Por Madalena Soares, assistente social da Casa 1
Nesse mês de consciência negra, que possamos relembrar de Luana Barbosa, Crismilly, de Matheusa, Diego Vieira e de tantas outras vidas pretas e LGBT+ que perdemos. A LGBTfobia e racismo que pessoas negras e LGBT+ sofrem não podem ser pensadas de forma isoladas, são expressões concretas de marginalização dessa população, que além de terem que encarar diariamente violências de cunho LGBTfóbico, precisam sobreviver ao racismo diário a qual são submetidos e que se relacionam com a marginalização da sua sexualidade, identidade ou expressão de gênero, criando uma especificação de uma violência que precisa ser falada e ouvida por todos os espaços políticos LGBT+.
Não existem no Brasil políticas públicas que pensem especificamente nas demandas da população preta e LGBT+, que se preocupe com a saúde mental ou com acesso a autonomia financeira desse público. É preciso refletir porque a população preta é maioria nos presídios, no desemprego, nos infinitos dados de vulnerabilidade social e onde a população LGBT+ negra se localiza nesses dados. A verdade é que o sistema de proteção social do Estado não protege aqueles que precisam, pelo contrário, reproduzem relações sociais que cada vez mais marginalizam e desconsideram a existência dessa população.
Na Casa 1, a maioria das pessoas que já foram acolhidas ou que foram atendidas pela equipe de Serviço Social são pessoas autodeclaradas pretas (56%). Essa informação não é mera coincidência, é um dado concreto que se relaciona com a última pesquisa realizada pela Fiocruz (2020), onde foi observado que 50% da violência lgbtfobia afeta pessoas autodeclaradas negras, e que a maioria da violência também afetam em suma maioria pessoas trans e travestis e lésbicas, indicando a necessidade de pensar na interseccionalidade de gênero.
Outro ponto, é que as pessoas brancas LGBT+ atendidas pela Casa são as que também têm mais acesso a rede de apoio (amigos ou parentes), maior escolaridade e maior facilidade para encontrarem trabalho. É por isso que é importante pensar em ações e atividades que priorizem o acesso a direitos sociais dessa população e ter um olhar de acolhimento diferenciado para este público, que encara muito mais dificuldades para se organizar financeiramente e emocionalmente durante o acolhimento.
É preciso refletir, também, sobre quais são os corpos que ocupam espaços de liderança LGBT+? Quais são os corpos que estão à frente de ONGs, de espaços políticos e de direito LGBT+? Onde estão as pessoas pretas nos congressos, na construção de direitos sociais? É necessário empretecer os espaços políticos, para que esses espaços não só fortaleçam o usuários (que constroem e participam), mas também os trabalhadores e quem pensam, elaboram e executam políticas, para que possamos construir um novo mundo; um mundo que seja colorido, mas também preto.
Foto de capa: Nappy/ @Planetnehemiah