Fazer parte de algo é sempre um desafio, fazer parte de algo tem como princípio desafiar o que está posto é um desafio multiplicado por milhões. A Casa 1 nasceu de uma ideia inocente e meio louca, logo ganhou proporções assustadoras: as demandas chegavam e ainda chegam em um volume nunca imaginado por ninguém que se propôs à participar dessa empreitada e muitas vezes tiram o ar.
Sempre soubemos que nossa luta, que é também nosso trabalho, seria dolorida, afinal, lidamos com violências constantemente, nos dedicamos a tentar criar ferramentas para sobrevivência, mergulhamos em buscas constantes por estratégias de vida e fazemos tudo isso em meio à uma estrutura feita para destruir.
Como manter nossos ideais quando pilhas e pilhas de burocracias e contas se acumulam, como seguir trabalhando quando vamos, pouco a pouco adoecendo, como seguimos enfrentando um sistema perverso enquanto reproduzimos em diversas escalas esse sistema? Como viver no sistema, sem viver o sistema?
Nos últimos meses tivemos que lidar com despedidas, tivemos que vivenciar partidas, tivemos que cuidar de feridas, dos que foram e dos que ficaram, sempre falando e sempre tentando entender o que não deu certo. Mas para muitas coisas não existem respostas, ainda que continuemos em busca.
Mas existe o viver, existem as chegadas, existe o desejo de continuar fazendo o máximo que podemos, o melhor que podemos, e por isso estou aqui escrevendo esta carta.
Para agradecer imensamente quem esteve na Casa 1 e igualmente agradeço aos que seguem e aos que chegam para somar. Afinal, sem todos, todas e todes nós, não existiria Casa 1, e com certeza, muito coisa incrível, não vivida.
Abraços
Iran Giusti
Foto de Capa: eu e Junior Magalhães, eterno parceiro da Casa 1, em janeiro de 2017, antes da abertura oficial