Repertório autoral passeia pelo punk, pagode, tecnobrega e cumbia colombiana, ressignificando expressões preconceituosas e exaltando o afeto entre pessoas LGBTQIA+
Da diversidade musical das periferias brasileiras às influências rítmicas dos mais de 50 países por onde passou, tendo como ponto de partida as afetividades LGBTQIA+, o cantor e compositor Paulo Fraval lança seu primeiro álbum “O poder que a bixa tem”. O repertório traz 10 canções autorais que passam pelas vivências e inquietudes do artista, destacando a legitimação de identidades, acolhimento às pluralidades e reverenciando o universo feminino e afeminado, ao mesmo tempo que critica com humor e ressignifica expressões pejorativas de toda uma estrutura machista e preconceituosa que violenta corpos fora da heteronormatividade. O álbum já está disponível nas principais plataformas digitais e mais informações podem ser acompanhadas no Instagram @paulofraval.
Em uma mistura pop, dançante e com fortes bases eletrônicas, o álbum passa pelo pagode baiano, tecnobrega paraense e a cumbia colombiana, entre outros ritmos latino americanos. Majoritariamente produzido por profissionais mulheres, LGBTQIA+, e pessoas periféricas, o disco celebra a democratização do acesso à música e a valorização de um trabalho realizado por mentes e corpos estigmatizados pela sociedade patriarcal, questionando a frágil virilidade masculina.”Cada faixa narra vivências de personagens que abraçam o feminino, utilizando-o sempre em primeira pessoa, vestindo-se de liberdade para vivenciar suas identidades com fluidez, leveza e sem culpa”, ressalta Paulo. O disco conta com produção do DJ e produtor musical paraense Proefx.
Em “O poder que a bixa tem”, faixa que dá título ao álbum, Paulo Fraval apresenta um repente eletrônico, desconstruindo clichês sobre a figura do homem nordestino e “cabra macho”, apropriando-se de termos preconceituosos e utilizando-os como mantras de empoderamento, força e acolhimento, além de ressignificar características da feminilidade que tornam homens gays alvo de violências físicas e emocionais. Já em “A mina dela”, o artista traz como base o pagode baiano para exaltar o amor entre mulheres e criticar a interferência de homens que se deparam com demonstrações de afeto lésbico. Outro destaque do álbum, a música “Illas de Oxalá”, lançada em junho deste ano (2022) é uma oração em forma de poesia escrita pelo artista baiano Almerson Passos. O clipe da música, produzido pela Voo Audiovisual, enaltece o trabalho e a resistência de Alana de Carvalho, mulher trans, líder comunitária e Yalorixá de um terreiro no bairro quilombola do Calabar (Salvador-BA). O clipe da música recebeu indicações e exibições em festivais de cinema alternativo mundiais.
Paulo Fraval iniciou sua carreira aos 15 anos como percussionista em Fortaleza (CE), mudou-se para Salvador em 2002, onde estudou música e começou também a cantar. Foi vocalista das bandas “Solange, tô aberta!” (BA) e “Pistoleira” (CE). Entre 2010 e 2016, realizou cinco turnês internacionais e apresentações artísticas em 19 estados brasileiros, participando de importantes espaços e eventos underground como, Itaú Cultural (SP), Festival Panorama de Dança (RJ), Ocupación Plaza de Catalunya (Barcelona/ES), Copenhagen Queer Festival (Dinamarca), Saturation Club (Polônia), Oslo Queer Festival (Noruega) e Transgenialer CSD (Berlim/ALE).
“Esse álbum é a realização de um grande sonho. Sou um artista que cresceu na periferia e precisei driblar muitos preconceitos e dificuldades para não deixar esse sonho adormecer. Lançar um disco que contempla a beleza da diversidade, em um dos momentos mais tristes da história do Brasil, me fez constatar o quanto é importante não perder a esperança. Apesar das letras afiadas, este trabalho tem toda uma narrativa de acolhimento que propõe a desconstrução de rivalidades e hostilidades entre minorias, ambas fomentadas pelo machismo e pelas desigualdades sociais”, destaca o artista.
Foto de capa: Felipe Marques