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Precisamos falar de Elliot Page na capa da Revista TIMES

Por Cyro Morais, produtor de conteúdo freelancer da Casa 1 

Quantos homens trans ou trans masculinos você conhece? Muitos? Quantos deles são famosos? Quantos tem fama internacional? Quantos foram capa de algum periódico de grande visibilidade no mundo? Pois é, é por isso que precisamos falar do ator Elliot Page na capa de uma das edições da revista TIME deste mês. 

Uma das mais conhecidas revistas semanais de notícia do mundo, a revista TIME surgiu em março de 1923, nos Estados Unidos. Em seus 98 anos de existência, a revista ganhou o mundo. Criou uma edição europeia, que é publicada em Londres e cobre Oriente Médio, África e América Latina. Outra versão editada em Hong Kong cuja cobertura engloba os países da Ásia, e outra, canadense, editada em Toronto. 

As capas da Time já estamparam diversas personalidades. De Michael Jackson a Mahatma Gandhi. De Hitler a Martin Luther King. Angela Merkel, Obama e até Trump, que foi capa da revista com o título “Presidente de uma América Dividida”. Mesmo com toda essa pluralidade, as pessoas que estampam a frente do periódico tem sempre algo em comum: visibilidade no que fazem.  

Com Elliot Page não é diferente. Aos 34 anos, seu talento é inquestionável. Ele já esteve no elenco de filmes de sucesso, como Inception, X-men e Juno. Mais recentemente, ele participou da série crônicas de São Francisco, que contava no enredo com vários personagens transgêneros. As gravações, no entanto, aconteceram antes do anúncio que fez em dezembro no seu perfil do instagram, dos pronomes ele e dele, pelos quais gostaria de ser tratado. 

À revista, Page disse que as reações ao seu comunicado foram dentro das expectativas.“O que eu esperava era muito apoio e amor e uma enorme quantidade de ódio e transfobia”, diz ele. “Isso é essencialmente o que aconteceu.” 

O que ele, talvez, não esperasse era a proporção que a história tomaria: ficou no topo dos trending topics do twitter em 20 países. Na entrevista, Elliot falou sobre carreira, fama e sua luta pelos direitos das pessoas trans. 

“Estou muito animado para atuar, agora que estou nesse corpo”, disse ele, que também relatou para a repórter Katy Steinmetz da lembrança de ‘um sentimento de vitória’, que teve ao cortar o cabelo curto, aos nove anos, e, pela primeira vez, ser percebido por estranhos como um garoto. “Eu queria ser um menino. Eu perguntava a minha mãe se um dia eu poderia ser”, disse ele durante a entrevista. 

Elliot Page não é a primeira pessoa trans a estampar a capa da Time. Em 2014, a atriz negra Laverne Cox foi a primeira mulher trans a sair na capa da revista. De lá pra cá muito se avançou no reconhecimento e na visibilidade das pessoas trans. O sucesso de séries com Pose e Veneno são prova disso. Ao mesmo tempo, muitas coisas ainda tem o que avançar. A triste marca de país que mais mata pessoas trans no mundo não deixa, nós brasileiros, sonharmos muito alto. 

O título que acompanha a foto de Elliot na capa dessa edição histórica traz uma frase do próprio ator “I am fully who I am”, ou em tradução livre “Eu sou completamente quem eu sou”. Mais do que uma frase de efeito, essa fala diz muito. Em um mundo dominado por padrões que matam pessoas como ele, a revista traz um Page, que mesmo tendo as benesses de ser um ator mundialmente famoso, está ali, humano, contando sua história sem fetichizações diante de todos. Criando imaginários possíveis. 

A matéria sobre Elliot Page na Times é histórica e super importante. Mas sua importância não reside apenas na sua realização e, muito mais em para onde ela aponta, para que horizonte nos faz olhar. Que outros homens trans e trans masculinos deveriam estar nas capas do mundo inteiro? Quantos outros tão talentosos quanto ele ainda estão incógnitos? Se ainda não sabe, procure saber. É aí que reside a mudança. 

Foto de Capa: Reprodução

A Casa 1 é uma organização localizada na região central da cidade de São Paulo e financiada coletivamente pela sociedade civil. Sua estrutura é orgânica e está em constante ampliação, sempre explorando as interseccionalidade do universo plural da diversidade. Contamos com três frentes principais: república de acolhida para jovens LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) expulsos de casa, o Galpão Casa 1 que conta com atividades culturais e educativa e a Clínica Social Casa 1, que conta com atendimentos psicoterápicos, atendimentos médicos e terapias complementares, com foco na promoção de saúde mental, em especial da comunidade LGBT.

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