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Primeira parlamentar travesti no estado do Rio de Janeiro lança livro de memórias


“Esperança, coragem e amor pela humanidade”
. Com base nesses valores fundamentais, Benny Briolly – mulher negra, transgênero, nascida na periferia e conectada com as tradições da Umbanda – encara diariamente sua imagem no espelho, se pintando para enfrentar os desafios da vida. Vibrante, ela personifica uma resistência diária, lutando para afirmar e garantir a existência de seu corpo em um mundo que normaliza a rejeição ao que escapa ao padrão e hostiliza a diferença. Benny é um ser humano que traz no corpo e na mente as vidas até aqui vividas. 

Sua trajetória de luta e afirmação está reunida em “Mulher da vida”, livro de memórias, com prefácio da deputada federal Talíria Petrone, que chega às livrarias pela editora Oficina Raquel.

Vereadora e ativista dos direitos humanos e da liberdade religiosa, Benny Briolly nasceu em 1991 e cresceu na Favela da Palmeira, no bairro do Fonseca, em Niterói. Tornou-se a primeira parlamentar transgênero do Rio de Janeiro e a vereadora mulher mais votada em sua cidade nas eleições de 2020. Junto com ela, nesse mesmo pleito, outras mulheres trans foram eleitas em diferentes cidades do país. Ela representa, portanto, um Brasil que não só existe, mas também resiste.

Escrevi esse livro para passar uma mensagem de humanidade. Um corpo como o meu é um corpo que pode e deve ter os mesmos direitos como o de qualquer outra pessoa. Quero provocar uma reflexão sobre o que é existir como uma mulher trans no Brasil”, reflete a autora, lembrando que a maioria dos corpos como o dela ainda vivem à margem da sociedade no país que mais mata, assassina mulheres, travestis e transexuais. 

Dentro desse corte social, Benny é um exemplo de superação. Uma mulher da vida, um corpo nascido de um parto na violência obstétrica, e que já integrou as estatísticas do trabalho infantil. Um corpo que encontrou na política o seu refúgio, um lugar de desabafo, e onde pode mobilizar outras pessoas. “Quero movimentar as estruturas da sociedade que perpetua a necropolítica, de marginalização, de violência do Estado, de precarização social. Um dia me olhei no espelho e conclui: sou uma mulher da vida.”, esclarece. 

Em suas memórias, Benny revisita momentos preciosos de sua trajetória e relembra as pessoas fundamentais em cada fase. Consciente da sua realidade e daqueles à sua volta, a autora reitera a importância da educação como chave para a libertação e a autoafirmação. As amorosas relações com sua avó, sua mãe e sua prima e o reencontro com sua espiritualidade ao conhecer a Umbanda são temas também explorados na obra, na qual também compartilha o seu amor pela cultura brasileira, transitando entre o cinema, a música e o Carnaval. 

 Nestas memórias, ela reafirma a identificação com a militância progressista, recorda a proximidade com Marielle Franco, e levanta a bandeira, incansável, da luta pela justiça social e pela liberdade religiosa. Benny chegou a ter que se ausentar do país, após receber uma série de graves ameaças de morte. Hoje está inserida no programa de proteção do Estado, ao mesmo tempo, em que se destaca como uma das parlamentares mais atuantes de seu município. 

A minha luta sempre foi pela vida. Um corpo trans, negro, sempre luta pela vida. O resto é consequência disso. É o que mais me orgulha na minha trajetória. E quanto aos que me atacam, um dia eu hei de conseguir acessar o espaço dessas pessoas para fazê-las compreenderem que o real sentido da vida é o amor. E o amor é respeito, é esperança, é solidariedade”, finaliza Benny.

Uma mulher que consegue articular religião e fé, ancestralidade, transição de gênero, corpo e política, em luta pela afirmação e pelo direito à existência dos corpos mais diversos, como o dela própria. Tal como afirmou Simone de Beauvoir: “que nada nos defina, que nada nos sujeite, que a liberdade seja nossa própria substância”. Uma mulher que acolhe seu passado, para antever e construir um futuro pleno de energia vital, de axé. Uma mulher da vida, que de sua vida pavimenta o nosso futuro. Sankofa.  

Sobre a autora:

Nascida e criada na periferia de Niterói, a vereadora Benny Briolly é uma ativista dos direitos humanos e da liberdade religiosa. Foi a primeira parlamentar travesti no Rio de Janeiro e a vereadora mulher mais votada para Câmara Municipal de Niterói no pleito de 2020, com 4.367 votos. Militante desde o Ensino Médio, sua trajetória na política partidária começou oficialmente em 2013, aos 20 anos, quando se filiou ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). A militância de esquerda, dos movimentos sociais e de favela, de mulheres transexuais, travestis, LGBTQIA+ e movimento negro formam o ecossistema por onde Benny transita. Ela sempre diz que não decidiu entrar na política. Ela começou a entender desde cedo que a política já fazia parte dela com as dificuldades da vida. Um corpo preto, pobre, LGBT e com todas as ausências.

Benny Briolly é presidente da Comissão da Mulher, dos Direitos Humanos, da Criança, do Adolescente da Câmara Municipal de Niterói e já foi ameaçada de morte cerca de 30 vezes pelas redes sociais e por e-mail, antes e depois de ser eleita vereadora. Ela está inserida no Programa de Proteção a Defensores de Direitos Humanos. Em maio de 2021, a parlamentar chegou a deixar o país depois de receber ameaças de morte. Em abril de 2023, o  Ministério Público Federal, por meio de uma ação civil pública, contra a União e o Estado do Rio do Rio de Janeiro, determinou que a vereadora tenha escolta policial em toda a Região Metropolitana da cidade.

Foto de capa: Divulgação

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