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20 livros para entender as questões raciais nos EUA

Nas últimas duas semanas não teve como passar batido pelos debates raciais e da luta antirracista. As manifestações por conta do assassinato de George Floyd mobilizaram a opinião pública fazendo com que imprensa e redes sociais voltasse seus olhos para os EUA. No Brasil a fagulha começa a se acender, ainda que de forma tímida infelizmente.

Vale ressaltar que muitas vezes as questões raciais do Brasil e dos Estados Unidos são lidas como a mesma, no entanto, ainda que seja sobre racismo, as configurações sócio culturais e históricas de cada nação contam com cargas muito distintas que exigem que a luta seja pautada tanto por suas semelhanças quanto por suas diferenças.

Levando isso em consideração, a equipe da Biblioteca Caio Fernando Abreu, a biblioteca comunitária da Casa 1, selecionou vinte títulos para entender as questões raciais nos EUA. E pode ficar tranquilo, porque já já chega uma lista com livros sobre o tema no Brasil.

1. “O Sol é Para Todos” – Harper Lee

Um dos clássicos da literatura e referencia sobre questões raciais nos EUA, “O Sol é Para Todos” é ambientado nos anos 1930, e narra à história de um advogado que defende um homem negro acusado de estuprar uma mulher branca. Os acontecimentos são contados pela sensível perspectiva de Scout, filha do advogado. Tornou-se um ícone atemporal tratando de temas como racismo, inocência, tolerância e justiça.

2. “A Cor Purpura” – Alice Walker

Obra-prima de Alice Walker, “A Cor Púpura” conta a história de Celie, uma menina negra de 14 anos que vive ao sul dos Estados Unidos, região muito tempo conhecida por suas narrativas de racismo, machismo e cicatrizes do patriarcado. A história é contato por meio das cartas que a protagonista escreve a Deus e a sua irmã por cerca de trinta anos, vivendo diversas ocasiões de solidão, pobreza, violência, amizade e amor e nos revelando os acontecimentos de abuso de seu pai, a submissão ao marido e a luta por mudança de perspectivas em uma sociedade marcada por desigualdade de gêneros, raça e classes sociais. A Obra de extremo sucesso foi adaptada para cinema, teatro e musicais.

3. “A Vida Secreta das Abelhas”- Sue Monk Kidd

O livro conta a história da jovem Lily, que foge dos maus tratos do pai para descobrir mais de seu passado e das circunstâncias que levaram à morte de sua mãe. Nessa empreitada tem apenas o apoio de sua babá Rosaleen, que por ser mulher negra enfrenta diversas situações de desigualdade nos Estados Unidos de 1960. “A Vida Secreta das Abelhas” aborda de maneira sensível os desafio e preconceitos raciais da época, falando também sobre como suas protagonistas enfrentam não só momentos de medo, culpa e solidão, mas também de força, amadurecimento e coragem.

4. “A Resposta” – Kathryn Stockett”

A história se inicia com a recém-formada Eugenia Skeeter, e seu sonho de se tornar escritora. Mesmo ainda trabalhando em um pequeno jornal local, tem a ideia de escrever um livro relatando os relacionamentos de empregadas domesticas com suas patroas brancas do Mississipi, nos anos de 1960, época marcada pelo períodode  gestação do movimento dos direitos civis nos EUA. Eugenia se aproximar de Aibeleen e Minny, empregadas domésticas, para conseguir seus relatos e evidenciar as desigualdades, violências e preconceitos sofridos por mulheres negras em uma sociedade racista.

5. “A Cabana do Pai Tomás” – Harriet Beecher Stowe

“A Cabana do Pai Tomas” além de uma aclamada obra literária, também alcançou grande valor político, por retratar a realidade da venda legal de seres humanos de maneira crua, bruta e selvagem, e como escravos eram tratados como objetos ou mercadorias para benefício de senhores brancos. Conhecido por instigar o sentimento de revolta e indignação em seus leitores, e pesar de movimentos de supremacistas brancos para resignificar a história, hoje em dia é tido como grande símbolo do início do movimento abolicionista nos Estados Unidos.

6. “Doze Anos de Escravidão” – Solomon Northup

Nesta obra Soloman Northup, conta sua própria história como homem negro livre vivendo em Nova York, que á atraído por uma falsa proposta de emprego em Louisiana, quando é sequestrado, drogado e comercializado como escravo passando 12 anos em cativeiro. “12 Anos de Escravidão” relata de maneira vívida os detalhes de modo de vida dos escravos e as violências que enfrentavam. A narrativa foi inspiração para o premiado filme de mesmo nome.

7. “As Aventuras de Huckleberry Finn”- Mark Twain

Mark Twain, conhecido pelo jeito único de contar histórias que satirizam e expõe as dualidades, conflitos e hipocrisias de seu país, traz neste livro as viagens de Huckleberry que decidi fugir de casa e juntamente com Jim, escravo fugitivo, vivenciam aventuras e se deparam com situações de racismo, submissão, brutalidade, puritanismo religioso e cultural e todos os conflitos e dilemas gerados por esses encontros, tudo de maneira caracteristicamente ácida.

8. “Eu Sei Por Que o Pássaro Canta na Gaiola” – Maya Angelou

De maneira autobiográfica, Maya Angelou apresenta Marguerite Ann Johnson, garota negra do sul dos Estados Unidos, criada por sua avó paterna e que em meio a uma sociedade racista e preconceituosa enxerga nos livros uma maneira de aliviar seus fardos e por meio da escrita mostra ao leitor as facetas dolorosas de sua vida marcadas por abusos e violências, mas também por libertação. Dessa forma Angelou ecoa a voz te tantos jovens negros e negras que viveram e vivem marcados por esses estigmas.

9. “Irmã Outsider” – Audre Lorde

Audre Lore, poeta, ativista, professora, mulher lésbica, mãe e negra, nos traz inúmeras reflexões e provocações sobre sociedade, machismo, racismo, violência policial, igualdade, imperialismo, feminismo negro e muitos outros assuntos em quinze ensaios compilados em sua obra “Irmã Outsider”. Considerada umas das mais importantes nas discussões contemporâneas de teorias feministas, traz proposições e pensamentos que nos desafiam a mobilizar mudanças necessárias em nossa comunidade.

10. “Americanah” – Chimamanda Ngozi Adichie

Ambientada num primeiro momento em uma Nigéria dominada por um governo militar, “Americanah” conta a história de Ifemelu, que ao se deparar com desafios que seu país apresentava para educação, marcado por sucessivas greves, deixe seu primeiro amor Obinze e muda-se para os Estados Unidos para seguir seus estudos. O desafio de se adaptar a diversas mudanças, tanto no meio acadêmico, quanto no meio social norteada por conflitos relativos raça, etnia e gênero, nos leva acompanhar a história da jovem imigrante. Anos mais tarde Ifemelu decide retornar ao seu país de origem e se depara novamente com as adversidades de se adaptar ao novo cotidiano e reavivar os laços com seu companheiro de adolescência.

11. “Laços de Sangue” – Octavia E.Butler1

“Laços de Sangue” traz uma narrativa tanto fantasiosa quanto realista, ao nos contar a história de Dana, uma mulher negra que vive nos tempos atuais, mas que vivencia a experiência de se transportada pelo tempo e espaço para meados do século XIX em um Maryland pré-Guerra Civil, e se vê a beira de um rio onde salva um garoto se afogando. Após esse acontecimento aparentemente sem explicação retorna repentinamente ao seu apartamento e época. As experiências continuam acontecendo com frequência, Dana ve-se então obrigada a compreender as relações e os perigos de estar em um período e local tão perigosos para uma mulher negra. Essa relação temporal explora a percepção que temos sobre escravidão, racismo e preconceito.

12. “Amada” – Toni Morrison

O livro narra a trajetória de Sethe, uma ex-escrava que, após fugir da fazenda em que era mantida cativa com os filhos, se refugia na casa da sogra em Cincinatti. No caminho, ela dá à luz um bebê, a menina Denver, que vai acompanhá-la ao longo da história. O título não segue uma estrutura linear, transitando entre passado e presente sob vários pontos de vista. Considerado um clássico contemporâneo, ganhou o Pulitzer de 1988 e em 2006 foi eleito pelo New York Times a obra de ficção mais importante dos últimos 25 anos nos Estados Unidos.

13. “Olhares Negros, Raça e Representação” – Bell Hooks

A coletânea de ensaios críticos interroga narrativas e discute a respeito de formas alternativas de observar a negritude, a subjetividade das pessoas negras e a branquitude. No livro, Bell Hooks foca no espectador — em especial, no modo como a experiência da negritude e das pessoas negras surge na literatura, na música, na televisão e, sobretudo, no cinema —, e seu objetivo principal é criar uma intervenção radical na forma como nós falamos de raça e representação. Lançado em 1992 o título ifelizmente segue extremamente atual.

14. “Os Caminhos Para Liberdade” – Colson Whitehead

O livro conta a história de Cora uma escrava em uma fazenda de algodão na Geórgia que ao conhecer Caesar descobre uma ferrovia subterrânea que os levaria até os Estados Livres, onde não há mais escravidão começando então sua jornada pela liberdade. O livro venceu o Pulitzer 2017 e recebeu excelentes críticas dos jornais dos EUA e do mundo.

15. “O Vendido” – Paul Beaty

Vencedor do Man Booker Prize 2016, O Vendido narra a trajetoria de um homem nascido em um bairro fictício no subúrbio de Los Angeles que passou a maior parte da juventude como cobaia para estudos raciais realizados por seu pai, um polêmico sociólogo. Quando o pai é morto em um tiroteio com a polícia e o bairro desaparece do mapa, o jovem se junta a Hominy Jenkins, o mais famoso morador local e o último ator vivo da série “Os Batutinhas”, para tentar salvar a cidade através de um controverso experimento social: reinstaurar a segregação racial em Dickens, marginalizando brancos e negros em um plano que o levará a ser julgado pela Suprema Corte dos Estado Unidos

16. “Pensamento Feminista Negro”- Patricia Hill Collins

Escrito pela socióloga Patricia Hill Collins em 1990, “Pensamento Feminista Negro”‘ é um título obrigatório nos estudos de gênero e raça nos Estados Unidos. No livro, a autora mapeia os principais temas e ideias tratados por intelectuais e ativistas negras estadunidenses como Angela Davis, Bell Hooks, Alice Walker e Audre Lorde, e assim constrói um panorama do feminismo negro com referências de dentro e de fora da academia. Didático e fácil, tem em sua edição brasileira, o prefácio escrito pela própria autora, com texto de orelha por Nubia Regina Moreira e a quarta capa, por Djamila Ribeiro.

17. “Estrelas Além do Tempo” – Margot Lee Shetterly

“Estrelas Além do Tempo” tem como grande qualidade deslocar o debate racial para um campo pouco explorado: a ciência. A trama que ganhou um filme em 2017 conta a trajetória de três matemáticas negras que auxiliaram a chegada do homem à Lua durante a Segunda Guerra Mundial por conta de suas atuações na NASA. Ainda que um tanto clichê dentro das narrativas que trazem questões raciais onde as personagens negras são praticamente salvas por personagens brancos, é uma boa leitura para aprender como se dava a segregação nos EUA até 1967.

18. “Mulheres, Raça e Classe” – Angela Davis

Podemos arriscar que não é possível existir uma lista sobre questões raciais que não traga um título de Angela Davis. Para este post optamos por “Mulher, Raça e Classe” pela precisão nos debates sobre opressões e suas intersecções. De início a autora se debruça na escravidão e seus efeitos, passando pela desumanização da mulher, chegando a impossibilidade de se pensar um projeto de nação que desconsidere a centralidade da questão racial, já que as sociedades escravocratas foram fundadas no racismo. O livro trata ainda de questões de abolicionismo penal e encarceramento em massa da população negra, entre outros temas.

19. “Se a Rua Beale Falasse” – James Baldwin

Outro título que ganhou versão para os cinemas, no caso pela Netflix, “Se a Rua Beale Falasse” trás a jovem Tish, que luta para provar a inocência de Fonny, seu noivo, preso injustamente no Harlem da década de 1970.
É o quinto romance de James Baldwin, grande escritor pouco reconhecido nos dias de hoje. Outro bom título do autor é “O Quarto de Giovanni”, livro meio autobiográficas, que trás um jovem bissexual entre sua namorada Hella e o um garçom italiano que dá nome ao romance.

20. “As Duas Faces do Gueto” – Loïc Wacquant”

Escrito pelo sociólogo Loïc Wacquant, “As Duas Faces do Gueto” e uma análise do aparecimento de um novo regime de marginalidade urbana nas sociedades ocidentais. Partindo da implantação da agenda neoliberal, onde se destacam políticas de penalização da pobreza. Focado no gueto estadunidense, Loïc disseca a estrutura do que chama de “cidade negra dentro da branca”, onde por um lado, o gueto perpetua a exclusão e a exploração econômica e, por outro, garante certa proteção ao permitir alternativas de organização e autonomia cultural – daí suas duas faces.

A Casa 1 é uma organização localizada na região central da cidade de São Paulo e financiada coletivamente pela sociedade civil. Sua estrutura é orgânica e está em constante ampliação, sempre explorando as interseccionalidade do universo plural da diversidade. Contamos com três frentes principais: república de acolhida para jovens LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) expulsos de casa, o Galpão Casa 1 que conta com atividades culturais e educativa e a Clínica Social Casa 1, que conta com atendimentos psicoterápicos, atendimentos médicos e terapias complementares, com foco na promoção de saúde mental, em especial da comunidade LGBT.

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