A montagem investiga o nascimento do monoteísmo e do patriarcado, ao mesmo tempo em que transporta as narrativas bíblicas para um futuro distópico, coberto de lixo.
Com estreia marcada para 26 de março, Sarah e Hagar decidem matar Abraão é a nova peça da coletiva RAINHA KONG. As apresentações acontecem no TUSP, em temporada até 17/4, de quinta a domingo. As apresentações integram o projeto As Histórias Vistas de Baixo, que foi contemplado pela 36ª edição do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo.
Escrito por Tiago Viudes (ou Ti) e com direção de Diego Moschkovich, o texto procura retomar a fundação do patriarcado, de acordo com a bíblia. Para isso, a peça retoma o mito de Sarah, Hagar e Abraão, procurando outros ecos deste mito que não estejam sacramentados na perspectiva patriarcal com o qual ele é interpretado até hoje. Mais do que isso, a montagem traz a possibilidade dessa história ser narrada através da encenação de um elenco queer, interessado em romper com a perspectiva patriarcal, no teatro e no mundo.
“Durante o processo de pesquisa percebemos que as narrativas da bíblia eram lacunares e, assim como uma peça de teatro, dependiam da interpretação de quem as contava, das pessoas que davam os sermões. Entretanto, quem são as pessoas que podem interpretar essa narrativa? Que corpos e instituições ocupam esse espaço? Mais do que criticar, queremos dar a nossa versão da história ou, talvez, apenas desmascarar o caráter de “verdade única” por trás das interpretações dos textos bíblicos.” comenta Jaoa de Mello, uma das integrantes da Rainha Kong.
SOBRE O MITO DE ABRAÃO
Segundo a bíblia, Abraão foi o primeiro homem com o qual Deus firmou um acordo repleto de promessas. Nesse acordo, ele geraria e daria origem a uma enorme descendência, desde que se comprometesse a cultuar única e exclusivamente aquele Deus que lhe fazia promessas. A esposa de Abraão, Sarah, era, no entanto, infértil. Mas ela tinha uma serva egípcia chamada Hagar. Então, Sarah oferece Hagar para Abraão. Hagar dá a luz a Ismael. Assim, a história reservou a Abraão o posto de grande patriarca do monoteísmo. E o que a história reservou a Sarah? E o que a história reservou a Hagar?
Esses questionamentos levaram o dramaturgo Ti a tensionar a narrativa bíblica, proporcionando uma conversa direta com a ideia de uma ancestralidade queer. Utilizando-se de narrativas fundantes de tradições patriarcais, o texto revisita personagens históricas não para considerar como seus relatos seriam “atualizados” sob um olhar contemporâneo, mas para considerar que a história dessas figuras pôde, de alguma forma, ter sido contada por outras vozes.
SINOPSE DA PEÇA
A peça mescla a história contida no livro Gênesis com um futuro distópico, no qual é apresentada uma terra já habitada por bilhões de pessoas e tomada pelo lixo. Neste futuro distópico, são apresentadas as figuras de Fátima e Ishká. Ishká é uma senhora infértil, que não consegue gerar filhos para seu marido, Elias. No decorrer da narrativa, Ishká articula, junto de sua serva Fátima, a morte e o desmembramento de Elias, pois é só a partir desta ação que as duas podem aventar a possibilidade de saírem em busca do paraíso. A história de Fátima e Ishká serve, aqui, para tensionar o mito da bíblia a ponto de que a afirmação ‘Sarah e Hagar decidem matar Abraão’ seja possível.
SERVIÇO
O QUE? Temporada de Sarah e Hagar decidem matar Abraão
QUANDO? De 26/03 a 17/04
Quintas a sábados às 21h e domingos às 19h
estreia 25/03 fechada para convidados | temporada a partir de 26/03
ONDE? no Teatro da USP [TUSP] – R. Maria Antônia, 294 – Vila Buarque, São Paulo – SP
QUANTO? R$10,00 | R$5,00 [meia entrada]
10% da lotação da sala é reservada gratuitamente para pessoas trans [sujeito a lotação]
DURAÇÃO: 75 minutos
SOBRE A RAINHA KONG
Desde 2016, a RAINHA KONG investiga intersecções de diferentes linguagens artísticas a fim de discutir questões LGBTQIAP+ cenicamente. O coletivo, oriundo do curso de Artes Cênicas da Unicamp, se coloca em cena enquanto ato político de resistência, mas também questionando a construção de novas narrativas – a partir de histórias e corpos até então silenciados – na investigação e formatação de novas linguagens e formas de se pensar o fazer teatral, performático e artístico.
A primeira produção do coletivo, O Bebê de Tarlatana Rosa, reordena o conto homônimo de João do Rio, alocando-o em uma perspectiva queer, confluindo a narrativa do conto com depoimentos biodramáticos des integrantes do elenco. Além disso, a coletiva organizou diversos cursos e oficinas em parceria com diverses artistas e coletivos LGBTQIAP+ como a Casa1, Helena Vieira, Ave Terrena, Ferdinando Martins, Daniel Veiga, etc.
FICHA TÉCNICA
Direção Diego Moschkovich
Dramaturgia Ti
Elenco Aleph antialeph
Jaoa de Mello
Vitinho Rodrigues
Trilha Sonora e Operação de som Nãovenhasemrosto
Canção Original Uma Pessoa
Desenho de Luz e Operação de luz Felipe Tchaça
Cenógrafia Su Martins
Figurino Vicenta Perrotta
Confecção de Figurinos Ateliê Vicenta Perrota
Artes Gráficas Aleph antialeph
Fotografias de ensaio Carla Carniel
Coordenação de Comunicação e Assessoria de Imprensa Brenda Amaral
Redes Sociais Thais Eloy
Coordenação de Produção Bia Fonseca
Iza Marie Miceli Produção RK Produçã