Texto por Camila Mabeloop, voluntária de Comunicação da Casa 1
Mês: junho 2022
Primeira diretora trans de escola em SP, recebe Título de Cidadã Paulistana
Na terça-feira (28/6), Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, a Câmara Municipal de São Paulo reuniu autoridades e representantes de movimentos sociais para lembrar as lutas e os direitos adquiridos da comunidade.
No evento, Paula Beatriz de Souza Cruz, primeira mulher trans a assumir a diretoria de uma escola no Estado de São Paulo, recebeu o Título de Cidadã Paulistana. Quem apresentou a proposta foi a vereadora Erika Hilton (PSOL), primeira parlamentar trans eleita na cidade.
As informações são do Portal da Legislação Paulistana.
“Hoje é Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, que lembra a Revolução de Stonewall, em 1969, e trazer essas pessoas para este espaço que ainda é muito conservador, que vai na contramão dos direitos da comunidade, é reforçar e afirmar a nossa existência, a nossa ocupação desses espaços e a necessidade de que a política também seja um instrumento de combate às desigualdades e às violências sofridas por esta população”, explicou a vereadora.
Nova Cidadã Paulistana
Nascida em Taboão da Serra (SP), em 1971, Paula Beatriz iniciou a carreira como professora aos 18 anos. Desde 2003, ela é diretora da Escola Estadual Santa Rosa de Lima, no Capão Redondo, zona sul da cidade. Sua experiência profissional caracteriza outras possibilidades de vida para gerações de pessoas da comunidade que não se enxergam pertencentes ao espaço educacional.
“Para mim, estar aqui hoje, recebendo este título, ele confirma o quanto foi dessa caminhada e, principalmente, na trajetória da educação. São 33 anos enquanto educadora, sempre permeando essas questões mesmo, de cuidado, acolhimento, do afeto e do respeito às nossas crianças. Acho que culmina, na data de hoje, 28, Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, que realmente eu tenho orgulho de quem eu sou, para onde eu vou e de onde eu vim”, ressaltou a homenageada.
Sua trajetória já foi contada em filmes e em uma série documental, além de ter recebido prêmios de instituições e de autoridades. A educadora organiza várias atividades sobre o movimento LGBTQIA+ em sua escola e na comunidade e ainda lidera estudos e discussões sobre pessoas no sistema educativo. Para ela, ter recebido o Título de Cidadã Paulistana da vereadora Erika Hilton (PSOL) foi algo extremamente significativo.
“Torna-se muito simbólico, vem de quem caminha junto. Quantas caminhadas eu e Erika estávamos presentes, nas Paradas, nos movimentos. Acho que é história e fico muito feliz que ela está aqui, representando também esses corpos de travestis e transexuais”, salientou a educadora.
Para conferir o evento na íntegra, assista o vídeo:
Foto de capa: Afonso Braga | REDE CÂMARA SP
21 materiais produzidos pela Casa 1 para consultar o ano inteiro
Na Casa 1 produzimos conteúdos sobre e com pessoas LGBTQIAPN+ o ano inteiro e, para comemorar o dia de hoje, listamos alguns deles neste post.
Tem livro, lista, vídeo, podcast e entrevista para consultar o ano todo!
Entrevista Marisa Fernandes
20 homens trans para seguir no Instagram
“A transexualidade não é uma doença, é uma realidade”
10 pessoas bissexuais para acompanhar nas redes sociais
Entrevista Jup do Bairro
Entrevista Ayô Tupinambá
Quem foi Xica Manicongo
Diálogo entre acervos: Travesteca (Renata Carvalho) e Acervo Bajubá (Remom Bortolozzi)
Uma história da AIDS no Brasil – Marcos Visnadi
Entrevista Ana Hikari
Publicações Editora Monstra
Enciclopédia Sapatão
https://enciclopediasapatao.casaum.org/
Bárbara Esmenia sobre o boletim Chana com Chana e o GALF
Percursos do movimento LGBT+ na cidade de São Paulo
Apresentação do Coletivo Tem Sentimento
Precisamos Falar Sobre Sexo
Entrevista Caê Vasconcelos
Programa Aulas Abertas
memorial imcompleto da epidemia de aids
Lab de Memória
Entrevista Gabriela Loran
Liminar que obrigava IBGE a incluir orientação sexual no Censo é suspensa
O presidente do TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região), desembargador José Amilcar Machado, suspendeu a decisão liminar da Justiça Federal do Acre que havia determinado a inclusão de perguntas sobre orientação sexual e identidade de gênero nos questionários do Censo Demográfico 2022.
A medida gera alívio para o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que é responsável pelo Censo e havia ingressado com recurso contra a liminar.
A decisão do TRF-1 é de sexta-feira (24), mas foi divulgada pelo instituto nesta segunda (27).
Ao longo deste mês, o IBGE argumentou que não teria tempo hábil nem orçamento suficiente para fazer o acréscimo das perguntas de forma adequada no levantamento. O início da coleta das informações do Censo está previsto para 1º de agosto.
A Justiça Federal do Acre havia determinado no dia 3 de junho a inclusão das perguntas, após acolher pedido do MPF (Ministério Público Federal).
Pela decisão, o IBGE teria 30 dias para comunicar as providências tomadas para cumprir a medida.
O instituto, por outro lado, avaliou que o acréscimo poderia resultar em um novo adiamento do Censo, o terceiro consecutivo. A pesquisa já foi cancelada em 2020 e 2021.
Na avaliação do IBGE, a inclusão das perguntas geraria “impacto econômico severo”, aumentando os custos do Censo além do seu orçamento, estimado em R$ 2,3 bilhões.
O órgão também já afirmou que, em razão da metodologia, o Censo “não é a pesquisa adequada para sondagem ou investigação de identidade de gênero e orientação sexual”.
“A metodologia de captação das informações do Censo permite que um morador possa responder por ele e pelos demais residentes do domicílio”, disse o IBGE em março.
“Pelo caráter sensível e privado da informação, as perguntas sobre a orientação sexual de um determinado morador só podem ser respondidas por ele mesmo”, completou na ocasião.
Nesta segunda, o IBGE relatou em nota que “só vai se manifestar sobre a suspensão da liminar da Justiça Federal do Acre depois que a AGU [Advocacia-Geral da União] tiver sido intimada e examinado a decisão”.
Para o presidente do TRF-1, José Amilcar Machado, “ficou demonstrada” a impossibilidade de implementação das perguntas no Censo até agosto.
“A presente decisão está adstrita a aspectos gerenciais e temporais, uma vez que o início do Censo está às portas, e sua não ocorrência, como assinalado, acarretaria mais males do que benefícios à população”, escreveu o magistrado.
“No entanto, nada obsta, ou melhor, é imprescindível que, com um planejamento prévio, essas perguntas sejam inseridas nos Censos dos anos vindouros, ou mesmo em análises e prospecções específicas sobre o tema”, completou.
Responsável por pedir a inclusão dos campos sobre orientação sexual e identidade de gênero nos questionários, o MPF avaliou neste mês que as informações seriam importantes para subsidiar políticas públicas mais eficientes com foco na população LGBTQIA+.
Segundo a decisão de Machado, do TRF-1, “a coleta de dados com informações obtidas sem o respectivo respaldo técnico metodológico” poderia gerar “política pública inconsistente ou até mesmo equivocada para a população LGBTQIA+”.
O IBGE já relatou que esses quesitos estão previstos nas análises de outras pesquisas realizadas pela instituição.
Após o início da polêmica, o órgão divulgou em maio um levantamento inédito sobre orientação sexual.
De acordo com esse estudo, 94,8% das pessoas de 18 anos ou mais no país se declaram heterossexuais. Entre os entrevistados, 1,8% se disse homossexual (1,13%) ou bissexual (0,69%).
A pesquisa, porém, foi vista por especialistas como frágil por ignorar a sexualidade de pessoas transgênero e promover um reforço simbólico da heterossexualidade como padrão.
IMPORTÂNCIA DO CENSO
O Censo costuma ser feito a cada dez anos. Inicialmente, a nova edição estava prevista para 2020, mas não foi realizada devido à pandemia de coronavírus, que provocou restrições ao deslocamento de pessoas.
Em 2021, o que acabou inviabilizando novamente o estudo foi o corte de recursos destinados por parte do governo federal. A verba para 2022 foi liberada após o STF (Supremo Tribunal Federal) ser acionado.
Na prática, os dados apurados funcionam como base para uma série de políticas públicas e decisões de investimento de empresas. As informações balizam, por exemplo, os repasses do FPM (Fundo de Participação dos Municípios), fonte de recursos para as prefeituras.
POR LEONARDO VIECELI
RIO DE JANEIRO, RJ
Foto de capa: Folha Press
Espetáculo “Broderagem”: ingressos gratuitos com local e sem sigilo
Núcleo Vagal se reúne em São Paulo para 3 apresentações gratuitas em junho e julho no Centro de Referência da Dança
Festival Internacional de Teatro de Brasília volta ao presencial
Migração e imigração, invisibilidade, diáspora africana, territorialidade, sexualidade, gênero, memória indígena, ancestralidade, emergência climática, a exploração do ser humano pelo ser humano. Algumas das questões mais urgentes da agenda contemporânea – além de temas eternos e universais como amor, vida e morte – estarão em cena na programação do Cena Contemporânea – Festival Internacional de Teatro de Brasília em 2022, em trabalhos muitas vezes carregados de poesia, empatia e bom humor. A 23ª edição deste que é um dos maiores festivais internacionais de artes cênicas do Brasil acontece de 28 de junho a 10 de julho, ocupando diversos espaços do Distrito Federal. A direção geral e curadoria são de Guilherme Reis, com patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura – FAC, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Distrito Federal. Apoio do Instituto Camões e SESC.
O CENA CONTEMPORÂNEA 2022 marca o retorno do festival ao contato com o público, depois de duas edições virtuais – mesmo durante a pandemia, o evento foi realizado, oferecendo programação diária, inédita e gratuita. Neste reencontro, os espectadores verão trabalhos de artistas do Brasil, de Portugal e da Argentina, num total de 21 espetáculos de teatro e dança e um show, além de 12 atividades formativas e educativas, como oficinas, encontros, lançamento de filme e exposição virtual.
As apresentações serão no Teatro Galpão Hugo Rodas e na Sala Multiuso do Espaço Cultural Renato Russo 508 Sul, Teatro Garagem, Teatro da ADUnB, Teatro Oficina do Perdiz, Casa dos Quatro, Teatro Paulo Autran SESC Taguatinga, Complexo Cultural de Planaltina e Galpão Instrumento de Ver (Vila Planalto), além de um percurso poético pelo quadrilátero histórico de Brasília. Encontros e oficinas gratuitos se estenderão pelo ECRR 508 Sul e Centro de Dança. Os ingressos estarão à venda através da plataforma Sympla.
Em 2022, o CENA CONTEMPORÂNEA presta homenagem aos 60 anos da Universidade de Brasília, na pessoa de duas figuras brilhantes, que fizeram parte da história da UnB: o antropólogo, sociólogo, professor, escritor, indigenista e político Darcy Ribeiro, fundador e primeiro reitor da Universidade e uma das mentes mais brilhantes do Brasil, e o diretor, ator, coreógrafo, cenógrafo, figurinista uruguaio Hugo Rodas, ex-professor do Departamento de Artes Cênicas do Instituto de Artes da UnB, que formou diversas gerações em Brasília e é considerado nome emblemático do teatro da capital brasileira.
CENA CONTEMPORÂNEA
A programação do CENA abre com “Eu de Você”, solo da atriz Denise Fraga, concebido a partir da escuta do outro. O espetáculo é feito a partir de narrativas reais e entremeado de sucessos da MPB. Também na noite de estreia, “Stabat Mater”, da atriz, diretora e dramaturgista paulista Janaína Leite, que rompe as fronteiras entre arte e vida, num mergulho autobiográfico, para falar de maternidade, sexualidade, violência e pornografia.
A miséria dos muitos Severinos contemporâneos aparece em trabalhos como “Estudo nº 1 Morte e Vida”, do grupo pernambucano Magiluth – que se inspira no poema de João Cabral de Melo Neto para encontrar os explorados dos dias atuais – e no inédito “Übercapitalismo”, que marca a primeira direção teatral do ator e professor Rodolfo Godoi, de Brasília. O sertão inspira ainda “Cordel do Amor sem Fim ou A Flor do Chico”, do grupo Os Geraldos, de Campinas, com direção do grande Gabriel Vilela. E o teatro sempre provocador e inventivo do diretor Márcio Abreu chega com “Sem Palavras”, que mistura teatro, dança, performance para trazer crônicas individuais e tratar de temas como diversidade, representação, visibilidade.
De Portugal chegam os trabalhos “A Caminhada dos Elefantes”, do grupo Formiga Atómica, sobre a finitude da vida tratada de forma poética, e “A Última Estação”, de Elmano Sancho, com a biografia de um conhecido serial killer da década de 1970. Já a comédia dramática argentina “Experiência 2: Encuentros breves con hombres repulsivos” leva para a cena uma adaptação do reconhecido Daniel Veronese para texto de David Foster Wallace sobre a condição masculina contemporânea numa mirada ácida, sem floreios, e com dois conhecidos atores do teatro e do cinema argentinos.
A memória e a afirmação indígenas caracterizam as encenações “Solilóquio”, protagonizada pelo argentino Tiziano Cruz sobre a exclusão indígena e as políticas de branqueamento, e o brasileiro “Antes do tempo existir”, de Andreia Duarte, que destaca a relação de respeito e reconhecimento dos indígenas brasileiros com o planeta Terra, sob inspiração das palavras de Ailton Krenak: “Nós somos espelhos da criação”. O confronto entre diferentes culturas também está em cena com “2 Mundos”, teatro de sombras da Cia Lumiato, de Brasília, sobre a colonização da América.
Ancestralidade, diáspora africana, reconhecimento, opressão dão o tom a trabalhos como “Afeto”, do Grupo Embaraça, “Pedra (p)Arida”, de Camila Guerra, e “Semutsoc”, da Companhia de Dança Corpos Entre Mundos, todos de Brasília.
A programação ainda reserva o novo trabalho do notável Teatro do Concreto, “Se eu falo é porque você está aí”, que recupera a memória recente do Brasil e de Brasília, promovendo um passeio pela cidade; “Supersó & outros videoclipes”, musical protagonizado por Miriam Virna, que fala de solidão, sonhos e medo com muito bom humor; “Entre Quartos”, encenação que celebra os 10 anos do Grupo Tripé, do DF, falando sobre as relações amorosas das novas gerações; “Pão e Circo”, festa performática do grupo Instrumento de Ver; e “Cimento Fresco”, trabalho de Patrícia Del Rey que mistura arte urbana, arte cênica e poesia.
Homenagem
O Cena promoverá apresentação única do espetáculo “O Rinoceronte”, último trabalho dirigido pelo grande Hugo Rodas (recentemente falecido), à frente de seu grupo, a Agrupação Teatral Amacaca – ATA. A obra-prima de Eugene Ionesco, que trata da metáfora do efeito manada sobre a sociedade, ganhou encenação despojada, com a marca da genialidade do diretor uruguaio-brasiliense.
SHOW MUSICAL – “Lágrimas no Mar” dá título ao novo álbum do cantor, compositor, poeta Arnaldo Antunes, criado em parceria com o pianista pernambucano Vitor Araújo. Os dois trazem o show a Brasília, dentro da programação do CENA CONTEMPORÂNEA. Em formato voz e piano, Arnaldo e Vitor executam um setlist que parte da introspecção, mas que, em contato com o público, ganha dimensões de sentimento compartilhado. Além das canções do novo disco, o repertório inclui músicas do CD “O Real Resiste”, lançado pelo cantor e compositor paulistano em 2020.
Lançamento
Exibido em primeira mão no festival É Tudo Verdade deste ano, o documentário de longa-metragem “Quem tem medo?”, de Dellani Lima, Henrique Zanoni e Ricardo Alves Jr, será lançado durante o festival, contando com debate reunindo os diretores e convidados. O filme narra a ascensão da extrema direita no Brasil a partir da perspectiva de artistas que tiveram obras censuradas. Com suas vozes, a obra compõe um mosaico das consequências nefastas da presente escalada do fascismo no país.
Exposição Virtual
Lançamento em live com a presença do fotógrafo da exposição virtual “Festival do Nada”, de Humberto Araujo. Há oito anos fazendo a cobertura de festivais e mostras de teatro, dança, cinema e música, o fotógrafo se interessou em registrar os espaços/tempos que não são acessíveis ao público, o entreato, o vazio sempre cheio de vida. Na exposição, estão imagens que dão a dimensão da poética do silêncio dos palcos.
MAIS INFORMAÇÕES: www.cenacontemporanea.com.br
Foto de capa: Divulgação
Unifesp lança Observatório da Violência Racial para denunciar genocídio negro
Iniciativa do Centro de Antropologia e Arqueologia Forense vai monitorar dados e criar uma rede com movimentos antirracistas para repensar políticas públicas; para coordenadora, é preciso trazer a dimensão da memória pública das vítimas
“Precisamos de histórias de LGBTa mais felizes”, diz autora de Heartstopper
Com uma rápida olhada na lista dos livros mais vendidos do país, é possível constatar que obras com protagonismo LGBTQIA+ viraram líderes de venda depois que Marcelo Crivella, ex-prefeito do Rio de Janeiro, tentou cobrir com sacos pretos, na Bienal do Livro de 2019, uma revista em quadrinhos da Marvel que trazia uma ilustração de dois rapazes se beijando.
Embora a tentativa de censura tenha tido efeito rebote, o cenário ainda é desfavorável. É o que diz Alice Oseman, inglesa de 27 anos que se tornou a autora infantojuvenil mais vendida deste ano no Brasil até agora depois que seus quadrinhos, “Heartstopper”, viraram série pela Netflix.
Oseman, que vai participar de um encontro virtual com seus leitores na Bienal do Livro de São Paulo, afirma que, embora a literatura juvenil tenha se tornado um bastião da representatividade LGBTQIA+, abastecendo o cinema e o streaming, falta diversidade.
“Quase não temos romances LGBTs interseccionais, com personagens negros ou com deficiência, por exemplo. Também temos muito menos personagens lésbicas, bissexuais e transgênero do que gays. Assexuais, então, quase nunca vi”, diz a escritora, ela própria arromântica e assexual, isto é, com pouca ou nenhuma atração, romântica ou sexual, por qualquer pessoa.
“É uma falha tão grande que eu mesma tenho uma personagem -Tori, irmã do meu protagonista- que só descobri que era assexual quando reli meus livros. Eu não sabia que ela era assexual porque não sabia nem o que significava ser assexual quando a escrevi, embora esteja claro na história”, acrescenta Oseman, prometendo visibilidade à assexualidade da personagem nas próximas duas temporadas de “Heartstopper”, ainda sem previsão de estreia, cujos roteiros são escritos por ela própria.
A autora diz ainda que, mesmo nas histórias protagonizadas por homens gays, não só as mais comuns como também as únicas que ganharam adaptações audiovisuais até agora, alguns conflitos comuns entre a comunidade não são retratados, caso dos distúrbios alimentares.
“Há muitas histórias de meninas com anorexia, mas de meninos quase nunca vejo. As pessoas acreditam que esses distúrbios só afetam as mulheres, mas eles também são um problema grave entre homens gays”, diz Oseman.
Sua visão é amparada por uma pesquisa da Attitude, revista gay britânica, cuja maior parte dos leitores -84%- dizem sentir pressão exagerada para ter um corpo perfeito.
Esse conflito já atravessa a primeira temporada de “Heartstopper”. Não está nos diálogos, mas é visível nas muitas cenas em que o protagonista recusa comida. Isso ficará mais claro, contudo, nas próximas temporadas, diz Oseman, assim como ocorre na série literária, cujo quarto volume, “Heartstopper: De Mãos Dadas”, chega às livrarias agora.
A abordagem da anorexia, no entanto, será feita por meio “de uma lente otimista e esperançosa”, diz Oseman, como já ocorreu na primeira temporada com assuntos tão densos quanto, como homofobia.
É este, afinal, o maior trunfo de “Heartstopper”, que consegue encontrar originalidade mesmo amontoando clichês de romances simplesmente por abordar a paixão entre dois estudantes que acabam de ingressar no ensino médio e estão descobrindo sua sexualidade por uma paleta ultracolorida, sem tragédias gregas, como de costume na ficção, que por muitas décadas associou a homossexualidade à catástrofe.
“Precisamos de histórias LGBTs mais felizes. ‘Heartstopper’ sempre será sobre a luz no fim do túnel. Neste caso, o foco é a superação da anorexia do protagonista”, diz Oseman.
“É difícil abordar estes temas, porque tenho que encontrar um equilíbrio entre o realismo sem deixar de lado o otimismo e a esperança que são meus fios condutores. O que me ajuda é pensar, como faço na minha própria vida, em como as coisas podem melhorar. É isso, afinal, que fez o público se apaixonar tanto pela história.”
Por Pedro Martins
SÃO PAULO,SP
Imigração: 13 conteúdos para saber mais sobre o tema
O Dia do Imigrante é comemorado em 25 de junho no Brasil. Segundo dados do Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra), atualmente 1,3 milhões de pessoas imigrantes residem no Brasil.
Criada para homenagear as milhares de pessoas que deixam para trás amizades, laços e família, o dia também reflete sobre as dificuldades e os motivos que fazem as pessoas migrar. Entre elas estão: crise financeira, guerra, mudanças climáticas e LGBTfobia. Muitas vezes as pessoas continuam enfrentando essas e outras dificuldades no novo país.
Listamos neste texto 13 conteúdos entre livros, filmes, séries e podcast para refletir sobre o tema.
FLEE – A Fuga
Amin era menor quando chegou à Dinamarca sozinho, vindo do Afeganistão. Hoje, com 36 anos, é um académico de sucesso e está noivo do seu namorado de longa data. Mas esconde um segredo há mais de 20 anos, que começa a ameaçar arruinar a vida que construiu para si.
Luciérnagas
Depois de escapar da perseguição em seu país, Ramin, um jovem gay iraniano, chega ao México quando o navio mercante que ele tomou na Turquia atraca em Veracruz.
Little America – The Son (Temporada 1, episódio 8)
Little America é uma série de televisão antológica estadunidense produzida para a Apple TV+. No episódio 8 conhecemos a história de um homem gay Sírio que busca refúgio na América. Disponível na Apple Tv.
Era o Hotel Cambridge
Dirigido por Eliane Caffé, o filme narra a trajetória de refugiados recém-chegados ao Brasil que, juntos com trabalhadores sem-teto, ocupam um velho edifício abandonado no centro de São Paulo. Disponível no Google Play, Apple Tv e Youtube.
O Voo da Beleza
Documentário etnográfico sobre a vida de travestis e transexuais brasileiras que vivem na Europa. Elas aspiram ao coroamento no atravessar de fronteiras: de gênero, territoriais, sociais e existenciais. Todavia, o que o cotidiano no Velho Mundo lhes reserva? Diante de uma Europa cada vez mais xenófoba, suas experiências nos informam sobre a comédia inevitável dos gêneros e sobre um certo “Voo da Beleza”. Ganhador dos Prêmios “Melhor Pesquisa para Documentário” no Festival de cinema For Rainbow, 2012; “Menção Honrosa” do Prêmio Pierre Verger, da Associação Brasileira de Antropologia, 2016. Disponível gratuitamente no canal da TV ABA no Youtube.
And Breathe Normally
Duas pessoas têm suas vidas conectadas de forma inesperada: uma mãe solteira islandesa que luta contra a pobreza e uma refugiada de Guiné Bissau que pode ser deportada. Disponível na Netflix.
Overseas
O documentário nos imerge num dos muitos centros de formação dedicados a preparar as mulheres filipinas para o trabalho doméstico no estrangeiro. Como milhões de mulheres em todo o mundo, elas têm que deixar seus filhos para cuidar dos filhos de outras pessoas, adultos, idosos e também de suas casas. Neste centro, os exercícios de dramatização as tornam prontas e capazes de enfrentar o confinamento, o abuso, a saudade de casa e também o assédio sexual. O filme traz à tona a situação das trabalhadoras domésticas migrantes e da escravidão moderna. Ao mesmo tempo, mostra a resiliência, a irmandade e as estratégias que as mulheres migrantes compartilham para superar seu sofrimento.
Ser Brasil – Migrantes e Refugiados
Série de nove episódios documentais, em seis idiomas, conta as histórias de vida de migrantes e refugiados no Brasil. Disponível no canal da Organização Internacional do Trabalho.
Humanflow — Não existe lar se não há para onde ir
O filme-documentário é dirigido por Weiwei, um ativista político que foi preso, perseguido e expulso de seu país. A obra faz um panorama de crises de refugiados de mais de 20 países e expõe os motivos que levam milhões de pessoas ao redor do mundo a deixarem seus países e iniciarem uma jornada dura, incerta e cruel. Disponível no Youtube, Apple Tv e Google Play.
Exodus – De onde vim não existe mais
Em “Exodus”, o espectador acompanha as trajetórias de Napuli, Tarch, Dana, Nizar, Bruno, Lahtow e Mahka em busca de uma vida em segurança. Napuli é uma ativista política que teve de deixar o Sudão do Sul, passou por Uganda e agora luta para permanecer na Alemanha. Tarcha nasceu no Saara Ocidental e precisou fugir para a Argélia, onde vive em um campo de refugiados. Nascida na Síria, Dana chegou no Brasil via Turquia e está desesperada para reunir sua família no Canadá. A jornada de Nizar, um Sírio-Palestino, passa pelo Brasil, Cuba, e Europa, onde ele espera receber refúgio e reunir sua família. Bruno, de Togo, viveu em campos de refugiados na Alemanha durante nove anos, até ser finalmente legalizado e passar a ajudar outros refugiados. Lahtow e Mahka, de Mianmar, tiveram que deixar suas casas devido a conflitos militares. As histórias são narradas por Wagner Moura.
Passagem Só de Ida
Passagem só de ida é um podcast de compartilhamento de histórias de pessoas LGBT+ brasileiras e estrangeiras que migraram para a cidade de São Paulo, ou passaram por ela, em algum momento de suas vidas. Cada episódio traz o relato de alguém sobre os seus processos de deslocamento físico e subjetivos, priorizando a sua liberdade narrativa e os marcos pessoais por meio dos quais ela conta a sua trajetória e recompõe a sua história. Um projeto da Casa 1 com Acervo Bajubá e apoio da Rede de Mulheres Imigrantes Lésbicas, Bissexuais e Pansexuais – SP.
Pachinko
Livro narra a saga de três gerações de imigrantes coreanos no Japão do século XX. No início dos anos 1900, a adolescente Sunja, filha adorada de um pescador aleijado, apaixona-se perdidamente por um rico forasteiro na costa perto de sua casa, na Coreia. Esse homem promete o mundo a ela, mas, quando descobre que está grávida ― e que seu amado é casado ―, Sunja se recusa a ser comprada. Em vez disso, aceita o pedido de casamento de um homem gentil e doente, um pastor que está de passagem pelo vilarejo, rumo ao Japão. A decisão de abandonar o lar e rejeitar o poderoso pai de seu filho dá início a uma saga dramática que se desdobrará ao longo de gerações por quase cem anos.

Em 2022, a Apple TV lançou uma série baseada no livro que já virou um best seller.
Precisamos de novos nomes
Escrito pela zimbabuense NoViolet Bulawayo, a obra conta a história de Darling, uma menina que mora no bairro do Paraíso, na periferia do Zimbábue, que no período retratado vivia sob um regime autoritário e em forte crise econômica. Pelo seu olhar inocente, a garota narra o cotidiano do lugar, transparecendo as mazelas impostas àquela população e, ao mesmo tempo, a grande riqueza cultural do país. Entretanto, Darling muda-se para os EUA com a tia, e lá se depara com novas dificuldades, como o preconceito de colegas, a confusão para entender aquela realidade, e a saudade da família, dos amigos e das amigas.

ENEM 2022: prazo para solicitar uso do nome social está aberto
Hoje (23/6), começa o prazo para pedido do uso do nome social durante a aplicação do ENEM 2022. O pedido deve ser feito exclusivamente na Página do Participante.
As pessoas interessadas devem preencher o formulário disponível online até o dia 28 de junho. O resultado sai no dia 5 de julho. Se for preciso recorrer, a ação deve ser feita até o dia 10, com anúncio final no dia 15 de julho.
Além do formulário preenchido, é preciso anexar ao pedido uma foto atual, nítida, individual, colorida, com fundo branco e bom enquadramento da cabeça até os ombros (sem acessórios como óculos escuros ou boné) e uma cópia digitalizada, frente e verso, de um documento de identificação oficial com foto.
Segundo o INEP, não é preciso enviar a documentação caso o nome social esteja cadastrado na Receita Federal.
A possibilidade de usar o nome social no exame foi aberta em 2014, com 102 solicitações. Já em 2015, o número subiu para 278.
Serviço: ENEM uso do nome social
Quando: 23 a 28 de junho
Site: Página do Participante
Foto de capa: Folha Press