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Conhecendo o escritor James Baldwin em seu centenário

Por Tamara Cleveland, voluntária da Biblioteca Caio Fernando Abreu

Nascido em 2 de agosto de 1924, no Harlem, bairro de Nova York, o romancista, contista, poeta e ensaísta James Baldwin foi uma voz poderosa, tanto como escritor quanto como ativista. Uma das figuras mais importantes da literatura norte-americana do século XX, Baldwin desempenhou um papel essencial na abertura da literatura LGBTQ+, com impacto e influência que reverberam até hoje, graças às suas obras de ficção e não-ficção, que abordam questões de identidade racial e orientação sexual.

Sua infância foi marcada pela pobreza, pelo abandono do pai biológico, a quem nunca conheceu, e pelos abusos verbais e físicos do padrasto, o pastor David Baldwin, de quem herdou o sobrenome. Ao atingir a maioridade, Baldwin decidiu seguir a carreira de escritor e mudou-se para Greenwich Village, um bairro nova-iorquino conhecido pela presença de artistas e pela comunidade queer da época. No início de sua carreira, como um escritor negro e pobre, enfrentou racismo e preconceito social. Aos 24 anos, com a crescente discriminação racial nos EUA, Baldwin se mudou para Paris, onde começou a publicar seus trabalhos.

Em 1953, cinco anos após sua mudança para a França, lançou seu primeiro romance, Go Tell It on the Mountain. A obra, que estava em produção desde seus 17 anos e é parcialmente autobiográfica, trata de questões raciais e foi incluída na lista dos 100 melhores romances de língua inglesa do século XX pela revista Time.

DOIS LIVROS DISPONÍVEIS NO ACERVO

Diagrama

Descrição gerada automaticamente

Três anos depois, em 1956, Baldwin publicou seu segundo e mais famoso romance, “O Quarto de Giovanni, considerado um dos maiores clássicos da literatura LGBTQ+, que surpreendeu a sociedade por retratar o amor entre dois homens, algo até então raro na literatura. Após anos esgotado no Brasil, a obra foi relançada em 2018 pela Companhia das Letras.

Disponível no acervo da biblioteca Caio Fernando Abreu, em “O Quarto de Giovanni” James Baldwin, narra uma relação bissexual ao acompanhar David, um jovem americano em Paris à espera de sua namorada, Hella, que por sua vez está na Espanha. Enquanto ela pondera se deve ou não se casar com David, ele conhece Giovanni, um garçom italiano por quem se apaixona.

Outro romance de Baldwin disponível para empréstimo, “Terra Estranha”, publicado em 1962, tem como cenário os clubes de jazz de Greenwich Village, em Nova York, nos anos 1950. A trama segue Rufus, um baterista negro em decadência, que se envolve com Leona, uma mulher branca do sul dos Estados Unidos. Baldwin entrelaça questões raciais e homoeróticas, temas ainda considerados tabus na época, criando um marco literário. Diferente de “O Quarto de Giovanni, em que todos os personagens são brancos, “Terra Estranha” explora as dinâmicas raciais a partir das próprias vivências de Baldwin no Harlem e no Greenwich Village.

PARA ASSISTIR E CONHECER MAIS DO AUTOR 

No verão de 1957, Baldwin decidiu retornar aos Estados Unidos por uma causa especial: a luta contra a segregação racial. No país, ele se uniu à linha de frente dos protestos, ao lado das poderosas vozes de Martin Luther King Jr., Medgar Evers e Malcolm X. No entanto, após ver esses três grandes líderes do Movimento dos Direitos Civis serem assassinados, decidiu voltar definitivamente para a França.

Em 2016, o diretor haitiano Raoul Peck lançou o documentário “Eu Não Sou Seu Negro”, baseado no livro inédito e inacabado de Baldwin, Remember This House (1979), que relata as vidas e assassinatos dos ativistas que marcaram a história social e política dos Estados Unidos. Todos foram mortos com menos de 40 anos, em um intervalo de apenas cinco anos. Além do livro, Peck utilizou cartas, trechos de discursos gravados e entrevistas de Baldwin para estruturar o documentário, por isso o nome de Baldwin também assina o roteiro. A narração de suas poderosas palavras foi feita pelo ator Samuel L. Jackson.

“Antes precisavam da gente para colher algodão, agora que não precisam mais estão nos matando”. – James Baldwin

A tensão racial está presente em quase todas as páginas da história americana, inclusive hoje, com notícias sobre violência policial se tornando rotina. É por isso que a trama de “Se a Rua Beale Falasse”, publicada originalmente em 1974, continua tão relevante, assim como a resiliência de seus personagens.

O quinto romance de James Baldwin narra a história de Tish, que descobre estar grávida de Fonny. O forte amor entre os dois é interrompido quando ele é acusado de um crime que não cometeu. Em 2018, o diretor Barry Jenkins lançou a adaptação cinematográfica de mesmo nome. O filme, um grande sucesso de bilheteria nos EUA, foi destaque nas premiações de 2019, com Regina King vencendo o Globo de Ouro, o Critics’ Choice Awards e o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante pelo papel de Sharon Rivers, mãe da protagonista Tish.

Homem falando no celular

Descrição gerada automaticamente com confiança média

Cena do filme “Se a rua Beale falasse”

Até o momento o romance “Se a rua Beale falasse” não faz parte do acervo da Caio, mas além de “O quarto de Giovanni” e “Terra Estranha” outros títulos representativos LGBTQIAPN+ e literatura escrita por pessoas negras estão disponíveis para empréstimo na Biblioteca Caio Fernando Abreu. Conheça o espaço e faça a sua carteirinha de segunda a sábado, das 10h às 19h, na Rua Condessa de São Joaquim, 277, no bairro Bela Vista.

Boa leitura e ótima sessão!

Foto de Capa: Getty Images

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