ONGs no Nordeste acolhem população LGBTQIA+ em situação de rua

 Natasha Wonderfull da Silva, 51, entrou para o mundo do trabalho aos 12, cortando cana e mato ou plantando batatas. Às vezes ganhava dinheiro, em outras a comida e, de vez em quando, saía sem nada e até apanhava. Ela morava no sertão de Pernambuco, mas encontrou refúgio em Alagoas após a morte da mãe.

Em União dos Palmares, vivia em casas de família, fazendo atividades domésticas, incluindo limpar o esgoto. Nas ruas, era ofendida e ameaçada de violência física. Na capital, Maceió, os empregos também não vieram.

Uma amiga disse a Natasha: “Aqui, você não vai arrumar emprego. A solução é a rua”. Na avenida da Paz, de frente para a praia, ainda menor de idade, aquilo significava entrar para o mundo da prostituição. Uma criança negra, com mente feminina, sob a promessa de dinheiro fácil. Andou por São Paulo, Belo Horizonte, até mesmo na Itália, na tentativa de se manter.

Esse texto não precisa ir mais longe para revelar que Natasha Wonderfull é uma mulher transexual. A surpresa, diz ela, é que todo esse cenário, vivido há quase 40 anos, se repete em todo o país. “A escolha é simples: ou essas meninas se prostituem e comem ou estudam e trabalham”, analisa a atual presidente da Associação Cultural de Travestis e Transexual de Alagoas (ACTTrans).

“Nós tentamos dar a elas o incentivo de estudar e trabalhar, mas infelizmente já estão acostumadas com os programas. As pessoas querem nos ver sendo agressivas. A sociedade criou o paradigma de que as transexuais são violentas, que são só para o sexo. Estamos lutando para quebrar isso. No Brasil, é muito difícil ser transexual. Muitas morrem de tiro, de facada. Hoje, tenho um emprego. Se acabar meu contrato, eu vou para a rua. Vou ser mais uma das mulheres mortas nas ruas”, desabafa.

De acordo com o Dossiê Assassinatos e Violências contra Travestis e Transexuais Brasileiras, realizado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), foram registrados 140 assassinatos de pessoas trans no Brasil em 2021 -135 vítimas travestis e mulheres transexuais, e 5 homens trans e pessoas transmasculinas. Além disso, 78% dos assassinatos foram direcionados a profissionais do sexo.
Sudeste (49 assassinatos) e Nordeste (47) lideraram a estatística. São Paulo, Bahia, Ceará e o Rio de Janeiro aparecem entre os cinco primeiros estados com mais assassinatos de trans desde 2017. Desde 2008, o Brasil é o país que mais comete esse tipo de crime, segundo a ONG Transgender Europe (TGEU).

“Gênero e sexualidade são temas pouco estudados e explorados, as pessoas passam a ter noções das questões muito tarde. Temos pouquíssima representatividade na política e em posições de poder que possam criar políticas públicas para fortalecer iniciativas de solidariedade LGBTQIA+”, analisa Eron Neto, presidente da CasAmor, de Sergipe.

Segundo ele, a ONG se mantém por meio de doações da sociedade civil e empresas. Durante o período de pandemia, quando os chamados em casos de violência LGBT foi maior, houve uma campanha virtual de arrecadação que possibilitou recursos financeiros para manter o projeto e atender a frente de segurança alimentar, que é a área prioritária.

“A busca por acolhimento cresceu consideravelmente e hoje estamos com fila de espera em atendimentos como saúde mental e segurança alimentar. A violência familiar acontece constantemente, sempre somos chamados para ajudar pessoas dentro dos seus próprios lares”, conta Neto.
“Temos problema para saber os dados públicos reais. A subnotificação de casos de violência LGBTQIAfóbica ocasiona em pouca base para pedirmos por políticas públicas de proteção para esse grupo. A maior dificuldade para alcançarmos pessoas é o baixo índice de doações que ocasiona na falta de estrutura”, complementa.

No Ceará, segundo estado mais violento para a população transexual do Nordeste em 2021, com 11 assassinatos, o cenário é semelhante. São as doações que mantêm o funcionamento da ONG, todos de pessoas físicas. Segundo Nik Hot, fundadora da Casa Transformar, a procura pelo acolhimento aumentou bastante nos últimos seis meses. São seis pessoas que vivem no local, além de outras 15 que precisam de apoio.

“A sociedade empurra essas meninas para a prostituição. Nós damos cursos, oficinas, workshops, com voluntários que se prontificam a passar esse conhecimento. O Ceará, infelizmente, é perigoso. Eu não me sinto tão segura. Estou no país que mais me mata e num dos estados que mais me mata. O Nordeste também é potência no acolhimento, mas ainda estamos começando”, conta.
Natasha, que é técnica de enfermagem e atua no Consultório na Rua, vinculado à Prefeitura de Maceió, trabalha dando assistência a população em situação de rua e também às comunidades periféricas e pessoas em vulnerabilidade social. Por meio do grupo Transhow, criado em 2014 para fazer espetáculos de teatro, ela tenta tirar as meninas das ruas.

“Se você me perguntar o que tem para as transexuais aqui em Alagoas, no Brasil, a resposta é simples: nada. Através do palco e da arte, eu consegui me expressar e tirar essas meninas da rua, na cara e na coragem. Se tiver público, elas ganham. Se não tiver, não ganham”, lamenta.
“Estou vendo elas voltando para a prostituição. Eu vou na casa delas e não vejo o que comer. Algumas cozinham no álcool. Muitas não leem. Nós ensinamos sobre direitos, papel do SUS, mostramos vídeos… Temos algumas vitórias no Brasil, mas ainda é muito pouco.”

Saiba como doar

Grupo Gay de Maceió (Alagoas) – Tel.: (82) 98822-1826 . Instagram: @grupogaydemaceio/
CasAmor (Sergipe) – Tel.: (79) 99823-6449. Instagram: @casamorlgbtqi/ ; contato para doações: casamorlgbt@gmail.com

Casa Transformar (Ceará) – Tel.: (85) 981268410. Instagram: @casatransformar/ ; contato para doações: vakinha.com.br/vaquinha/colabore-com-a-existencia-da-casa-transformar
Outras doações

Ação da Cidadania
Promove ações de saúde, educação, cultura e geração de renda por meio dos comitês estaduais, conforme a demanda de cada comunidade
Onde: Em todo o Brasil
Informações e doações no site: www.acaodacidadania.org.br

Amigos do Bem
Combate a miséria no sertão nordestino por meio de projetos de educação, geração de renda e acesso
Onde: AL, PE e CE
Informações no site: doar.amigosdobem.org/acaoemergencialpf

O Amor Agradece
Organização que nasceu da reunião de amigos para cozinhar e distribuir quentinhas para a população vulnerável de São Paulo. Também distribui cobertores no inverno
Onde: São Paulo
Informações no Instagram: @oamoragradece/

G10 Favelas
É um grupo de líderes e empreendedores sociais que atuam em favelas. O dinheiro arrecadado nas campanhas é usado na compra de marmitas e kits de higiene para moradores de comunidades
Onde: em 16 estados do país
Informações e doações no site: g10favelas.com.br

Gastromotiva
Atua no combate à insegurança alimentar e desperdício de alimentos formando gratuitamente cozinheiros e empreendedores, que produzem e distribuem refeições nutritivas nas suas comunidades a partir do programa de cozinhas solidárias
Onde: Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Manaus, Salvador, Dourados e Lucas do Rio Verde
Informações e doações: www.gastromotiva.org

Mães da Favela
Iniciativa criada pela Cufa com o objetivo de levar renda para mães moradoras de favelas
Onde: em todo o Brasil
Informações e doações no site: www.maesdafavela.com.br/doar

Pão do Povo da Rua
Projeto do Instituto de Pesquisa da Cozinha Brasileira (IPCB), que diariamente produz 3.000 pães e bolos destinados à distribuição para as pessoas em situação de rua, no centro de São Paulo
Site: paodopovodarua.com.br. Tel. (11) 99999-4090

Quebrada Alimentada
Organizam ações para servir marmitas e cestas básicas às famílias da periferia do bairro de Vila Medeiros, zona norte de São Paulo. Desde o começo da pandemia, foram mais de 100 mil refeições servidas e 70 mil kg de alimentos doados em cestas básicas
Onde: São Paulo
Informações e doações no site: solidariedade.gaiamais.org/

Redes da Maré
Produz projetos e ações para garantir qualidade de vida aos mais de 140 mil moradores das 16 favelas que compõem o Complexo da Maré, no Rio de Janeiro
Onde: Rio de Janeiro
Informações e doações no site: www.redesdamare.org.br/br/quemsomos/doeagora

Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras)
Oferece assistência social a crianças e adolescentes, pessoas com hanseníase, idosos, imigrantes e refugiados e pessoas em situação de rua
Onde: São Paulo e Rio de Janeiro
Central de Doações: (11) 3795-5220 / (21) 96927-9888
Site: sefras.org.br

Tem Gente com Fome
Arrecada recursos para ações emergenciais contra a fome, miséria e violência na pandemia
Onde: em todo o Brasil
Site: www.temgentecomfome.com.br

União Brasileiro-Israelita do Bem-Estar Social (Unibes)
Atende pessoas em situação de vulnerabilidade com assistência social e serviços para crianças, adolescentes, jovens e idosos
Onde: São Paulo
Site unibes.org.br/onde-estamos/. Tel. (11) 3311-7266 / (11) 3123-7300 / WhatsApp (11) 96929-4660 e (11) 99328-8398

Unidos do Bem
Distribui marmitas para população de rua e comunidades na periferia de São Paulo, em bairros como Heliópolis, Paraisópolis, Campo Limpo, Jardim Ângela, Grajaú e Capão Redondo
Site: unidosdobem.org.br. Tel. (11) 97093-1818

“Miss Macunaíma” reúne cartas imaginárias de Mario de Andrade gay

Por Alcir Pécora

Miss Macunaíma”, de Alexandre Rabelo, é livro prolixo, com partes e procedimentos diversos. O mais evidente deles é usar personagens de “Macunaíma – o Herói sem Nenhum Caráter”, de Mário de Andrade, para recontar o sentido da obra.

Não é o primeiro a fazê-lo. Em 2017, Valquíria Carozze publicou “Mário, Modernista a Caráter”, um romance-paródia no qual o próprio Macunaíma vem dizer o que pensa do seu autor, e, para isso, cria cartas que fariam parte da correspondência de Mário.

Com escopo distinto, é também o que faz Rabelo: recria as cartas colocando no centro delas a mágoa de Mário com o parceiro modernista, Oswald de Andrade, que faria piadas preconceituosas sobre a sua homossexualidade e ainda sobre a sua origem pobre e negra.

O labéu de “Miss Macunaíma” é sacado de um texto da Revista de Antropofagia, de 1929, com a entrevista fictícia de certa “tapuya”, “a mais genuína representante da antropofagia feminina no Brasil”, que Mário teria interpretado como uma tentativa de Oswald de ridicularizá-lo.

O assunto da sexualidade de Mário não é novo. Até admira quanta atenção já mereceu dos jornais, a ponto de parecer a única “revelação” a buscar-se nas cartas guardadas por arquivos importantes como o IEB-USP e a Casa de Rui Barbosa. E quando elas, de fato, confessam menos do que se gostaria, os próprios arquivos são acusados de ocultamento de provas. É o que evidencia Marcos Moraes, um dos maiores estudiosos da correspondência de Mário.

No caso do romance de Rabelo, diante da falta da carta real de confissão, ele mesmo a providencia. Dirigida a um “querido e abusado Sergio”, confeiteiro negro da Liberdade, a carta fictícia descreve um encontro em que Mário lhe fez sexo oral na rua, e outro em que transam num motel (“Desci até o talo e acariciei o saco”) e até beijam na boca, “proibição máxima”.

O relato das preocupações de Sergio com os efeitos dos seus dotes, ternamente tranquilizadas por Mário, é um must da estética kitsch (“Você teve medo de me arregaçar, como se nunca se houvesse se acostumado com o próprio tamanho, como se por ser grande não fosse macio”).

O romance também inventa outras cartas escritas por Mário nos dez últimos dias antes de sua morte, em 25 de fevereiro de 1945, tendo destinatários como Bandeira, Tarsila e Oswald, os quais, nessa época, não mais figuravam como seus interlocutores principais. Claro, trata-se de ficção e não de história, mas fica evidente que o romance prefere destinatários célebres ao tratar de um assunto “tabu”.

No conjunto das cartas criadas, tanto Mário está valorizado como gay, de origem pobre e preta, como Oswald está vilanizado como racista, homofóbico e zeloso dos privilégios da elite. Assim, o primeiro declara ao segundo que “o chiste, o deboche, a crítica feroz, o sarcasmo, o cinismo, o ódio” são reação contra quem confronta “seus ideais de sala europeias” e “mimos de uma classe que não se conforma em perder com essa crise”.

Já nas cartas reais que Mário escreveu em 1945, as suas preocupações são outras: o Congresso dos Escritores, a confecção de “O Carro da Miséria” e “Meditação sobre o Tietê”, o lançamento de suas “Obras Completas”, o prefácio do livro de Chostakovitch, o “pavor” da morte etc., tendo Guilherme de Figueiredo e Murilo Miranda como correspondentes mais assíduos.

Se houver aí alguma unidade, não se dá em torno da sua sexualidade, mas sim de suas posições políticas, de sua consagração literária e dos cuidados com o seu legado intelectual ao país, aspectos todos dramatizados com a consciência de que, afinal, o escritor tem de assumir a sua “torre de marfim”, pois “não pode perder a sua profissão, se duplicando na profissão de político”.

As cartas reais de 1545 tampouco defendem identidade negra ou índia para o Brasil. Ironizando críticos estrangeiros, Mário escreve ao pintor Carlos Scliar: “Se esquecem que a nossa civilização é fundamentalmente europeia, e sonham com uma China ou uma África de quinze séculos atrás”. E acrescenta que, diante de obra brasileira, mesmo produzida na cidade, logo sentem o “perfume furioso da floresta virgem, o canto rouco dos índios em celebrações místicas, o diabo”.
Mas eu falei de romance prolixo. Além da invenção das cartas, o livro é composto de um pastiche bem feito de passagens relativas a Macunaíma; imagina-o como artista pioneiro a levar o picho para as galerias; monta uma colagem apoteótica com letras de música que vão do hino nacional até Marília Mendonça, a desfiar um rosário de misérias brasileiras, “em que todo mundo vai mamar nessa teta e iremos todos para casa do caralho”.

Há enfim um diálogo entre Roberto Piva e João Silvério Trevisan a representar o que Rabelo supõe ser uma “linhagem de escritores gays” a resistir “à boca suja de quem não gosta de nós”. Nem é preciso dizer mais para evidenciar que o talento humorístico de Rabelo invoca mais as lutas identitárias neste tempo de boçalidade bolsonarista triunfante do que uma leitura crítica verossímil de qualquer dos dois modernistas.

MISS MACUNAÍMA
Avaliação Bom
Preço R$ 69,90 (240 págs.)
Autor Alexandre Rabelo
Editora Record

Céu Cavalcanti é primeira travesti eleita presidente do Conselho Regional de Psicologia do RJ

A pernambucana Céu Cavalcanti, 32, teve um agosto agitado. No início do último mês, realizou o sonho de se tornar professora após ser contratada para dar aulas em uma universidade particular carioca.
Já no último dia 27, participou de um momento histórico. Travesti, ela se tornou a primeira pessoa não cisgênero -ou seja, que não se identifica com o gênero designado ao nascer- eleita para comandar um conselho profissional no país, o Conselho Regional de Psicologia do Estado do Rio de Janeiro. A informação é da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais).

“Eu sei o quanto isso significa para todas as pessoas trans e travestis desse país. Gradualmente, estou dando conta da dimensão histórica disso. Mas tenho que dizer que o mais importante é a dimensão coletiva que toma forma nesse lugar. Acabo desde esse lugar emprestando rosto a sonhos, desejos e construções absolutamente coletivas”, disse ela, eleita em chapa única.

Até maio de 2019, disforias de gênero –termo dado ao sentimento de que o sexo anatômico da pessoa não corresponde a sua identidade– eram consideradas transtornos mentais pela OMS (Organização Mundial da Saúde).

Naquele ano, ao revogar oficialmente a classificação, a OMS afirmou que era hora de reconhecer e diversidade humana e determinou que todos os seus países membros deveriam seguir a recomendação até janeiro deste ano.

O Brasil não esperou. Ainda em 2018, o Conselho Federal de Psicologia já havia publicado uma resolução na qual recomendava aos psicólogos que não tratassem travestilidades e transexualidades como patologias. O texto apontava ainda a importância do combate à transfobia e afirmava que as identidades de gênero devem ser autodeclaratórias.

Nascida no interior de Pernambuco, Cavalcanti fez psicologia pela UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e se mudou para o Rio em 2018 para estudar –ela é atualmente doutoranda em psicologia pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). No ano seguinte, ela foi eleita para o conselho regional.

“As eleições para o conselho do Rio sempre foram muito concorridas. Em 2019, tínhamos o acréscimo da situação política do país. Mas um grande movimento de articulação entre diferentes grupos da psicologia conseguiu assegurar o espaço democrático e alinhado às perspectivas de direitos humanos”, diz ela.
À época, Pedro Paulo Bicalho, professor da UFRJ e orientador de Cavalcanit, foi eleito presidente do conselho fluminense. Ela agora vai substitui-lo no cargo, enquanto ele irá assumir o comando do Conselho Federal de Psicologia.

Além do conselho regional, a psicóloga também é integrante da diretoria nacional da Associação Brasileira de Psicologia Social, do conselho consultivo da Associação Brasileira de Estudos da Trans-homocultura e da Articulação Nacional de Psicólogues Trans.

Muito animada, a presidente eleita diz estar, aos poucos, entendendo a importância do feito.
Cavalcanti também destaca os seus predecessores, como o psicólogo João Nery, primeiro homem trans a realizar a cirurgia de redesignação sexual no Brasil, em 1977. Ele foi impedido de atuar na psicologia por ser um homem trans.

“É imenso me pensar presidindo o local onde décadas atrás João Nery precisou optar por ser quem ele era ou sua vida profissional”, diz Cavalcanti.

Ela diz pretender fazer um mandato humanizado, pois considera a psicologia uma profissão de bem-estar. “É importante pensar na saúde como elemento intersetorial que se fortalece com a defesa e ampliação das diferentes políticas públicas. E a psicologia tem contribuído muito nesse campo”, afirma.
Durante os três anos de mandato, pretende continuar lecionando, o que sempre fora seu maior desejo e agora grande orgulho.

“É um desejo antigo poder estar nesse lugar de docente e, sem dúvidas, o fato de poder me saber professora fala também de um conjunto de alianças e mudanças culturais que passam a entender que alguém como eu pode ser par e professora em uma universidade. Essa é uma mudança significativa que a nossa geração de pessoas trans começa a viver”, diz.

BRUNO LUCCA
SÃO PAULO, SP

Foto de capa: Folha Press

Contarato propõe lei que garante registro de dupla maternidade ou paternidade

O senador Fabiano Contarato (PT-ES) protocolou nesta segunda-feira (29) um projeto de lei que garante o registro de dupla maternidade ou paternidade no Brasil. O parlamentar é casado com um homem e tem dois filhos, Gabriel e Mariana.

Segundo a proposta, o registro de nascimento, a carteira de identidade e o Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) conterão registro da dupla maternidade, paternidade ou família monoparental.

“É preocupante o fato de que diversos sistemas e bancos de dados públicos ignorem famílias de dupla maternidade ou paternidade ao só vincularem o cadastro ou o acesso a direitos e benefícios sociais ao nome de uma mãe. Quando são duas mães, portanto, uma acaba aleatoriamente suprimida da ficha”, afirma o parlamentar.

E segue: “No caso de dois pais, um deles se vê obrigado a assinar como mãe, mesmo que isso vá contra seu relacionamento parental”.

O projeto visa assegurar que os pais e mães em núcleos familiares homoafetivos sejam reconhecidos perante a Receita Federal no registro no CPF.

“Tal garantia é ainda mais imperativa desde que o número de inscrição no CPF passou a ser adotado como número único de identificação nacional”, afirma o parlamentar.

MÔNICA BERGAMO
SÃO PAULO, SP

Foto de capa: Folha Press

Camila Sosa Villada traz à Flip sua materialidade da vida travesti em literatura

“O Brasil é um país que conheço através de sua música, de seu cinema”, comenta a escritora Camila Sosa Villada enquanto acende um cigarro enrolado em frente ao computador. Então arregala os olhos e arremata. “E suas novelas, suas novelas!”

“Eu lembro que meus avós, quando eu tinha seis, sete anos, viam ‘Pantanal'”, continua a argentina, consciente até de que há um remake passando hoje na televisão. “Eu vi a original, então imagina, como não poderia falar de um realismo mágico latino-americano que me chegava até pelas telenovelas?”

Antes do ressurgimento de Juma, a literatura mágica de Villada já causava comoção no Brasil com o romance “O Parque das Irmãs Magníficas”, obra de inspirações autobiográficas que mistura o relato duro da prostituição de travestis com sofisticados traços de fantasia.

Agora, a autora vai aterrissar em pessoa no país como uma das convidadas da Festa Literária Internacional de Paraty, que acontece no litoral carioca de 23 a 27 de novembro. É a terceira autora confirmada no evento após a pesquisadora americana Saidiya Hartman e a poeta brasileira Cida Pedrosa.
Mas não será a primeira vez de Villada no Brasil. Ela conta que já conheceu Recife, Londrina e São Paulo, mas sempre como atriz em montagens teatrais. Agora se abrem ao público as cortinas da sua literatura, já que ela vem lançar a coleção de contos “Sou uma Tola por te Querer”.

Curioso como tudo está imbricado na carreira multiartística de Villada. Se ela esteve por aqui para encenar o monólogo “Carnes Tolendas” -que a tornou conhecida na Argentina a ponto de deixar para trás o trabalho como prostituta- e uma segunda peça sobre a vida da cantora Billie Holiday, ambas as histórias dão as caras na nova coletânea.

Não demora para que os leitores percebam que o conto que abre o volume, “Obrigado, Difunta Correa”, é um comovente relato sobre a estreia de Villada no teatro.

E a história que dá nome ao livro narra a convivência fraterna de duas travestis mexicanas com Holiday, ela mesma, em Nova York -para quem não percebeu, o título da coletânea traduz a canção “I’m a Fool to Want You”, que ganhou bela regravação na voz da cantora.

“A obra de Camila Sosa Villada exterioriza dores, delírios, desejos e violências do universo das travestis, transformando-os em símbolos exuberantes de vida e de sobrevivência”, diz Milena Britto, que compõe o trio curador da Flip com Pedro Meira Monteiro e Fernanda Bastos.

Além de “Sou uma Tola por te Querer”, a editora Planeta já comprou também os direitos para publicar “A Namorada de Sandro”, livro de poemas entremeado por alguma prosa poética.

Os textos de Villada costumam girar em torno da rotina sexual de travestis -como o divertido conto “A Noite Não Vai Permitir que Amanheça”, título poético para uma história de orgia descontrolada-, mas também se dispersam com destreza em outros territórios.

“A Merenda”, por exemplo, desenreda uma delicada reflexão racial quando uma garota pergunta para a avó porque o mamilo dela é marrom, quando o de todas as suas amigas é rosado. “Eu me sentia discriminada”, afirma a escritora, “era como se achassem que não era capaz de construir mundos, só de fazer crônicas sobre a minha realidade”.

“Soa um pouco trapaceiro quando dizem que estou escrevendo de novo e de novo sobre o mesmo tema. Talvez seja porque esse tema é muito mais notável que a heterossexualidade que regeu a literatura por tanto tempo, e ninguém parecia notar. Ninguém diz ‘ai, outra vez Hemingway falando de barbudos!'”.

O realismo mágico que transformou “O Parque das Irmãs Magníficas” em pérola -com mulheres virando animais e imagens de santas vertendo lágrimas- aparece menos em “Sou uma Tola por te Querer”.
Por outro lado, o sexo se faz muito presente. Quando ouve uma pergunta sobre os riscos de reforçar o estereótipo que hipersexualiza as mulheres trans, Villada diz não se preocupar.

“Nós vivíamos dentro do sexo, era o que nos dava de comer. Negar que fomos sexualizadas e tínhamos uma relação quase de dependência com isso seria hipócrita. Era uma potência do nosso corpo. Não estou fazendo ativismo, afinal, e sim falando de algo em primeira mão.”

WALTER PORTO
SÃO PAULO, SP

Foto de capa: Catalina Bartolomé/Divulgação

Primeira travesti brasileira a aparecer em novela é homenageada pelo Google

Quem abrir o Google nesta segunda-feira (22) vai encontrar uma homenagem à atriz brasileira Cláudia Celeste (1952-2018). A empresa informa que a data foi escolhida por marcar a primeira aparição dela em “Olho por Olho” (na extinta TV Manchete), em 1988, marcando a primeira vez que uma travesti teve um papel em uma novela brasileira.

“O Doodle de hoje celebra a vida de Cláudia Celeste, a primeira atriz transgênero a aparecer em novelas brasileiras”, conta a empresa, referindo-se à arte que ilustra sua logomarca na página de buscas. “Ela ganhou e organizou muitos concursos de beleza, e também foi cantora, dançarina, diretora, produtora e autora. Apesar dos obstáculos e desafios que enfrentou, Celeste virou uma figura inspiradora e abriu caminho para as futuras gerações de talentos transgêneros e LGBTQ+ no Brasil.”

Nascida em 1952 no Rio de Janeiro, Celeste começou a explorar sua identidade de gênero enquanto estava servindo o Exército, segundo o Google. Depois de servir, ela fez um curso e começou a trabalhar como cabeleireira em Copacabana, período no qual começou a transição.

Começou a carreira artística como dançarina da peça “Beco das Garrafas”, aos 20 anos. No ano seguinte, foi convidada para o espetáculo “O Mundo É das Bonecas”, no Teatro Rival.

Ela ganhou o título de Miss Brasil Pop em 1976 e, um ano depois, foi convidada para atuar na novela “Espelho Mágico” (Globo) após Daniel Filho vê-la em cena. Uma das cenas que gravou chegou a ir ao ar, mas a participação foi cancelada após um jornal carioca noticiar que ela era travesti.

Era época da ditadura, e exibi-la na TV era impensável para o regime. Com medo da censura, a produção decidiu suspendê-la. Nessa época, ela decidiu se mudar para a Europa para procurar outras oportunidades.

Ao voltar ao Brasil, Celeste desbancou outras 200 atrizes em um teste para o papel da prostituta Dinorah em “Olho por Olho”. Dessa vez, ela ficou do início ao fim da trama.

“Embora tenha enfrentado discriminação ao ser excluída do elenco quando sua identidade trans foi “descoberta”, ela avançou em novas oportunidades para o resto de sua carreira, consolidando seu legado como pioneira que lutou pelos direitos de artistas transgêneros e LGBTQ + em toda parte”, afirma o Google.

Ao longo da vida, Cláudia Celeste dançou e cantou em diversas casas de espetáculos, no Brasil e na Europa. Também fez peças, uma delas dirigida por Bibi Ferreira, e atuou em filmes.

Nos últimos anos, ela fazia parte do grupo de travestis Golden Divas, que se apresentava em uma casa em Copacabana. Cantava Elis Regina e Shirley Bassey e apresentava números de dança ao lado do marido, o também bailarino Paulo Wagner.

Ela morreu no dia 13 de maio de 2018, aos 65 anos, no Rio de Janeiro. Foi vítima de uma infecção pulmonar. Deixou, além do marido, irmãos e tios.

SÃO PAULO,SP

Candidaturas LGBTQIA+ crescem e chegam a 170 em 2022

Após as convenções partidárias, 170 candidaturas LGBTQIA+ foram oficializadas pelas siglas, número maior que o de 2018, quando foram 157. O levantamento é da organização VoteLGBT, que busca aumentar a representatividade dessa parcela da população.

“É um número histórico. Só mostra o quanto essa tendência de LGBTs ocuparem a política veio para ficar. Ainda estamos trabalhando em um cenário de muita desigualdade, só ocupamos 0,16% dos cargos políticos eletivos, mas é bom ver o avanço”, diz Evorah Cardoso, pesquisadora e integrante do VoteLGBT.
Ela diz que a distribuição de recursos receberá atenção especial da organização a partir de agora.

Nada garante que os partidos vão garantir condições financeiras para essas candidaturas. Vamos ficar em cima disso”, diz.

Por Guilherme Seto
SÃO PAULO, SP

Foto de capa: Bruno Santos/Folhapress

Jovens indígenas criam websérie sobre direitos 

Nesta terça-feira (9), quando é celebrado o Dia Internacional dos Povos Indígenas, será lançada uma websérie realizada por 20 jovens indígenas de quatro povos que vivem no Mato Grosso. Durante 13 dias, o grupo se reuniu na aldeia Wani Wani, na Terra Capoto-Jarina, aprendeu técnicas do audiovisual e refletiu sobre a importância da comunicação como ferramenta para defender e fortalecer direitos dos povos originários.

A websérie conta com sete curtas-metragens que estão disponíveis no canal do Instituto Raoni no YouTube.

Os curtas misturam cenas do cotidiano das aldeias com partes encenadas, entrevistas em português e em línguas nativas, cenas que resgatam a história, preservam a cultura e contam em primeira pessoa ao espectador sobre a vida de povos indígenas no Brasil.

O curso realizado entre os meses de maio e junho contou com oficinas e práticas audiovisuais coordenadas pelos cineastas indígenas Kamikia Kisedje e Arewana Juruna e por Simone Giovine.

O workshop de comunicação foi promovido pelo Instituto Raoni, organização do povo indígena Kayapó, com apoio da ONG Conservação Internacional.

O objetivo principal da atividade foi formar comunicadores e fortalecer a rede de divulgação de informações e de colaboradores que atuam no território Capoto-Jarina, na região Centro-Oeste.

“Os jovens são grandes protagonistas desse movimento de destacar e fortalecer as pautas indígenas”, afirma Vivian Fraga, coordenadora de projetos na Conservação Internacional.

“Os meios digitais e audiovisuais são fundamentais não apenas para comunicar a cultura, mas também para falar da realidade de seus territórios, que hoje são impactados por inúmeras violações ambientais.”
A iniciativa ocorre em um momento de diversos desafios para os povos indígenas. Além da paralisação da demarcação de suas terras, os povos têm enfrentado o desmatamento e o crescimento do garimpo ilegal.

Segundo dados do censo do IBGE de 2010, o Brasil abriga 817.963 mil indígenas de 305 etnias e que falam 274 línguas. A maioria dessa população é de jovens, como Matsi Waura Txucarramãe, 28, que participou do workshop.

Trabalhar com ferramentas audiovisuais, segundo ela, deu vontade de produzir mais. “Precisamos dar visibilidade à causa, à diversidade e à valorização dos comunicadores indígenas através dessa ferramenta que traz tantos sentimentos”, diz ela.

SÃO PAULO, SP

Foto de capa: Foto: Conservação Internacional (CI-Brasil)

Negros e pobres estão mais expostos a riscos ambientais em capitais, mostra estudo

Um estudo feito pelo Instituto Pólis nas cidades de São Paulo, Recife e Belém mostra que pessoas negras e de baixa renda são os grupos populacionais mais impactados por tragédias ambientais, como inundações e deslizamentos de terra. Entre os dois segmentos, famílias chefiadas por mulheres são as mais afetadas.

O levantamento, segundo o instituto, evidencia a manutenção do racismo ambiental, conceito que versa sobre a exposição de determinados grupos a ambientes insalubres e com pouca infraestrutura.

No Recife, por exemplo, o estudo identificou 677 áreas com risco de deslizamento, a maior parte delas concentrada em regiões de mangue e em bairros como Afogados, Jardim São Paulo, Iburas e Areias.
Nesses locais, a proporção de pessoas negras é de 68%, enquanto a taxa de domicílios chefiados por mulheres de baixa renda gira em torno de 27%.

A presença majoritariamente preta se repete em áreas com risco de inundação da capital pernambucana, onde o índice chega a 59%. Residências chefiadas por mulheres que ganham até um salário mínimo representam 22,1% dos imóveis em regiões suscetíveis a alagamentos.

Em Belém, por sua vez, uma em cada cinco moradias em áreas de risco de inundação ou de erosão causada pela água é comandada por mulheres de baixa renda.

O estudo ainda mostra que, na capital paraense, as 125 áreas sob risco de uma tragédia ambiental não coincidem com os bairros de maior poder aquisitivo da cidade, em que a proporção da população branca também é maior.

“É preciso direcionar as atenções e as ações para esses grupos. São os mais afetados pelos desastres ambientais agravados pelas mudanças climáticas e que vivem cotidianamente com a falta de serviços básicos e em situações de risco”, diz o estudo do Pólis, que também faz um alerta para a prevalência de doenças oriundas de serviços precários de fornecimento de água e de saneamento.

Segundo dados compilados pelo levantamento, a população negra de Belém e do Recife é a mais acometida por doenças transmitidas por meio da água, representando 66% e 64% dos casos, respectivamente.

Das hospitalizações ocorridas nas duas cidades no ano passado em função do agravamento dessas enfermidades, 51% das pessoas internadas em Belém e 53% das pessoas que ocuparam leitos no Recife eram pretas ou pardas.

“O estudo mostra que os impactos ambientais nas cidades são socialmente produzidos. Não são apenas fruto de eventualidades climáticas, mas, sim, resultado da negligência do poder público”, afirma a pesquisadora do Instituto Pólis Ana Sanches. “Esse desequilíbrio é, em parte, a expressão da injustiça socioambiental e do racismo ambiental nas cidades”, continua.

Os padrões vistos em Belém e Recife também se repetem na maior cidade do país, São Paulo -a proporção de pessoas negras em áreas com risco de deslizamento é de 55%. Essas regiões estão concentradas nas zonas norte e sul e em diversas áreas mais empobrecidas da zona leste e no extremo oeste da capital paulista.

Distribuição de recursos de forma desigual, falta de planejamento urbano e ausência de políticas públicas para sanar esses problemas seriam algumas das negligências sistêmicas do poder público nas três capitais, segundo o estudo.

“O racismo ambiental fica evidente quando as consequências das degradações ambientais se concentram em bairros e territórios periféricos, onde vivem famílias mais pobres e onde há maior concentração de pessoas negras, indígenas e quilombolas”, diz o Instituto Pólis.

POR MÔNICA BERGAMO
SÃO PAULO,SP

Foto de capa: Fotos Públicas

Movimentos sociais fazem protesto em Biblioteca Mário de Andrade

Dois movimentos sociais ocuparam nesta quarta-feira (3), de forma simbólica, as cadeiras e mesas da Biblioteca Mário de Andrade, na República, região central de São Paulo, em protesto contra os ataques racistas e homofóbicos ocorridos no local no dia anterior.

O Movimento Raiz da Liberdade e o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) foram à biblioteca com faixas e bandeiras para afirmar que não aceitarão a ocupação de espaços públicos por “gente fascista que só quer disseminar ódio e preconceito”.

Na terça-feira (2), Wilho da Silva Brito, 39, foi preso após uma série de afirmações racistas e homofóbicas na biblioteca. Os ataques foram registrados em vídeo que circula nas redes sociais. O Tribunal de Justiça de São Paulo converteu a prisão do homem em preventiva e ele deve ser encaminhado para um CDP (Centro de Detenção Provisória).

Wilho estava com os livros “Minha Luta”, de Adolf Hitler, e “Uma Breve História do Tempo”, de Stephen Hawking.

Na manifestação desta quarta, integrantes dos movimentos sociais leram páginas de livros como “O Alienista”, de Machado de Assis, e “Não Culpe sua Mãe”, de Paula Caplan.

Nas escadarias da biblioteca, os ativistas afirmaram, em jogral, que a biblioteca é um espaço de cultura, aprendizado e conhecimento e não de estupidez.

“O objetivo do ato foi mostrar que um espaço de cultura e conhecimento não é espaço para racismo e lgbtfobia. Não iremos nos calar. Basta de discurso de ódio e da naturalização do absurdo”, disse Ediane Maria, coordenadora dos dois movimentos.

Segundo a Prefeitura de São Paulo, responsável pela biblioteca, o acusado já havia causado outros problemas no local.

Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Cultura repudiou as falas e as atitudes “nazistas, homofóbicas e racistas”. Segundo a nota, “o espaço é marcado pelo respeito às diferenças de gênero, raça, orientação sexual e pela celebração da diversidade”.

Ainda de acordo com a prefeitura, as equipes da biblioteca e de outros equipamentos culturais da cidade têm passado por treinamentos para lidar com atitudes racistas, transfóbicas e misóginas. Há também um trabalho de conscientização dos funcionários.

“A Prefeitura esclarece que as pastas da Cultura e de Direitos Humanos e Cidadania estão em diálogo para tratar do caso”, finaliza a nota.

POR CRISTINA CAMARGO
SÃO PAULO,SP