 A R$110,00

Mais informações: www.teatroclarosp.com.br

Erica Malunguinho anuncia que não irá concorrer a deputada federal em 2022

Idealizadora do centro cultural e quilombo urbano Aparelha Luzia, intelectual, artista e deputada estadual pelo PSOL, Erica Malunguinho anunciou, em entrevista ao veículo Alma Preta, que não é mais candidata a deputada federal e reafirmou a manutenção da disputa política cotidiana.

“As pessoas não conseguem entender, porque elas sempre olham para a política como um lugar muito distante. Para mim, a política está no cotidiano”, disse a ativista.

Eleita deputada estadual em 2018, com mais de 54 mil votos, ela realizou na Aparelha Luzia, em março deste ano, a atividade de lançamento da pré-candidatura. Mesmo com as limitações impostas pela pandemia da Covid-19, a deputada tem uma avaliação positiva da sua atuação na ALESP.

“É importante demarcar isso para falar sobre conquistas em um cenário mais inóspito para além da política institucional. Então, fomos para refazer Palmares mesmo, atravessar a mata fechada, sair da casa grande, buscar o lugar mais difícil para os inimigos chegarem e construir uma nação”. 

O gabinete Mandata Quilombo, formado em sua totalidade por pessoas negras, principalmente mulheres trans e cis, aprovou e barrou projetos importante para grupos sociais marginalizados, especialmente pessoas LGBTQIA+ e pessoas em vulnerabilidade.

Leia a entrevista completa no site Alma Preta.

Foto de capa: Vinícius Martins / Alma Preta Jornalismo

Negros e pobres estão mais expostos a riscos ambientais em capitais, mostra estudo

Um estudo feito pelo Instituto Pólis nas cidades de São Paulo, Recife e Belém mostra que pessoas negras e de baixa renda são os grupos populacionais mais impactados por tragédias ambientais, como inundações e deslizamentos de terra. Entre os dois segmentos, famílias chefiadas por mulheres são as mais afetadas.

O levantamento, segundo o instituto, evidencia a manutenção do racismo ambiental, conceito que versa sobre a exposição de determinados grupos a ambientes insalubres e com pouca infraestrutura.

No Recife, por exemplo, o estudo identificou 677 áreas com risco de deslizamento, a maior parte delas concentrada em regiões de mangue e em bairros como Afogados, Jardim São Paulo, Iburas e Areias.
Nesses locais, a proporção de pessoas negras é de 68%, enquanto a taxa de domicílios chefiados por mulheres de baixa renda gira em torno de 27%.

A presença majoritariamente preta se repete em áreas com risco de inundação da capital pernambucana, onde o índice chega a 59%. Residências chefiadas por mulheres que ganham até um salário mínimo representam 22,1% dos imóveis em regiões suscetíveis a alagamentos.

Em Belém, por sua vez, uma em cada cinco moradias em áreas de risco de inundação ou de erosão causada pela água é comandada por mulheres de baixa renda.

O estudo ainda mostra que, na capital paraense, as 125 áreas sob risco de uma tragédia ambiental não coincidem com os bairros de maior poder aquisitivo da cidade, em que a proporção da população branca também é maior.

“É preciso direcionar as atenções e as ações para esses grupos. São os mais afetados pelos desastres ambientais agravados pelas mudanças climáticas e que vivem cotidianamente com a falta de serviços básicos e em situações de risco”, diz o estudo do Pólis, que também faz um alerta para a prevalência de doenças oriundas de serviços precários de fornecimento de água e de saneamento.

Segundo dados compilados pelo levantamento, a população negra de Belém e do Recife é a mais acometida por doenças transmitidas por meio da água, representando 66% e 64% dos casos, respectivamente.

Das hospitalizações ocorridas nas duas cidades no ano passado em função do agravamento dessas enfermidades, 51% das pessoas internadas em Belém e 53% das pessoas que ocuparam leitos no Recife eram pretas ou pardas.

“O estudo mostra que os impactos ambientais nas cidades são socialmente produzidos. Não são apenas fruto de eventualidades climáticas, mas, sim, resultado da negligência do poder público”, afirma a pesquisadora do Instituto Pólis Ana Sanches. “Esse desequilíbrio é, em parte, a expressão da injustiça socioambiental e do racismo ambiental nas cidades”, continua.

Os padrões vistos em Belém e Recife também se repetem na maior cidade do país, São Paulo -a proporção de pessoas negras em áreas com risco de deslizamento é de 55%. Essas regiões estão concentradas nas zonas norte e sul e em diversas áreas mais empobrecidas da zona leste e no extremo oeste da capital paulista.

Distribuição de recursos de forma desigual, falta de planejamento urbano e ausência de políticas públicas para sanar esses problemas seriam algumas das negligências sistêmicas do poder público nas três capitais, segundo o estudo.

“O racismo ambiental fica evidente quando as consequências das degradações ambientais se concentram em bairros e territórios periféricos, onde vivem famílias mais pobres e onde há maior concentração de pessoas negras, indígenas e quilombolas”, diz o Instituto Pólis.

POR MÔNICA BERGAMO
SÃO PAULO,SP

Foto de capa: Fotos Públicas

9 curtas produzidos por mulheres negras para assistir de graça

O SescTV apresenta a coletânea de curtas Mulheres Negras no Audiovisual, na programação +Curtas. As nove obras são produções recentes realizados por mulheres negras, com curadoria de Renata Martins.

A mostra faz parte da série “13 aos 20 (Re) Existência do Povo Negro”, em referência aos marcos de 13 de maio e 20 de novembro, dia da assinatura da Lei Áurea e dia da Consciência Negra respectivamente, e tem como objetivo reconhecer e fortalecer a luta das pessoas negras.

Os filmes estão disponíveis online na plataforma do SescTv

Sample

15min

Clássica história de amor na qual uma jovem encontra um jovem, com a exceção de que eles são negros e vivem numa cidade cheia de memórias embranquecidas.

Direção: Ana Julia Travia

Brasil, 2018

Classificação indicativa: 10 anos

Vó, a senhora é lésbica?

17min

Baseado no conto homônimo de Natalia Borges Polesso. Joana é uma jovem universitária que convive com o processo de encontro com a própria sexualidade. Em um almoço na casa de sua avó, Clarissa, seu primo coloca a pergunta que dá título ao filme.

Direção: Bruna Fonseca e Larissa Lima

Brasil, 2018

Classificação indicativa: 12 anos

A mulher que eu era

11min

Cacau é uma mulher casada. Dentro sua rotina, ela encara suas lembranças e, em um contexto onírico, as memórias lidam com momentos passados de opressão.

Direção: Karen Suzane

Brasil, 2018

Classificação indicativa: 12 anos 

Tia Ciata

26min

O curta-metragem documental narra a história de Hilária Batista de Almeida, a Tia Ciata, a partir da perspectiva da visibilidade da mulher negra na sociedade brasileira.

Direção: Mariana Campos e Raquel Beatriz

Brasil, 2017

Classificação indicativa: 10 anos

Cinzas

15min

Adaptado do conto homônimo do escritor Davi Nunes, traz a história de um universitário em Salvador (BA), que convive com as dificuldades típicas das grandes cidades: ônibus lotado, polícia e solidão.

Direção: Larissa Fulana de Tal

Brasil, 2015

Classificação indicativa: Livre

Rainha

30min

Rita finalmente realiza o sonho de se tornar a rainha de bateria da escola de samba de sua comunidade; porém ela terá que lutar contra forças obscuras, internas e externas.

Direção: Sabrina Fidalgo

Brasil, 2016

Classificação indicativa: 12 anos

Corações encouraçados

15min

A animação conta a história do casal sertanejo Ana e João e a influência da estiagem em suas vidas para falar sobre busca, perda, saudade e desespero, mas também sobre esperança.

Direção: Jamile Coelho e Cintia Maria

Brasil, 2019

Classificação indicativa: 10 anos

Barco de Papel

14min

O curta apresenta um olhar inocente e ao mesmo tempo desgastado de Peninha, garoto de 9 anos, que para se safar de todas as adversidades da infeliz realidade se transporta para um mundo de sonhos.

Direção: Thais Scabio

Brasil, 2018

Classificação indicativa: Livre

Carne

11min

Um jovem casal tem uma intensa e acalorada discussão na piscina. Quando um deles entra na casa, o outro é surpreendido por Àmân.

Direção: Mariana Jaspe

Brasil, 2018

Classificação indicativa: 16 anos

Serviço

+CURTA: Mulheres Negras no Audiovisual

Quando: até o dia 20 de novembro
Onde: no site SescTv
Quanto: gratuito

Foto de capa: A Mulher que eu era/ Divulgação

Marcha das Mulheres Negras volta às ruas em SP e cobra mais representatividade na política

Manifestação que marca o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha reuniu movimento negro, feminista e LGBT+ na República, centro da capital paulista, na noite desta segunda (25)