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Direitos LGBT+ enfrentam reação negativa do setor de tecnologia, mas o progresso pode prevalecer

Apesar dos acontecimentos preocupantes nos EUA com o retorno de Trump, os direitos LGBTQ+ mantêm seu ímpeto globalmente, com a Tailândia tornando-se recentemente o 38º país a legalizar o casamento gay – uma mudança notável desde 2001, quando tais uniões foram universalmente proibidas.

Este progresso reflete mudanças sociais mais amplas que se mostraram resistentes às ações reacionárias.

No entanto, forças poderosas do setor de tecnologia estão mirando especificamente nos direitos trans. Grandes empresas como Amazon e Meta retiraram políticas de diversidade e inclusão nos EUA, como por exemplo o memorando de dezembro da Amazon, que anunciou o fim de “programas datados”, mas manteve grupos minoritários de funcionários.

Já aMeta foi além, substituindo o programa de inclusão pelo o que chama de “práticas justas que mitigam o preconceito para todos” e permitindo conteúdo anti-LGBTQ+ que vincula identidade de gênero a doenças mentais.

Trump ordenou que agências federais eliminem programas de diversidade, igualdade e inclusão (DEI) até 31 de janeiro, refletindo uma resistência mais ampla contra iniciativas de inclusão.

A diretiva visa desmantelar programas de diversidade em todo o governo federal, exigindo contratações com base em “eficiência” em vez de critérios de diversidade.

Elon Musk exemplifica essa tendência tecno autoritária, permitindo que o discurso de ódio prolifera no X após demitir moderadores de conteúdo.

Musk, afastado de sua filha trans, promove ativamente partidos de extrema direita globalmente, enquanto parece cada vez mais errático. Os algoritmos de sua plataforma amplificam conteúdo controverso, tornando as questões trans um para-raios conveniente para ansiedades culturais mais amplas.

Essa controvérsia fabricada levou grandes corporações como Walmart, McDonald’s e Boeing a recuarem seus compromissos com a diversidade, temendo a oposição pública percebida.

O Brasil enfrenta desafios específicos como o país com a maior taxa de homicídios trans globalmente por 14 anos consecutivos. Em 2022, 131 pessoas trans foram assassinadas e 20 morreram por suicídio.

Mulheres trans enfrentam risco 38 vezes maior de homicídio e a expectativa de vida média de apenas 35 anos em comparação com os 74,9 anos nacionais – um indicador gritante de discriminação sistêmica.

As barreiras de emprego continuam severas, com apenas 15% dos brasileiros trans ocupando empregos formais. Metade luta contra a depressão e 60% já pensaram em suicídio, de acordo com o estudo do Grupo Pela Vida do Rio, que contou  com 147 participantes.

A maioria enfrenta discriminação desde a educação fundamental- 36,7% experimentaram transfobia escolar, geralmente de professores e familiares, com apenas 49% concluindo o ensino médio.

As oportunidades de emprego para trabalhadores trans caíram 57% em 2023 para 2.549 posições, enquanto os trabalhadores trans empregados diminuíram 7% para 1.040.

No entanto, alguns veem esperança em práticas de contratação mais direcionadas e engajamento corporativo, com empresas parceiras aumentando 16% para 2.559.

“As empresas estão abrindo vagas de forma mais precisa e consciente, para áreas onde os gestores estão preparados para lidar com a diversidade”, diz a cofundadora da TransEmpregos, Maitê Schneider.

A resposta do Brasil difere marcadamente da abordagem dos EUA. A Suprema Corte exigiu explicações da Meta sobre mudanças de política, com base em seu impasse anterior bem-sucedido com o Twitter sobre moderação de conteúdo.

O consultor de diversidade Ricardo Sales sugere que o cenário extremo dos EUA dificilmente se espalhará para o Brasil, observando diferenças fundamentais em contextos legais e sociais.

Mesmo na Europa, onde partidos de extrema direita ganham terreno, os direitos LGBTQ+ mantêm amplo apoio público. Alguns partidos conservadores agora apresentam candidatos gays, mas ainda se opõem aos direitos trans, indicando uma divisão estratégica em sua abordagem a questões de gênero e sexualidade.

O conflito coloca cada vez mais uma minoria vocal que busca restaurar hierarquias tradicionais contra uma maioria que favorece a inclusão e a igualdade. Nas Américas, isso se cruza com legados coloniais e supremacia branca.

No entanto, a maioria das pessoas reconhece que sociedades inclusivas funcionam melhor e tornam os cidadãos mais felizes, sugerindo que políticas antitrans podem ser temporárias, apesar dos contratempos atuais.

O progresso geralmente avança de forma desigual – dois passos para frente, um passo para trás. Embora bilionários da tecnologia e políticos possam explorar questões trans para lucro e poder, os ganhos de direitos fundamentais parecem resilientes em grande parte do mundo.

O desafio agora é garantir que esses ganhos se estendam às comunidades trans que enfrentam as maiores barreiras à aceitação e igualdade.

Texto de Jonathan Lopez e revisão de Elaine de Medeiros, voluntáries da equipe de empregabilidade da Casa 1

Foto de capa: Carla Carniel

A Casa 1 é uma organização localizada na região central da cidade de São Paulo e financiada coletivamente pela sociedade civil. Sua estrutura é orgânica e está em constante ampliação, sempre explorando as interseccionalidade do universo plural da diversidade. Contamos com três frentes principais: república de acolhida para jovens LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) expulsos de casa, o Galpão Casa 1 que conta com atividades culturais e educativa e a Clínica Social Casa 1, que conta com atendimentos psicoterápicos, atendimentos médicos e terapias complementares, com foco na promoção de saúde mental, em especial da comunidade LGBT.

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