O casarão da Rua Major Diogo, 353, no Bixiga, guarda a história de Sebastiana de Mello Freire, a Dona Yayá, que inspira muitas versões diferentes: seria ela vítima de uma conspiração ou uma pessoa doente? Uma mulher à frente do seu tempo ou apenas louca?
A casa onde ela viveu a maior parte de sua vida, bem cultural da Universidade de São Paulo, é parte dessa memória. E para entender quem foi essa personagem, sua relação com a cidade e com a sociedade paulistana do século 20, o Centro de Preservação Cultural da Universidade de São Paulo inaugura a exposição “Yayá – cotidiano, feminismo, doença, riqueza “no dia 18 de maio, como parte da programação da 20ª Semana de Museus, promovida pelo Instituto Brasileiro de Museus. Essa data é duplamente importante, pois comemora o Dia Internacional dos Museus e também o Dia da Luta Antimanicomial no Brasil.
A exposição traz aspectos da vida de Dona Yayá ainda pouco conhecidos pelo público, resultado do aprofundamento das pesquisas que o CPC-USP vem realizando a partir de documentos, fontes históricas e entrevistas. Mas o destino dessa mulher que viveu em São Paulo entre o final do século XIX e meados do século XX nos ensina também sobre o processo de transformação da região central da cidade, o papel das mulheres na sociedade e sobre o tratamento destinado aos pacientes psiquiátricos no Brasil.
QUEM FOI DONA YAYÁ?
Nascida em 21 de janeiro de 1887, de família da elite paulistana, Yayá perdeu os pais aos 13 anos, e o único irmão cometeu suicídio cinco anos depois. Vivia em companhia de sua madrinha, afilhados e amigas em um palacete na Rua Sete de Abril. Nunca se casou, nem teve filhos. Em 1919, com pouco mais de 30 anos, Yayá apresentou recorrentes sinais de desequilíbrio emocional que levaram à sua internação em uma instituição hospitalar. Os laudos médicos atestaram sua condição de paciente psiquiátrica e a necessidade de cuidados especiais para tratamento. Ela foi considerada incapaz de administrar sua própria vida e seus bens, recebendo interdição judicial. Essa história, amplamente questionada pelo jornal sensacionalista O Parafuso, comoveu a sociedade paulistana. Um ano depois, por recomendações médicas, Yayá passaria a receber tratamento em casa, em melhores condições, em um ambiente de tranquilidade e segurança. Veio então morar na Rua Major Diogo, uma antiga chácara onde Yayá permaneceu reclusa por 40 anos, em companhia de suas cuidadoras e empregados.
Com base nessa rica história material e imaterial, o imóvel foi tombado pelo Estado de São Paulo, em 1998, e pelo Município, em 2002. Desde 2004 é sede do Centro de Preservação Cultural da USP, órgão que oferece ao público uma série de atividades no âmbito da cultura e extensão universitária que estreitam as relações da Universidade com o bairro do Bixiga e com a sociedade em geral.
A exposição Yayá – cotidiano, feminismo, doença, riqueza tem ainda uma versão digital, lançada em 2021, que pode ser vista em: https://exposicaocpc.com.br/. Realização do Centro de Preservação Cultural da USP, com a curadoria das profas. Martha Marandino (Faculdade de Educação da USP) e Simone Scifoni (Depto de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP).
Serviço
YAYÁ – COTIDIANO, FEMINISMO, DOENÇA, RIQUEZA
Abertura: 18 de maio de 2022, às 18 horas
Visitação: segunda a sexta-feira, das 10h às 17h
Local: Casa de Dona Yayá
Rua Major Diogo, 353 – São Paulo
Entrada gratuita
Foto de capa: Divulgação/ Acervo CPC