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Marcha das Mulheres Negras volta às ruas em SP e cobra mais representatividade na política

Manifestação que marca o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha reuniu movimento negro, feminista e LGBT+ na República, centro da capital paulista, na noite desta segunda (25)

Por Daniel Arroyo

Com a benção de Exu, a Marcha de Mulheres Negras de São Paulo voltou a ocupar as ruas do centro da capital paulista por voltas das 18h30 desta segunda-feira (25), após dois anos sem evento por conta da pandemia de Covid-19. Este ano, o ato que celebra o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e o Dia de Teresa de Benguela teve como lema “Por Nós, Por Todas Nós, Pelo Bem Viver” e se concentrou na Praça da República para cobrar pelos direitos das mulheres pretas e por mais representatividade nas eleições 2022.

No manifesto, a organização da Marcha chama atenção para a desigualdade racial, de gênero e econômica no país que afeta principalmente pessoas negras e denuncia o racismo estrutural e as políticas adotadas pelo governo de Jair Bolsonaro (PL). Entre as reivindicações estavam a garantia do direito ao aborto seguro e legal, dos direitos da população LGBTQIA+, o fim da violência de Estado e da intolerância política.

À Ponte, a ativista trans Neon Cunha disse que o retorno dos atos presenciais é momento de luta, celebração e mudança na perspectiva das mulheres pretas dentro de uma sociedade que ainda segrega. “É a soma que dá esse rolê da Marcha das Mulheres Negras, onde a gente vai instituir uma série de questões e que a única coisa que nos une ao fato de sermos todas pretas dos mais diversos tons, das mais diversas possibilidades, identidades de gênero, orientação sexual, profissões, mas com um único propósito: a manutenção da dignidade e a construção de humanidade”.

Neon Cunha, ativista pelos direitos das mulheres trans e travestis, durante o ato na Praça da República. | Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

O coletivo Mulheres de Axé do Brasil, que representa sacerdotisas e frequentadoras das religiões de matriz africana, abriu a Marcha com rituais. “Fizemos aqui a abertura do ato com uma oferenda, com um despacho e uma oração para Exu que é o orixá das ruas, das trocas, da comunicação. E por isso que nós queremos que as lutas das mulheres negras, tanto as de terreiro quanto as que não são de terreiro, sejam abençoadas pelos orixás”, explicou a covereadora da Bancada Feminista do PSOL na capital paulista, Carolina Iara.

Trabalhadoras, estudantes, parlamentares e ativistas dos movimentos negro e feminista também acompanharam a performance Anunciação, realizada pelo Bando Macuas Cia Cênica, que é formado por mulheres e trabalha a dança e o teatro com a perspectiva africana. “A gente está se colocando na cena pela primeira vez agora, com essa performance, e pensando em dizer o que a gente quer, que construção de artistas pretas que a gente está propondo”, comentou Débora Marçal, diretora coreógrafa do Bando Macuas.

A caminhada até as escadarias do Theatro Municipal de São Paulo,local de fundação do Movimento Negro Unificado (MNU) em 1978, contou com faixas, cartazes e homenagens às mulheres negras e indígenas que estão na linha de frente da resistência.  As manifestações artísticas do Bloco afro Ilú Oba De Min, uma bateria formada somente por mulheres, também marcaram o protesto, que terminou de forma pacífica por volta das 22h.

Mulheres reúnem-se para lançar o manifesto “Nem fome, nem tiro, nem cadeia, nem Covid: parem de nos matar!”. | Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

Mulheres negras de terreiro realizaram a abertura do ato com um despacho. | Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

Manifestações artísticas do Bloco Ilú Oba De Min marcaram o ato. | Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

Débora Silva, fundadora do Movimento Mães de Maio, encontra Regina Lúcia Santos, coordenadora do MNU. | Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

Marcha foi encerrada nas escadarias do Theatro Municipal de São Paulo. | Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

Acesse o site da Ponte Jornalismo.

Foto de capa: Marcha das Mulheres Negras em caminhada no centro de São Paulo. | Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

A Ponte Jornalismo é uma organização sem fins lucrativos criada para defender os direitos humanos por meio do jornalismo, com o objetivo de ampliar as vozes marginalizadas pelas opressões de classe, raça e gênero e promover a aproximação entre diferentes atores das áreas de segurança pública e justiça, colaborando na sobrevivência da democracia brasileira. O conteúdo da Ponte Jornalismo é livre de direitos autorais e reproduzido aqui no site da Casa 1 com os devidos créditos

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