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Conheça o Clube do Livro “Pomar”, o clube de leitura da Biblioteca Caio Fernando Abreu

Por Tamara Cleveland, voluntária da Biblioteca Caio Fernando Abreu

Em bibliotecas, a mediação de leitura é uma prática essencial para fomentar o interesse de novos leitores. A biblioteca comunitária da Casa 1 inaugura em abril seu primeiro clube do livro, com o intuito de aproximar os frequentadores do espaço para acessar e refletir sobre as obras representativas do acervo.

O nome “Pomar”, escolhido por meio de votação no grupo de mensagens dos voluntários da biblioteca, traz a ideia de que todos somos sementes destinadas a florescer novos saberes. A idealizadora do projeto, Aline Lima, explica que além da divulgação de obras brasileiras, o clube é um espaço de construção de memória, que inclui livros antigos e obras atuais famosas da cultura pop, para comparar como se falava e como se fala hoje sobre vidas LGBTQIAPN+.

“A gente tem um pouco dessa falta de memória, principalmente sobre o movimento brasileiro. Muito se fala de Stonewall* e desses grandes eventos que aconteceram, mas pouco se fala do que aconteceu aqui no Brasil e das publicações [LGBTs]”, diz Aline Lima

Para Aline, a mediação de leitura pode trazer um melhor aproveitamento da obra. No clube, os participantes também serão orientados sobre no que prestar atenção em determinada obra. Dessa forma, não será somente depois, ao ler uma crítica ou análise, que os leitores farão reflexões sobre pontos específicos, mas sim que ela possa acontecer no momento da leitura sem passar despercebida.

COMO FUNCIONA O CLUBE?

Inicialmente, serão realizados dois encontros por mês. A data do primeiro encontro será divulgada nas redes da Casa 1, juntamente com um chamado para doação do livro escolhido. Os exemplares doados até a data do evento serão distribuídos entre os participantes do clube. A biblioteca mantém em seu acervo, no máximo, dois exemplares de um título.

A primeira edição do clube teve o primeiro encontro no dia 03 de abril. Aline e o mediador Alexandre Cruz conversaram com os participantes dentro de um modelo de roda pensado por Aline, com o intuito de tornar o clube também um lugar de troca. Para isso, duas dinâmicas foram incorporadas no início e no final para gerar integração entre os participantes. O que pode não parecer atrativo trouxe, na verdade, grande interação e acolhimento para os presentes. Aline afirma que o modelo, ainda em construção, será seguido em todos os encontros do clube. Com duração de 1h30, além das duas dinâmicas, Aline explica o cronograma de leitura a ser seguido, enquanto Alexandre, formado em Letras, faz um apanhado da obra e da vida do autor escolhido. Os dois explicam o motivo da escolha da obra e também trazem indicações
de outros livros do mesmo autor. Há ainda um espaço para os participantes contarem se já conheciam o autor e/ou a obra.

Foto: Angelo Castro

O segundo encontro está marcado para domingo, dia 28 de abril, onde a obra será discutida entre os participantes. Aline promete que, além de outra dinâmica de grupo, os participantes serão instigados a dizer qual parte do livro mais ou menos gostaram. O debate associará o contexto da obra e da vida do autor durante o período da escrita.

MORANGOS MOFADOS: PRIMEIRO LIVRO ESCOLHIDO

Com a nomeação da biblioteca comunitária da Casa 1 de Caio Fernando Abreu, para Aline e Alexandre, a escolha do primeiro autor discutido era óbvia. Com isso, seu livro mais icônico era a melhor opção. Nascido em Santiago, no Rio Grande do Sul, o autor assumidamente homossexual, foi contista, cronista, poeta, romancista, dramaturgo. e apaixonado por astrologia. Para Alexandre, refletir sobre a biografia do autor é crucial.

“Penso o quanto essa biografia, no caso, ser gay, realmente influencia o texto. Na literatura a gente pensa ‘ah, o fulano era bêbado por isso ele escreveu isso […].’ Talvez a biografia do Caio acabou sendo pop não apenas por ele ter sido gay, mas por ele ter sido um caso famoso de HIV”, diz Alexandre Cruz

Em “Morangos Mofados”, Caio reúne uma compilação de dezoito contos inéditos escritos em diferentes momentos. Para Alexandre, o autor, já residente em São Paulo e ganhando a vida como escritor, decidiu publicar por estar em uma fase em que já sabia do que era capaz. Com uma escrita profunda e poética, que consolida seu estilo confessional, vários contos são protagonizados por personagens LGBTs, mostrando como era ser uma pessoa LGBTQIA+ durante o período da ditadura militar.

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edições do livro Morangos Mofados, foto: Tamara Cleveland

Se você já leu “Morangos Mofados”, não perca o encontro 2 ainda em abril e faça parte do novo clube de leitura da capital Paulista. Caso ainda não tenha lido, é só aguardar o próximo livro no mês de maio, as datas do encontro serão divulgadas em breve. Como sugere Aline, somos todos “frutinhas” semeando o pomar da Caio.

*A Revolta de Stonewall, em 1969, na cidade de Nova Iorque, provocada por uma batida policial no bar Stonewall Inn, tornou-se símbolo da luta LGBT+, o que deu origem ao Dia do Orgulho LGBTQIA, celebrado em 28 de Junho.

A Casa 1 é uma organização localizada na região central da cidade de São Paulo e financiada coletivamente pela sociedade civil. Sua estrutura é orgânica e está em constante ampliação, sempre explorando as interseccionalidade do universo plural da diversidade. Contamos com três frentes principais: república de acolhida para jovens LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) expulsos de casa, o Galpão Casa 1 que conta com atividades culturais e educativa e a Clínica Social Casa 1, que conta com atendimentos psicoterápicos, atendimentos médicos e terapias complementares, com foco na promoção de saúde mental, em especial da comunidade LGBT.

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