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DAY: “Eu fico feliz que as pessoas aceitam quem elas são”

Em 2017, quando participou do programa musical “The Voice Brasil”, Day chamou a atenção pelos seus dons artísticos e pela sua personalidade marcante. Depois de quatro anos da sua participação no programa, muitos singles lançados e um álbum a caminho, ela ainda busca projeção para o seu trabalho . 

“Agora eu realmente me sinto muito mais confortável para falar e me expor. Eu ainda não tive a oportunidade de ir a programas de TV novamente desde o The Voice, além de algumas coisas pontuais no Multishow e na MTV, ainda não tive a oportunidade de cantar ao vivo em algum outro lugar. Tenho muita curiosidade pra saber como vai ser, porque hoje me sinto muito mais pronta pra me colocar nessa exposição”. 

Antes de participar do programa integrando a equipe de Lulu Santos, ela já tinha ficado famosa por participar de composições de artistas renomados, como a música “Não perco meu tempo”, da cantora Anitta. “Eu não me considero famosa ainda, pode ser que eventualmente eu me considere”, ri a cantora enquanto responde a entrevista por chamada de vídeo em seu apartamento. 

Apesar de toda desenvoltura que tem nas redes sociais e a naturalidade com que mostra seu namoro com a também cantora e participante do The Voice Brasil, Carol Biazin, as coisas nem sempre foram assim tão fáceis para ela. Day foi por muito tempo uma assídua seguidora de igrejas evangélicas, pensou até em ser pastora, e isso fez com que demorasse muito tempo para conseguir aceitar sua sexualidade. “Cresci reproduzindo a homofobia e tudo que me ensinaram e me falaram. Várias pessoas da comunidade LGBT chegavam em mim, quando era da igreja, e eu falava que tinha ‘vencido as tentações’, mas quando chegava em casa era uma tristeza absoluta porque eu sabia que aquilo não era verdade”, desabafa. 

“Até o momento que eu falei ‘eu sou lésbica’ e quando eu decidi aceitar isso, eu nunca mais olhei pra trás em relação a minha sexualidade. Aí eu comecei a agir como eu sou, finalmente”.

Hoje ela tem 789 mil seguidores só no Instagram e 451 mil visualizações no seu último single “Finais mentem” no Youtube e está em uma posição de exemplo e espelho para garotas que assim como ela, estão passando pelo processo de assumir e entender a sua sexualidade. “Quando lancei o primeiro trabalho e a primeira palavra do single era ‘mina’ eu não sabia da grandiosidade disso. Até me sugeriram ‘você não quer trocar o pronome? o mercado vai se abrir mais pra você’, e pra mim era só uma palavra. Não fazia diferença. Eu queria falar sobre o que eu estava sentindo”.

Ainda que trate sua sexualidade de maneira muito natural – como deve ser, ela entende que falar sobre isso é importante para outras pessoas que estão passando pelo processo da autoaceitação.

“Me coloquei nessa posição mas sem me cobrar muito. Eu não quero falar só sobre isso. Eu também posso fazer e falar outras coisas e ser lésbica. Sempre tento ter muito cuidado para as pessoas não me enxergarem só assim e não me chamarem só pra falar disso, mas ao mesmo tempo entendo o peso que isso tem. Quando eu era mais nova muitas coisas me ajudaram, principalmente a arte. Vivi imersa na música e na arte, e artistas que eu admirava se assumiram e foi importante pra mim. Eu fico feliz que as pessoas aceitam quem elas são.”

No entanto, ela entende que existem pessoas que podem não estar em segurança para se assumir para familiares, e que podem correr riscos.

“Eu me assumi bem nova e depois de um ano eu saí de casa. Já tava me bancando então é um processo diferente. Minha mãe se doía muito, mas ela tinha que lidar com isso. Eu não tinha como fazer isso por ela”, pondera.

Infelizmente, isso não impede que ela seja vítima de lesbofobia.“Tive uma experiência horrorosa uma vez e me senti horrível. Fui ver a Carol em Curitiba quando ela morava lá, e aí lembro que cheguei de madrugada na rodoviária, eu entrei no táxi e era bem perto da casa dela. Não fiquei nem 6 minutos no carro. Eu estava um pouco mais feminina, por que é isso que é sexualizado. O cara deu em cima de mim e eu dei uma cortada e ele perguntou o que eu estava fazendo em Curitiba e falei ‘vim ver minha namorada’, e ele ‘ah não, mentira, que desperdício, uma mina bonita dessa’. E ele continuou perguntando coisas como quem era o homem da relação e eu fui ficando incomodada e me bateu um pouco de medo. Pedi pra ele abrir o carro pra eu descer e ele percebeu que estava sendo inconveniente e foi baixando a bola, mas eu já estava com um pouco de medo. Foi a primeira vez que passei por uma situação assim”. 

Agora, Day está se dedicando para lançar seu primeiro álbum. Algumas faixas que estarão presentes no trabalho começaram a ser lançadas desde segundo semestre do ano passado. “Dilúvio” foi o primeiro single, seguido por “Não Gosta de Mim” e “Finais Mentem”. A ideia da cantora e equipe é lançar um quarto single para acompanhar a estreia do álbum, mas ela confessa que a pandemia está “desacelarando” o processo.

“Meu álbum é muito pessoal. Todos os meus trabalhos são sempre muito pessoais. Eu costumo falar que só não me conhece quem não quer. As pessoas acompanham minha evolução e a minha vida através das músicas se elas prestarem atenção. Meu primeiro trabalho estava me apaixonando, escrevi sobre isso. No segundo trabalho estava me descobrindo e me entendendo e escrevi sobre isso. E agora esse álbum tá acontecendo no meio da pandemia, né? Não tinha outro lugar pra ir, a não ser eu mesma. Foi um processo muito intenso, muito doloroso, mas ao mesmo tempo muito bonito, muito mágico e me trouxe muita luz e muita perspectiva”.

Ela é uma das personalidades da onda pop punk no Brasil, estilo musical que está estourando de novo, graças a artistas como Olivia Rodrigo. Day conta que, em 2019, quando começou a fazer shows com banda, ela quis resgatar elementos que ela ouvia nas músicas quando era mais jovem e se sente feliz por poder contribuir com esse retorno musical no Brasil. 

“Eu precisava me reconectar com esse gênero porque foi o que me fez começar a cantar em primeiro lugar. foi muito louca essa transição pra mim, muito natural e muito necessária. Queria lançar logo [um cd com essa sonoridade pop punk] e agora faz muito mais sentido. Parece que o universo tava conspirando ao meu favor. As pessoas não estavam entendendo. Eu pedia pra colocar mais guitarra, mais bateria e elas não entendiam. Me sinto visionária”, ri. 

Com todo esse histórico, ela foi convidada para ser a embaixadora do projeto da Vans no Brasil. A marca escolheu quatro iniciativas ao redor do mundo que prestem serviços para pessoas LGBTQIA+ para contribuir no mês do orgulho. “Dois anos atrás, no mesmo tempo que eu tava tendo essa pegada do pop punk , coloquei na cabeça que um dia eu iria trabalhar com a Vans. Comecei a construir uma relação com a marca, fiz alguns trabalhos com eles e quando me chamaram pra ser embaixadora, especialmente desse projeto, me dá um sentimento de realização muito grande. Isso me mostra que eu realmente preciso ser um pouco mais visionária. Vale muito a pena ser sua versão mais autêntica,” finaliza.

Saiba mais sobre a campanha da Vans aqui

Taubateana e Jornalista.

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