Por Mariana Penteado, psicóloga formada pela USP. Atua nas áreas clínica e social. Colabora com o Centro de Acolhida e Cultura Casa 1 no Grupo de Trabalho de Saúde Mental e na Clínica Social Casa 1.
Diante do avanço da lógica manicomial financiada pelo Estado, faz-se necessário relembrar o “Dia Nacional da Luta Antimanicomial”. A data, 18 de maio, reforça a importância do combate à exclusão, negligência, violências e cerceamento de direitos de pessoas em sofrimento psíquico.
A lógica manicomial é essencialmente racista, classista, machista e LGBTfóbica e faz parte, portanto, do compromisso do combate a esses problemas estruturais e a necessidade de se posicionar a respeito da reforma psiquiátrica.
Nesse sentido trazemos para vocês alguns conteúdos que podem ajudar na compreensão dos processos relacionados à luta contra o encarceramento físico e simbólico da loucura e da diferença, visando estabelecer parâmetros de cuidado em liberdade:
Holocausto Brasileiro (livro – 2013/filme – 2016)
O livro de Daniela Arbex conta os maus-tratos e o genocídio acontecido no Hospital Colônia de Barbacena que resultou em 60 mil mortes. Em 2016 o livro foi transformado também em um documentário. Para além da reconstrução da narrativa do genocídio por parte do Estado, os depoimentos de sobreviventes e ex-funcionários permitem traçar uma história de responsabilidade social e histórica.
Doença entre parênteses (curta – 2015)
Partindo do mote do psiquiatra italiano Franco Basaglia sobre a necessidade de colocar a conceitualização da doença entre parênteses para permitir a escuta do sujeito, o curta reúne depoimentos de usuários de saúde mental e profissionais a respeito de cultura, liberdade e política.
Luta Antimanicomial e Feminismos: Discussões de Gênero, Raça e Classe para a Reforma Psiquiátrica Brasileira (livro – 2017)
O livro analisa as estruturas patriarcais e racistas subjacentes aos processos de saúde mental, a partir de análises do processo histórico do tema mulheres e loucura. As autoras Rachel Gouveia Passos e Melissa de Oliveira Pereira articulam nos planos teórico e político os aportes dos feminismos interseccionais para pensar a reforma psiquiátrica. Traz uma visão a respeito da luta antimanicomial para além de uma estratégia de saúde pública ao lidar com o campo da saúde mental. Expande a compreensão para a crítica da lógica higienista e de controle dos corpos diferentes, localizando a lógica manicomial não apenas dentro das estruturas dos manicômios, mas como um modo de pensar as diferenças.
Olhar de Nise: A Psiquiatra das Imagens do Inconsciente (documentário – 2015)
O documentário reúne entrevistas de Nise da Silveira, pacientes e profissionais que trabalharam com ela em seus ateliês artístico e terapêutico que são referência mundial na abordagem humanizada em saúde mental. Entre outros pontos, o filme mostra também a perseguição política que Nise sofreu.
Arquivos da Ocupação Nise da Silveira (exposição do Itaú Cultural em 2017/2018)
Para quem quiser acessar mais conteúdo sobre o trabalho de Nise, o Itaú Cultural mantém um acervo de textos e imagens que pode ser acessado neste link.
Bicho de Sete Cabeças (filme – 2001)/ Baseado no livro Canto dos Malditos (1990)
O livro autobiográfico de Austregésilo Bueno inspirou o filme dirigido por Laís Bodanzky e fala sobre as suas vivências de um jovem que é interpretado como dependente químico pelos pais ao encontrarem um cigarro de maconha e é internado em um hospital psiquiátrico. Tanto o livro como o filme analisam os processos de institucionalização e violência sofridos pelos pacientes.
Você pode alugar no Now neste link.
Estamira (documentário – 2004)
O filme retrata a história e os discursos de Estamira, uma mulher que viveu e trabalhou durante décadas em um aterro sanitário do Rio de Janeiro. A narrativa se debruça sobre o sofrimento da mulher negra, amarrando os temas de violências de gênero, loucura e vulnerabilização.
O documentário pode ser assistido de graça no Libreflix uma plataforma de streaming colaborativa com produções independente.
Relatório de inspeção em comunidades terapêuticas
Para quem quiser ver um relato sobre a necessidade e a atualidade do debate antimanicomial no Brasil, o relatório disponibilizado no site do Conselho Federal de Psicologia permite ver um panorama denunciando os abusos dos dispositivos de comunidades terapêuticas. O relatório pode ser lido aqui.
[…] Os manicômios, enquanto instituições, trazem em si a lógica do isolamento e do encarceramento da diferença. A internação manicomial foi sempre pautada pela perda de direitos e pela violência: para além da privação de liberdade e da perda da centralidade em sua própria história, as pessoas eram (e ainda são) submetidas a torturas e violências diversas. O trabalho da jornalista Daniela Arbex, em seu livro “Holocausto Brasileiro”, traz um relato detalhado das violações de direitos humanos e do genocídio acontecido no Hospital Colônia de Barbacena, que resultou em 60 mil mortes (para conhecer mais livros e filmes sobre a questão antimanicomial, clique aqui). […]