Por Daniele Gross, voluntária da Biblioteca Comunitária Caio F Abreu
Ilustração: Gustavo Inafuku
Por Daniele Gross, voluntária da Biblioteca Comunitária Caio F Abreu
Ilustração: Gustavo Inafuku
Atenção: A reportagem abaixo mostra trechos explícitos de conteúdo misógino e racista. Optamos por não censurá-los porque achamos importante exemplificar como o debate é violento na internet, como a violência política contra mulheres se espalha pelas redes e é sexista em suas formas, quais termos são frequentemente direcionados às candidatas ofendidas e como podemos identificá-la.
Alusões a loucura, histeria ou doenças mentais são a principal forma encontrada pelos usuários do Twitter para se dirigir às candidatas a cargos do Executivo e do Legislativo brasileiros nessa eleição. Na primeira semana de campanha, o MonitorA 2022 registrou 518 aparições de termos como louca, doida, maluca, desequilibrada, histérica e descontrolada relacionados às candidatas nas redes sociais. Também entram na conta postagens que sugerem que elas “se tratem”, “se mediquem” ou “se internem em uma instituição psiquiátrica”, entre outras referências semelhantes.
A associação preconceituosa a doenças e distúrbios mentais predominou nos tweets avaliados pelo projeto, que é uma parceria entre AzMina, InternetLab e Núcleo Jornalismo e, nesta edição, acompanha perfis de 175 candidatas a cargos eletivos. Para essa matéria, foram analisados manualmente mais de 10 mil tweets coletados entre 17 e 22 de agosto, contendo 4.468 ataques e/ou insultos dirigidos a 97 candidatas.
FEMINISMO E DIREITOS HUMANOS SEM INTERMEDIÁRIOS
Os resultados da primeira semana de avaliações mostram que a histórica atribuição de estereótipos de loucura e histeria a mulheres que levantam a voz segue sendo uma das principais ferramentas de tentativas de controle sexista. Adjetivos como “maluca” e “descontrolada” e questionamentos como “você esqueceu de tomar seu remedinho hoje?” aparecem para candidatas dos mais diferentes espectros políticos.
Dá pra notar que crítica política não aparece nas postagens. Só a desqualificação das mulheres, como destaca a psicóloga Giovana Durat, que pesquisou recentemente os impactos das questões de gênero na formação das subjetividades das mulheres. “A pessoa é tão “indigna” de estar ali que não se chega a pensar que o que deve ser questionado é a atuação política e não sanidade”.
São vários os efeitos deste tipo de comentário, segundo ela. “Corroborar esse tipo de narrativa é extremamente danoso por vários motivos. Primeiro, porque perpetua a ideia de que mulheres que se posicionam são desequilibradas, estão “doidas”. Segundo, porque contribui para o entendimento de que ‘desvios de caráter’ são patologias ou doenças mentais e que transtornos levam a formas de agressão ao outro”, detalha.
LEIA MAIS: COMPLICADAS DEMAIS PARA SEREM ESTUDADAS?
Além de reforçar estereótipos sexistas, também contribui com a manutenção da medicalização social. “Há um estigma muito grande sobre loucura, sobre adoecimento psíquico, sobre transtornos, e esse recurso [usá-los para atacar candidatas] demonstra desconhecimento e reflete muito o lugar que a loucura ocupou por muito tempo na sociedade”.
“Louco era quem não se adequava à norma, quem questionava os padrões e era considerado incapaz de tomar decisões por si só e pelos outros”.
Além da menção a doenças mentais, termos como idiota, imbecil, analfabeta, despreparada, incompetente e fracassada também são empregados com a finalidade de desqualificar as candidatas. Associados a eles, recursos de silenciamento como “cala a boca” e “fica calada” sugerem a elas que não se manifestem. “Posições que fogem ou questionam a norma social são severamente punidas e isso é violência de gênero: uma punição a um desvio de um papel estabelecido socialmente. Por trás desses xingamentos e insultos há uma questão de poder”, reforça a psicóloga.
1 EM CADA 3 TWEETS TRAZ OFENSAS ÀS CANDIDATAS
O monitoramento de violência política de gênero analisou 10.346 postagens potencialmente ofensivas (confira ao final da matéria a metodologia de filtragem e classificação). Ao todo, 30,76% das publicações, ou seja, 3.182, tratam as candidatas com algum nível de hostilidade. Em quase 900 delas, foram identificadas pelo menos duas ofensas.
Misoginia é principal categoria de ofensas às candidatas na primeira semana de campanha
O discurso misógino é o principal tipo de ofensa, incluindo narrativas que diminuem as candidatas ao questionar sua capacidade intelectual, insultar seus corpos e questionar sua moral. Há ainda a presença de termos racistas, com preconceito étnico ou regional.
A desumanização, que associa as candidatas a animais – porca, jumenta, cobra – também é um recurso comum entre os haters. Neste levantamento, o termo mais usado foi “Peppa Pig”, que aparece em 372 posts. A referência ao desenho animado é usada em investidas contra a candidata à reeleição como deputada federal Joice Hasselmann (PSDB-SP), parlamentar mais citada em ataques nesta primeira semana de campanha.
“Quando você decide se referir a uma candidata usando substantivos utilizados para nomear animais, você nega o lugar de humano para aquele sujeito específico. Essa é uma antiga tática para alimentar a ideia de que algumas pessoas não merecem nem ao menos serem assim consideradas. No caso das candidatas, vemos um movimento similar. Você nega que elas ocupem o espaço da política, reduzindo-as a um sujeito não-humano”, explica Fernanda Martins, antropóloga, diretora do InternetLab e uma das responsáveis pela pesquisa.
Posts que inferiorizam ou promovem descrédito intelectual das candidatas monitoradas são quase 17% dos ataques. “As ofensas morais e a inferiorização das candidatas, por sua vez, cumprem o papel de reforçar o suposto despreparo para que elas ocupem a política institucional. “Lixo” e “porcaria” são exemplos dessa tentativa de inferiorização”, complementa Martins.
Mais do que agressivos, os detratores são criativos. Além dos tweets com ataques misóginos e desumanizadores, também há outras modalidades de ofensas voltadas diretamente ao corpo ou à aparência: são tweets gordofóbicos e etaristas, que usam termos como “velha”, “múmia” e “gorda” ou recomendam que a candidata “vá fazer uma bariátrica”.
Embora a plataforma tenha políticas para impedir o assédio sexual, a reportagem encontrou 37 casos assim. Joice Hasselmann, Maria do Rosário, Gleisi Hoffmann e Mayra Pinheiro são as que concentram mais menções deste tipo.
Em alguns casos, as ofensas de cunho sexual também reproduzem antigos ataques a vítimas de violência, como acontece com a deputada Maria do Rosário.
HOSTILIDADE ÀS MULHERES É PROPOSITAL
Embora nem todos os tweets considerados ofensivos possam ser taxados de violentos, 1.683 publicações contêm algum tipo de insulto, contribuindo para criar um ambiente hostil às mulheres da política. A gerente de projetos de Jornalismo de Dados d’Azmina, Ana Carolina Araújo, explica que diferenciar ofensas e insultos é um ponto metodológico importante para preservar a liberdade de expressão. “Não queremos o fim das discussões nas plataformas, mas é notável a maior animosidade guiada pelo gênero”.
“Todos os tipos de violência são um entrave à participação da mulher, uma forma muito eficiente de excluir mulheres do jogo político. Este é inclusive um ponto onde as atuais parlamentares concordam: é necessário um ambiente mais saudável para que as mulheres possam atuar politicamente”, comenta a doutora em Ciência Política Cristiane Brum Bernardes. O próprio Observatório Nacional da Mulher na Política, criado pelas parlamentares neste ano, é uma iniciativa para combater a violência política de gênero.
LEIA MAIS: MEDO, MORTE E ABANDONO RONDAM DEFENSORAS DO MEIO AMBIENTE
Nas redes sociais, o alto volume de publicações incluindo palavras como patética, hipócrita e corrupta, por exemplo, ou textos que acusam as candidatas de defender bandidos e defender estupradores, tornam o campo mais desconfortável. Não parece coincidência que, mesmo quando estão na política, mulheres sejam atacadas através de sua relação com os homens.
Também são recorrentes expressões como “tome vergonha”, “crie vergonha”, “você não tem vergonha?” e “tenho vergonha de ter votado em você”. Para Cristiane Brum Bernardes, esses ataques não reconhecem como legítima a presença das mulheres na disputa pelos espaços de poder. “Um homem vai ser atacado por ser de determinado partido, por fazer algo ou não, concordar ou não com minha posição. Mas, no caso das mulheres, é um ataque contra a presença delas na política, que diz ‘você não deveria estar aqui fazendo isso’. Isso nunca é dito para um homem”.
Os termos mais utilizados para atacar as candidatas mais ofendidas na primeira semana de campanha
Essas formas de se dirigir às candidatas mostra que a necessária divisão entre sua atuação pública e sua vida privada não é respeitada. Pelo contrário, é usada como arma para diminuir e desencorajar. “São adjetivos como ‘mal comida’, ‘mal amada’, sempre remetendo ao corpo, à sexualidade, às questões particulares das mulheres, é um conteúdo muito diferente do que os homens recebem”, detalha Brum.
A professora reforça ainda que, no caso dos comentários relacionados à aparência, mesmo quando são elogiosos, podem jogar contra a candidata. “O que está sendo comunicado com este tipo de comentário é que elas não têm conteúdo, que são apenas corpos bonitos para decorar o ambiente. O que legitima essa opinião pública sobre o corpo da mulher?”.
QUEM É A VÍTIMA?
Uma olhada rápida para o ranking de candidatas mais atacadas na primeira semana de campanha mostra ofensas distribuídas por todos os espectros políticos e voltadas a pessoas de diferentes grupos étnicos.
Joice Hasselmann (PSDB-SP) – de novo – recebeu quase metade das ofensas mapeadas (2070). Ela é alvo preferencial dos apoiadores do presidente e candidato Jair Bolsonaro (PL). Além dos termos gordofóbicos, desumanizadores e misóginos, também a perseguem por ter rompido com o antigo aliado. “Peppa pig”, “porca”, “traíra/traidora”, “ridícula” e “tome vergonha” ou “você é uma vergonha” são os termos mais encontrados, além de mais de 50 referências à violência física sofrida pela deputada em 2021.
Outra opositora do bolsonarismo, Gleisi Hoffmann (PT-PR), que concorre para deputada, é a segunda mais ofendida (822 xingamentos). No caso da petista, a maioria das agressões a relaciona à corrupção e apoio ao ex-presidente e atual candidato Luís Inácio Lula da Silva (PT-SP). As principais ofensas são “amante”, “tome vergonha” e “mentirosa“. Aparecem ainda “ridícula”, “ladra”, “corrupta” e acusações de “defensora de criminosos”. Alguns tweets reúnem tantas agressões, que fica explícita a finalidade exclusiva de atacar e dificultar a presença da candidata na rede.
A senadora Janaína Paschoal (PRTB-SP) ocupa o terceiro lugar na lista, e é a mais atacada com ofensas carregadas de psicofobia e capacitismo. Termos como “mimimi”, “louca”, “doida” e “descontrolada” são mais usados contra ela e contra a deputada federal Maria do Rosário (PT), chamada adicionalmente de “feia” e “velha”.
As três candidatas à presidência também são vítimas, embora Vera Lúcia (PSTU-PE) tenha menos menções. As senadoras Simone Tebet (MDB-MT) e Soraya Thronicke (União Brasil-MT) são alvos preferenciais dos bolsonaristas. No caso da emedebista, não faltam referências à atuação da parlamentar na CPI da Covid. Já Thronicke é acusada de se aproveitar do candidato para ganhar projeção, pois se elegeu pelo PSL, então partido do ex-presidente, com o slogan “a senadora do Bolsonaro”.
Entre as candidatas a uma cadeira na Câmara Federal, as mais atacadas são Mayra Pinheiro (PL-CE), conhecida por sua atuação na pandemia de Covid-19 defendendo o uso da hidroxicloroquina; a ativista pelos direitos dos povos indígenas e já deputada Sônia Guajajara (PSOL-SP), a deputada preta Benedita da Silva (PT-RJ) e a candidata transgênero Duda Salabert (PDT-MG).
A violência política de gênero nas redes é um aspecto central nestas eleições, onde se espera que tanto aplicativos de conversação quanto sites de relacionamento sejam centrais para os debates políticos. Ao mesmo tempo, será a primeira que ocorre já sob a vigência da Lei de Combate à Violência Política contra a Mulher (Lei 14.192/2021), que oferece novas ferramentas para coibir as agressões e estimular a participação de mulheres na política institucional. O resultado dessa combinação, conheceremos em breve.
O MonitorA é um observatório de violência política online contra candidatas(os) a cargos eletivos. O projeto é uma parceria entre a AzMina, o InternetLab e o Núcleo Jornalismo. A iniciativa é financiada por Luminate e Reset. A metodologia pode ser consultada aqui e aqui.
Metodologia
Foram monitorados 200 perfis de candidatas – 175 mulheres e 25 homens – no Twitter. Entre 17 e 22 de agosto, o levantamento resultou em 130.454 tweets direcionados a elas. A partir de um dicionário composto de palavras ofensivas, misóginas, sexistas, racistas, lesbo, trans e homofóbicas, coletamos, neste mesmo intervalo, 11.837 tuítes que continham as palavras deste léxico ofensivo, mas que precisavam de um olhar de contexto para determinar se eram ataques ou não. Em seguida, excluindo linhas repetidas desta amostra inicial, fizemos uma análise qualitativa de 10,3 mil tweets. Todos foram lidos um a um por um grupo de 8 codificadoras, para identificar se o conteúdo era ou não um ataque, ou insulto direcionado às candidatas. Os dados foram analisados quantitativamente a partir dessa categorização manual. Todas as porcentagens apresentadas na matéria são referentes a estes 10,3 mil tweets analisados qualitativamente. – Link para a matéria: https://azmina.com.br/reportagens/monitora-2022-misoginia-ofensas-candidatas/ –
Por Juliana Salles de Siqueira, voluntária da Biblioteca Caio Fernando Abreu
Pablo Vittar, Lia Clark, Chameleo, Quebrada Queer e Tazo estão entre as principais atrações do evento que acontece no próximo dia 12 de agosto, no Stage Music Park
Por Camila Mabeloop, voluntária de Comunicação da Casa 1
Três pré-candidatas negras a deputada estadual falam sobre a necessidade de mais mães na política institucional
Confesso que demorei bastante para aderir à onda dos podcasts e, avaliando bem, acho que teve um pouco a ver dos conteúdos que tive acesso inicialmente: em geral pessoas conversando de forma meio aleatória e desconexas, edições frenéticas, muitas indicações e achismos, como uma rádio turbinada com a linguagem dos jovens youtubers.
Nada disso é um problema, não acho ruim, só não é o tipo de conteúdo que eu dou conta de assimilar e quando penso em uma palavra para descrever o que sentia ouvindo os episódios só me vem à cabeça o termo DESORIENTADO. Quando descobri então que as pessoas ouviam adiantando a velocidade aí meu sentimento virou DESORIENTADO + DESESPERADO.
Mas como tudo nesse mundão, os podcasts passaram a ter uma variação de formatos e aos poucos fui encontrando os que mais me interessavam e resolvi compartilhar por aqui, quem sabe você leitor que não é muito afeito, acabe encontrando algo do seu agrado.
O “Vinte Mil Léguas” é uma produção da revista “Quatro Cinco Um” em parceria com a Livraria Megafauna e apoio do Instituto Serrapilheira, criado pela jornalista e curadora Fernanda Diamant que também edita os roteiros dos episódios.
Conduzido pelas escritoras e roteiristas Leda Cartum e Sofia Nestrovski, que são responsáveis também pela pesquisa e roteiros dos episódios, o “Vinte Mil Léguas” é um podcast que apresenta a “ciência através dos livros” e “lê os cientistas como escritores” e na sua primeira temporada traz a trajetória de Charles Darwin.
O mais legal do “Vinte Mil Léguas” é o tempo, como já aponta o primeiro episódio “Um navio com nome de cachorro, pt. I”, o podcast segue como uma jornada de barco, calma, morosa, longa e em meio às muitas informações, curiosidades, reflexões e análises é possível relaxar e curtir.
São 10 deliciosos episódios com duração entre 20 e 46 minutos, três pequenos episódios bônus de até 12 minutos e duas entrevistas, uma com a bióloga Nurit Bensusan que fala sobre a ciência nos dias atuais e o sociólogo Matheus Gato de Jesus que aborda racismo, darwinismo social e a situação dos negros no Brasil nos séculos 19 e 20.
Os episódios estão disponíveis em uma dezena de tocadores de áudio e também no Youtube. O mais legal é que a cada episódio, a revista traz em suas páginas online informações complementares como mini biografias, imagens e referencias bibliográficas. Tudo isso você encontra aqui.
E toda essa lindeza é mérito do trabalho das profissionais já citadas e também do Nicholas Rabinovitch, responsável pela edição e finalização de som, do Fred Ferreira da Trilha Sonora e execução de trilha, da Deborah Salles que fez o projeto gráficos e as ilustrações (como a daqui de cima), da produtora executiva Mariana Shiraiwa, do Gabriel Joppert que edita as newsletters e do Reinaldo José Lopes, responsável pela revisão técnica.
Que venha a próxima temporada!
Aqui confesso que fui ousado, o humor de “Respondendo em Voz Alta”, não é para todo mundo, mas se você gostar, vai gostar MUITO. Completamente nonsense, com reflexões existencialistas sem profundidade nenhuma (ou não) e informações bem apuradas e corretas (ou não) o “programa de rádio” da persona Laurinha Lero é daquelas coisas que você acompanha com o sorriso largo no rosto. Tampouco é possível descrever qual o formato, ou o tempo dos episódios, levando em conta que variam significativamente de acordo com o humor da apresentadora.
Destaque para o descritivo do podcast no Spotify: “Laurinha Lero responde em voz alta, toda quinzena, as melhores perguntas dos ouvintes. Se você nunca ouviu o Respondendo, comece pelo 12 da primeira temporada ou por qualquer outro que não seja o piloto, pelo amor de deus. Arte por @mttscz, música por @bacaliau. Se você quiser aparecer no Respondendo, manda a sua pergunta lá no t.me/laurinhalero mas se for muito longa eu não vou ouvir”.
Ouça todos os episódios aqui.
Tinha preparado todo um texto para falar porque ouvir a Radio Escafandro, mas como bom jornalista, o Tomás Chiaverini, responsável pelo podcast já traz no site qual sua proposta:
A Rádio Escafandro é um podcast para mergulhos profundos. Os temas vão de política a ciência, de cultura a saúde, de urbanismo a comportamento. A abordagem é sempre jornalística, mas tem um pé na literatura e outro na filosofia. Os princípios que norteiam a produção são:
– Busca pela verdade dos fatos
– Busca por clareza na comunicação
– Busca por originalidade e pluralidade
– Busca por uma estética atraente
Com uma hora de duração e frequência quinzenal, os episódios contam com diversos entrevistados cada um e são editados num formato narrativo, que também varia de acordo com o tema retratado. No ar desde fevereiro de 2019, a Rádio Escafandro é mantida exclusivamente pelos ouvintes por meio de uma campanha de financiamento coletivo. Faz parte da rede de podcasts jornalísticos Rádio Guarda-Chuva, e do B9.
O podcast foi criado e é produzido, editado, sonorizado e apresentado pelo jornalista e escritor Tomás Chiaverini e conta com Trilha Sonora Original de Paulo Gama e Mixagem de Som do Vitor Coroa.
Particularmente o que mais gosto na “Radio Escafandro” é o tempo e o cuidado de construção das narrativas. Nada é acelerado e nenhuma colocação é posta como definitiva. Tudo é muito bem feito e respeitoso. Vale o play.
Você pode ouvir todos os episódios aqui.
“Praia dos Ossos” foi a minha porta de entrada para o mundo dos podcasts e foi com ele que percebi as infinitas possibilidades do formato e principalmente sua potência. São oito brilhantes episódios e uma mega equipe que se debruçam no feminicídio da modelo e socialite Angela Diniz.
Falando assim parece que se trata apenas de mais uma vertente dos programas “True Crime” que inundam canais de televisão e serviços de streaming, mas não, o que “Praia dos Ossos” faz é uma grande investigação e análise aprofundada (nada razo como textão de redes sociais) de como a sociedade brasileira trata as mulheres. Para sua construção foram realizadas mais de 50 entrevistas, 80 horas de material gravado, e milhares de páginas de bibliografia que são apresentadas no podcast e neste site lindão.
Cabe destacar ainda a pluralidade de formato dos episódios, que variam conforme a necessidade de cada tema apresentado mas que, graças à qualidade técnica da equipe funciona perfeitamente apresentando uma unidade surpreendente, e sempre naquele tempo certeiro: nem lento demais para dar sono, nem rápido demais pra deixar a gente desorientado.
Apresentação e idealização é da Branca Vianna, a pesquisa e coordenação de produçãoFlora Thomson-DeVeaux, que inclusive deram uma aula aberta na Casa 1 que você pode assistir aqui.
Créditos também para o roteiro de Aurélio de Aragão e Rafael Spínola, tratamento de roteiro da Flora Thomson-DeVeaux e Paula Scarpin, montagem da Laís Lifschitz, produção da Claudia Nogarotto, finalização e mixagem do João Jabace, direção criativa da Paula Scarpin, coordenação digital de Kellen Moraes, música original do Pedro Leal David, música complementar da Blue Dot Sessions e Mari Romano, pesquisa audiovisual do Antonio Venancio, locução de Ingo Ostrovsky, captação de Caio Barreto, Daniel Zema, Felipe Fantoni, Rafael Facundo, Rodrigo Pereira, Tales Manfrinato, Estúdio Rastro e Studio Natrilh, identidade visual de Elisa Pessôa, motion design da Marina Quintanilha, content design de Mateus Coutinho, redes sociais da Ana Beatriz Ribeiro e Isabela Moreira, web design e desenvolvimento da agência Café, campanha de mídia da Luciele Almeida, checagem do Érico Melo, transcrição de Júlio Delmanto, Ana Martini, Carol Caldas Ramos, Raphael Concli, Isabel Scorza, Pedro Gutman e Carol Unzelte e revisão de texto da Ana Martini e Maria Emilia Bender.
Ouça todo os episódios aqui.
E como não poderia deixar de ser, a minha última recomendação é o delicioso Passagem Só de Ida, um podcast da Casa 1 que traz as histórias de pessoas LGBTQIAP+ que em algum momento migrou para a cidade de São Paulo. A primeira temporada com 10 episódios apresenta figuras maravilhosas como Gegê ou Madonna Duarte de Beverlly Hills, Gretta Sttar e Symmy Larrat.
Uma criação de Bruno O., Marcos Tolentino e Yuri Fraccaroli, com produção de Marcos Tolentino, montagem, edição e pesquisa sonora de JJ jj jj, vinheta e trilha original de Nolo, entrevistas, roteiros dos episódios, pesquisa e captação: Ariana Mara da Silva, Florence Belladonna Travesti, Mariana Penteado, Marcos Tolentino, Maria Paula Botero, Maurício Santos e Yuri Fraccaroli, assessoria jurídica de Lucila Lang, assessoria de imprensa de Brenda Amaral, apoio da Rede de Mulheres Imigrantes Lésbicas e Bissexuais e realização da Casa 1 e Acervo Bajubá, o passagem só de ida é uma verdadeira viagem pelas histórias e vivências LGBT+.
Ouça os episódios completos aqui.
Imagem de capa: Young Gifted and Black, banco de imagens feito por mulheres negras de ponta a ponta.
Ao longo das dez faixas que compõem o repertório do disco, como numa estação de rádio do interior do Brasil, Gabeu passeia por diferentes vertentes da música sertaneja, desde o sertanejo raiz, com a viola caipira em posição de destaque, chegando até o sertanejo universitário, gênero de música popular mais ouvido no Brasil atual. A produção musical de Agropoc é assinada por Fabrício Almeida.
“Sou apaixonado por aquele sertanejo de pegada latina forte, é uma vertente que me agrada muito. Fora o estilo de interpretação, que vem muito também desse lugar dos cantores de rádio, uma
interpretação expressiva, com os Rs bem acentuados. Amo as canções de Cascatinha e Inhana e Milionário e José Rico”, comenta Gabeu, que também se diz influenciado pela dupla Alvarenga e Ranchinho, sobretudo quando ele pensa em cantores de rádio. “A forma como eles utilizavam o humor para interpretar, cantar, contar histórias e até fazer leituras sociais e políticas da época, tudo isso me marcou muito. Cito aqui a canção ‘Romance das Caveiras’, que é uma dessas canções que eu ouvia quando criança”, relembra o cantor.
É importante notar que, além da sonoridade, Gabeu estendeu suas variações criativas também para as letras que compõem Agropoc. Amores ingratos, sofrência, paixões avassaladoras, gandaias e bebedeiras, entre outros, atravessam o álbum de modo bem humorado, o que faz de Agropoc uma obra eficiente para dançar e cantar junto ao mesmo tempo. Ah, e pra quem pediu, Gabeu também entregou duas participações mais que especiais em Agropoc: Reddy Allor e Bemti, nas faixas “Queda D’Água” e “Bem Te Vi” respectivamente.
Das 10 faixas que constroem o repertório de Agropoc, apenas uma não é escrita por Gabeu: “Cowboy”, uma versão criativa da Banda Uó. As demais são todas dele e foram compostas algumas na estrada – Gabeu mora em São Paulo, mas é de Franca, interior paulista -, outras em seus momentos de maior solitude em casa.
“Meu público tem sido muito receptivo com cada lançamento, seja de música autoral, cover, participação em trabalhos de outros artistas. Isso tem me dado gás e cada vez mais vontade de mostrar o que eu vim preparando nesse tempo todo”, completa Gabeu sobre a realização e lançamento de Agropoc. “Espero que minhas letras façam meu público rir comigo, dançar comigo, chorar comigo, imaginar comigo, refletir comigo… Bato sempre nessa tecla, o álbum é diverso, nas composições isso não seria diferente. Então espero que as pessoas adentrem de fato cada narrativa e cada temática que eu decidi abordar neste projeto. Compor todas essas músicas foi uma enxurrada de emoções”, celebra um orgulhoso Gabeu.
Agropoc já está disponível nas principais plataformas digitais – acesse aqui.
Quem circula nesse mundão da internet, já se deparou mais de uma vez com o Doodle do Google, uma homenagem ou celebração diária feita pela empresa no buscador.
Seguindo a página oficial do Doodle, em 1998, antes mesmo da empresa ser constituída seus fundadores, Larry e Sergey, brincaram com o logotipo da empresa para indicar que participariam do festival Burning Man, dois anos depois, em 2000, a dupla pediu para Dennis Hwang (estagiário na época) para criar um Doodle para o Dia da Bastilha, o sucesso foi tanto que Dennis foi nomeado doodler chefe do Google e os doodles começaram a aparecer com mais frequência na página inicial do Google.
Hoje existe uma equipe só para criação das homenagens e países começaram a ter celebrações mais focadas em suas datas. Selecionamos aqui cinco doodles criados para o Brasil, ou que foram publicados no mundo todo.
Celebrando o dia da Visibilidade Trans de 2019, o Google decidiu homenagear a vida da ativista Brenda Lee, que em 1994 passou a cuidar de pessoas vivendo com HIV/AIDS na cidade de São Paulo, em um momento da história onde o preconceito era muito maior.
Confira aqui a página.
Outra personalidade LGBT+ brasileira ilustre que ganhou homenagem foi o escritor gaucho Caio Fernando Abreu. Dono de uma obra rica e poética, Caio foi também jornalista e dramaturgo e completaria 70 anos em 2018, data em que foi celebrado pelo Google.
Veja a página completa aqui.
Criador da bandeira do Arco-Íris, que celebra a diversidade, o estadunidense, Gilbert Baker ganhou uma homenagem em 2017, poucos meses antes de falecer em decorrência de um problema cardíaco. Destaque que a celebração de Gilber traz um gif da bandeira original, composta por oito cores. Este Doodle foi exibido no mundo todo.
Confira a pagina aqui.
Primeira celebridade LGBTQIAP+ brasileira a ser homenageada com um Doodle do Google, o cantor carioca Cazuza ganhou uma fofa ilustração com sua característica bandana. Em 2016, quando a celebração aconteceu, o gostosamente exagerado completaria 58 anos.
Aqui você pode ver a página completa.
Considerado o “pai da ciência da computação”, o matemático inglês Alan Turing criou a chamada Máquina de Turing que deu origem ao computador moderno e por isso ganhou uma homenagem especial pelo seu centenário em 2012 que foi exibido nas páginas do Google do mundo todo.
Veja a página completa aqui.
Luta da ativista Gilmara Cunha resulta no primeiro Centro de Promoção de Cidadania LGBTQIA+ de uma favela
Reportagem: Thaynara Santos
Arte: Giulia Santos
Edição: Fred DiGiacomo
“Eu nunca me dei conta do que eu estou fazendo, mas estou indo, às vezes como um carro desgovernado (risos) mas as coisas vão acontecendo.
Eu nunca parei porque não se trata só de mim, se trata de um coletivo que precisa dessa liderança. A minha vida é essa, eu gosto de trabalhar com isso.
Eu fico [emocionada] porque as pessoas não têm dimensão. Não sabem quantas noites eu tive que perder, quantos nãos nós recebemos, porque a vida é difícil.
As pessoas têm uma imaginação muito fértil, não conseguem entender como chegamos em alguns patamares e acham que chegamos ali caindo.”
Gilmara Cunha não para. Conhecida por geral na Maré, respeitada pelos coletivos LGBTQIA+, foi candidata a vereadora nas eleições municipais de 2020, mas não levou. Começa, no entanto, 2021 com outra vitória.
Este mês, o primeiro Centro de Promoção de Cidadania LGBTQIA+ dentro de uma favela será inaugurado no Conjunto de Favelas da Maré como resultado de anos de dedicação da ONG Conexão G, da qual Gilmara é uma das fundadoras, e de outras organizações da Maré.
Segundo a Associação Nacional de Travestis e Transsexuais (Antra), o Brasil ocupa o 1° lugar no ranking dos assassinatos de pessoas trans e travestis no mundo. Segundo o Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro (ISP RJ), a cada 24h uma pessoa é vítima de LGBTfobia em nosso país.
Esses números mostram que o passo foi grande, mas ainda há muito o que caminhar.
“Estou muito feliz e ansiosa pela abertura do Centro de Cidadania. Quantas morreram no caminho e não conseguiram ver isso acontecer? Eu vou morrer e vou ver a coisa acontecendo. O Estado está aqui, não com um olhar precarizado, porque nós estamos dispostos a transformar esse espaço. Temos uma responsabilidade muito grande como primeiro Centro – um equipamento do Estado – em território favelado, a gente precisa fazer com que isso funcione, para que seja possível ampliar para as outras favelas”, diz Gilmara.
Fundado em março de 2006, o Conexão G de Cidadania LGBT, do qual Gilmara é diretora, funciona no Conjunto de Favelas da Maré, zona norte do Rio. Há quinze anos pleiteia políticas públicas e avanços para a comunidade. Foi o primeiro grupo comprometido com a luta pelos direitos dos moradores LGBTQIA+ na favela.
“Gilmara é uma líder nata, acredito que a liderança seja a característica mais marcante dela”, explica Matheus Affonso, que é morador da Maré, comunicador, fotógrafo e designer gráfico.
Ele reforça a necessidade de espaços voltados para a população LGBTQIA+ como uma forma de fortalecer o movimento. “Acredito que a inauguração do Centro de Cidadania será um grande passo para a luta e combate da LGBTFobia dentro do território pautar esses corpos em políticas públicas e ações sociais. O Centro vem com a responsabilidade de trazer para a Maré mais direitos”, conclui.
O mareense trabalhou no Grupo Conexão G durante dois anos como designer gráfico e participou como voluntário de seminários nacionais. Essa experiência foi muito importante para sua identificação como ativista a partir de suas vivências como um homem bissexual e morador de favela. Após esse processo, criou o Projeto Eeer, de ativismo LGBTQIA+ de favela.
Gilmara Cunha, ativista LGBTQIA+ e fundadora do Grupo G
No Centro de Cidadania Gilmara Cunha serão oferecidos serviços gratuitos de psicólogos, advogados e assistentes sociais, além de cursos de informática e corte e costura. Também pretendem abrir uma biblioteca no espaço. O nome do espaço foi pensando de forma a homenagear ainda em vida quem lutou durante toda a sua existência por direitos. “Vamos fazer funcionar. Será um órgão vivo, não mais um espaço ocioso. Criamos um conselho consultivo de organizações não governamentais aqui da Maré para pensar esse espaço, quero que ele seja pensado pela comunidade”, diz Gilmara.
Os Centros de Cidadania LGBTQIA+ são uma iniciativa estadual do Programa Rio Sem LGBTfobia, da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro. Já existem outros aparelhos em Niterói, Queimados, Volta Redonda, Central do Brasil, Nova Friburgo, Arraial do Cabo, Miguel Pereira e Caxias.
Gilmara explica que os serviços oferecidos não serão só para a população LGBTQIA+ e que seu objetivo é fazer com que a população entenda o Centro como um espaço de todos. “Uma das coisas que eu aponto é que por mais que seja um Centro de Cidadania LGBTQIA+, ainda assim, as demandas que chegarem a gente vai atender. Se uma mãe vítima do Estado procurar ajuda eu não vou atender? É um equipamento governamental. A gente precisa fazer com que o Estado entenda que a gente precisa de políticas afirmativas, mas não de segregação”.
Com uma presença vigorosa, o olhar atento e um sorriso fácil dado a quem tem carinho, Gilmara Cunha está sempre na atividade, cumprimenta quem passa pelo seu escritório para saber como está. Dá atenção a quem precisa ter a voz ouvida. Cumpre demandas no computador e segue o dia, que nunca é maçante.
“Eu sou só uma, mas eu gosto. É ‘aniquilar’ a vida, mas me traz muita alegria sentir que faço alguma coisa. É gratificante ver que uma pessoa está bem, mesmo com todas as dificuldades. E não são só as pessoas LGBTQIA+s que me procuram, não. As pessoas me procuram pra tudo (risos), é questão de matrimônio, questão espiritual e por aí vai”, diz ela que começou na militância no final dos anos 90.
No fim de 2015, recebeu a maior honraria concedida pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) — a Medalha Tiradentes. Apesar de ter ganhado distinção na casa, ela queria mais. Concorreu ao cargo de vereadora do Rio de Janeiro pelo Partido dos Trabalhadores (PT) nas eleições de 2020, mas não foi eleita.
Aos 36 anos, Gilmara é uma sobrevivente num país em que a expectativa média de vida da população trans é de apenas 35. Ela tece uma trajetória como líder comunitária desde os 15 anos, quando ingressou no movimento LGBTQIA+ em busca de políticas públicas mais inclusivas. “Quem vê close não vê corre. Eu tive que aniquilar a minha vida em diversos momentos, ouvir muito não e ser rechaçada. Mesmo não vendo os frutos, as minhas outras que estarão aí depois de mim, verão. Eu fico feliz em deixar esse legado, não só para a Maré, mas para outras favelas e mostrar que o Brasil é capaz de mudar através das mãos de uma mulher trans.”
Gilmara é chamada por quem a conhece intimamente de Miranda, em referência à chefe brava do filme “O Diabo Veste Prata”, inspirada em Anna Wintour, da revista “Vogue”. O apelido surgiu por sua visão sobre o que significa cuidar. Zela pela família, pelos amigos, filhos espirituais e pelos companheiros e companheiras de luta.
“Mesmo que eu seja dura, é porque às vezes a gente precisa ser. Para mim isso faz parte do processo educativo. Não tem como dizer ‘sim’, ‘sim’, ‘sim’, o tempo todo. Eu gosto de ver as pessoas bem. Isso tem muito a ver com a minha infância que não foi muito fácil. Não fui querida, não fui cuidada. Quando cheguei à minha ‘adultez’ decidi fazer o que não fizeram por mim. Esse cuidado que tenho com o outro sempre existiu na minha vida e sempre vai existir. Sou mãe.”