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Grag Queen celebra carreira internacional após virar ‘rainha do universo’

 “É uma grande introdução, né? É uma apresentação que faz as pessoas ficarem assustadas”, observa Grag Queen sobre o título de “rainha do universo”. A drag queen brasileira, vencedora do reality show Queen of the Universe (no Brasil disponível no Paramount+), diz que é assim que ela tem aberto portas no exterior, onde está em turnê desde maio.

“Aqui nos Estados Unidos, o culto é o currículo”, conta ela ao F5, da Folha de S.Paulo. “Para mostrar que você tem notoriedade, eles falam: ‘Oi, essa é a Grag, cantora incrível brasileira, rainha do universo’. E aí todo mundo já se atenta, querendo saber quem é. Aonde eu chego as pessoas me conhecem ou, mesmo se não me conhecem, me tratam realmente como a rainha do universo.”

Ela diz que “nem no meu maior sonho” imaginava há um ano onde estaria no momento. “A gente estava dentro de casa, gritando por vacina, esperando o nosso presidente tomar vergonha na cara dele, parar de fazer babaquice na internet e tomar jeito de a gente poder sair de casa”, lembra. “Hoje eu estou aqui, em um hotel em Los Angeles, olhando a vista e respondendo uma entrevista sobre a minha carreira internacional.”

“O meu cérebro ainda não consegue acompanhar”, confessa. “Às vezes, eu paro e fico passadíssima. Porém, nunca esqueço de agradecer pelas coisas que estão acontecendo, mesmo sem processar, né? É uma coisa que a gente tem que fazer.”

Desde que venceu o reality, ela tem colaborado com produtores americanos, como Leland, Cole MGN, Jesse Saint John e Peter Thomas, que já trabalharam com astros do porte de Britney Spears, Camila Cabello e Snoop Dogg. No momento, ela está divulgando o primeiro single em inglês, “You Betta”.

Além disso, na última semana ela entrou na trilha sonora da série “Love, Victor” (Star+), com a música “Dinner”. Na sexta-feira (17), também lançou uma colaboração com o mexicano Christian Chávez, que ficou famoso como o Giovanni de “Rebelde” (2004-2006).

Quando voltar ao Brasil, em julho, Grag começa a preparar seu primeiro álbum. “Eu gostaria muito de ter um álbum que é uma salada mista, tanto de idiomas quanto de gêneros e de ritmos”, adianta. “Eu ainda tenho vários singles para lançar, mas assim que eu chegar ao Brasil a gente já vai fazer reuniões de criação para ver o que vamos incluir no álbum.”

A gaúcha conta que a relação com outras drags brasileiras famosas, como Pabllo Vittar e Gloria Groove, é de admiração e amizade. “Com a Gloria, tenho uma relação desde antes de eu ganhar qualquer coisa”, lembra. “Antes de lançar a primeira música a gente já conversava. Ela já me apoiava e essa generosidade dela é algo que admiro demais. É uma referência artística, mas também pela pessoa incrível que ela é.”

“E a Pabllo é um anjo, né?”, afirma sobre a cantora, com quem dividiu o palco recentemente em Manchester, na Inglaterra. “Tudo o que ela conquistou, tudo que ela ganhou, tudo que ela faz e representa… Ela merece cada pedacinho disso. Eu amo conversar com ela, amo a forma como ela me dá atenção quando fala comigo, amo o jeito que a gente faz piada e se tira de louca (risos).”

“É muito bom ter essas duas pessoas para trocar”, resume. “São experiências de empatia que só quem vive nesse meio passa.”
No exterior, ela conta que também tem sido bem recebida pelas colegas. “O bafo das drags gringas, que são as pessoas que participaram de reality show aqui e de quem sou fã, é dizer que sou a gata que mais pegou dinheiro da RuPaul”, ri.

Isso porque a premiação do Queen of the Universe (US$ 250 mil, cerca de R$ 1,2 milhão no câmbio atual), do qual a lendária drag queen americana é produtora executiva, foi maior do que a de qualquer edição do premiado RuPaul’s Drag Race. “Agora está tendo uma edição só com vencedoras, que é uma edição muito esperada, e mesmo assim vai ser menos”, conta.

Por falar em RuPaul, recentemente a brasileira conheceu a americana, durante a Drag Con, evento anual de cultura drag em Los Angeles. “Fiquei em pânico, né?”, lembra. “Fiquei travadíssima porque eu amo RuPaul desde 2012, 2013. Eu gravava os episódios do reality na minha TV a cabo para assistir de madrugada, longe do meu pai e da minha família, para ninguém me pegar consumindo conteúdo gay.”

É que Grag Queen é o alter ego de Gregory Mohd, que vem de uma família evangélica que precisou de um tempo para entender a sexualidade dele, antes de apoiá-lo incondicionalmente. “Foi dolorido demais, porque eu comecei esse processo com uns 12 anos e eles não falavam sobre sexualidade, né?”, lembra. “Para eles, era tipo um demônio que tinha dentro do meu corpo, que veio de herança da minha família.”

“A minha avó também era homossexual, era lésbica não assumida e meu pai não tinha uma relação legal com isso”, lamenta. “Então, eu já cresci com essa pressão. Para o meu pai, era uma maldição hereditária.”

“Dos 12 até os 18 anos, eu cresci me afirmando entre orações, jejuns e sessões de eletrochoque”, revela. “Eu cresci acreditando que era uma aberração, que eu era uma maldição, que eu tinha um demônio dentro de mim. Eu só queria ser normal -e isso impacta a minha vida até hoje.”

Foi justamente Grag Queen que ajudou Gregory nesse processo. “A Grag está resgatando toda a autoestima que eu nunca tive, o direito de olhar no espelho e me sentir bela, sabe?”, comenta. “Espero que qualquer pessoa que me ouça agora e que esteja passando saiba que a gente é perfeito. Se Deus é perfeito, porque que ele faria um monte de peça que precisa de reparo, né? Não tem porquê.”

Por Vitor MorenO
SÃO PAULO, SP

Foto de capa: Divulgação

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