Com influências de música pop/eletrônica e uma pitada de funk, as artistas Alexys Àgosto e Dêivití lançam DESPROGRAMADO.EXE, faixa abre alas do projeto artístico da dupla. Feito de forma totalmente autoral, a dupla abusa de sintetizadores para construir uma atmosfera futurista no seu single de estreia.
Alexys Àgosto e Dêivití são duas pessoas não binárias que estão começando sua carreira musical. Alexys Àgosto tem 23 anos e é musicista, atriz e dramaturga. Estuda Artes Cênicas na Universidade de São Paulo e pesquisa o grupo teatral Dzi Croquettes, que serve de influência para seu trabalho artístico. Dêivití vem da periferia da Zona Sul de São Paulo. É também estudante de Artes Cênicas, poeta, videomaker e musicista, compondo músicas desde 2014. Desde 2020 as duas constroem “FUTURÍSTICA”, um projeto dividido em três atos (três EPs). Uma mistura de música pop, ficção científica e dramaturgia. Esse projeto será lançado ao longo de 2021.
Em DESPROGRAMADO.exe, somos apresentades à Futurística, personagem que se perdeu no espaço-tempo e ficou presa na nossa realidade. Sua missão é “te desprogramar” ao cantar sua história. É ela a voz por trás de todas as músicas do projeto. Conheceremos suas dores, seus amores e mais de suas vontades nos próximos lançamentos.
O vídeo foi gravado e editado por Alexys Àgosto, usando um chromakey caseiro. Os vocais da música também são dela. A produção musical foi realizada em parceria com Dêivití, sendo elu responsável pela mixagem e masterização. A assistência de arte, edição de fotos e desenhos (como a arte de capa) que acompanham o projeto são uma contribuição de Armr’Ore, também uma pessoa não binária.
“DESPROGRAMADO.EXE é o nosso primeiro single, e apresenta o universo tecnológico de FUTURÍSTICA. É o prólogo da história que iremos cantar. Essa música fala sobre a necessidade de se desprogramar tecnologias construídas sobre os nossos corpos que nos fazem mais mal do que bem”, declara Alexys Àgosto.
A música foi lançada dia 01/02 em todas as plataformas digitais, após uma intensa programação de fotos e vídeos nas redes sociais. O videoclipe da música foi lançado no I Sarau do CALC (Centro Acadêmico Lupe Cotrim, ECA-USP) no último sábado (06/02).
O objetivo do guia, feito em parceria com a Casa 1 e o escritório Baptista Luz Advogados, é auxiliar pessoas que queiram realizar o procedimento de retificação de pronome e marcador de gênero em seus registros civis no Brasil, também trazendo informações claras sobre este tema para aqueles que tenham interesse em compreender melhor o assunto e sua importância. Além do passo a passo e lista de documentos necessários para o processo, o guia também apresenta perguntas e respostas para auxiliar em eventuais desafios práticos.
O procedimento de retificação foi criado há pouco tempo, o que significa que ainda existe muito desconhecimento sobre como ele deve ocorrer. Por essa razão, a pessoa interessada na retificação deve estar especialmente informada de seus direitos, entendendo o que de fato as normas exigem para a sua realização.
A Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), é uma rede nacional que articula em todo o Brasil 127 instituições que desenvolvem ações para a promoção da cidadania da população de travestis e transexuais e foi fundada no ano 2000 em Porto Alegre. A cartilha pode ser acessada através desse link.
O Coletivo PoupaTrans também possui uma cartilha e passo-a-passo para facilitar e auxiliar no processo de retificação de nome e/ou gênero de pessoas trans e não-binárias nos cartórios do Estado de São Paulo através do projeto “Simplifica Trans”.
A gente sempre teve por hábito comunicar todo mundo que acompanha a Casa 1 sobre o que estamos fazendo, e com a pandemia e a impossibilidade de ter as pessoas aqui com a gente vendo tudo rolar, começamos a fazer também vídeos mensais e depois bimestrais reunindo tudo o que movimenta o projeto.
Com um ano de isolamento, vídeos e lives que eram tão presentes no começo acabaram de certa forma sobrecarregando nosso dia a dia. Por isso, agora em 2021, nossas atualizações vão acontecer em formato de post e tudo com link para você conferir o que perdeu, ou então rever o que gostou. Vamos lá?
Foram entregues 1440 copos de água com lacre para população LGBT+ e população em situação de rua, cerca de 1500 máscaras de tecido, 586 cestas básicas e 30 mil itens de produtos da Mãe Terra doados pela Unilever. São farinhas, biscoitos, granolas, pipocas e diversos outros produtos entregues diretamente para o público ou repassados para cerca de 60 outras organizações da sociedade civil.
No campo de acolhida, seguimos com cinco moradores e moradoras, numero máximo possível de atendimento por conta dos protocolos sanitários. Foram realizadas ainda 15 triagens com encaminhamentos para outros serviços que contam com possibilidade de atendimento direto.
Foram realizados 39 plantões de escuta, a partir do retorno dos atendimento em 13 de janeiro. 55 pacientes seguem em atendimento psicoterápico continuado e 36 atendimentos psiquiátricos. Todos os atendimentos da Clínica Social Casa 1 seguem acontecendo virtualmente.
Presencialmente, o espaço da Clínica segue apenas ofertando o serviço da pesquisa PrEP 15-19, que realiza o atendimento de jovens entre 15 e 19 anos para PrEP. O trabalho é realizado pela equipe da Faculdade de Medicina da USP e você pode saber mais aqui.
Foram realizados 318 atendimentos, sendo a grande maioria de entregas e recebimentos de doações. No campo das doações, foram 1.395 títulos doados entre livros, DVDs, CDs, histórias em quadrinhos e revistas. 830 deles entregues por meio do projeto Balaio Literário, em que a comunidade/vizinhança retira as obras que lhe interessam.
Os outros títulos foram encaminhados para EMEF Celso Leite Filho (Bela Vista), Associação Lar Ternura (Parque Ipe), Lar Apóstolo Simão Pedro (Vila Mazzei), Associação Cultural Nossa Senhora das Graças (Bela Vista), Associação Cultural Marieta Dutra / Biblioteca comunitária (Guarulhos) e Jardim Miriam Arte Clube – Jamac (Jardim Miriam).
Foram entregues ainda 88 kits com material de leitura (livros infantis e HQs), material de desenho, material escolar e/ou brinquedos para crianças.
Seis voluntários seguem organizando o acervo, sempre em horários diferentes e á portas fechadas. Também realizamos programações online, com o Biblioteca Convida, recebeu quatro encontros virtuais, com os autores e autoras Mário César, Kaio Phelipe, Lara Ximenes e Juca Xavier.
Você pode conferir todos os papos do Biblioteca Convida aqui.
Programação
O English To Transform, projeto de aula de línguas da Casa 1 segue disponibilizando aulas online no Youtube e realizando encontros virtuais de inglês e espanhol para 15 membros da equipe de funcionários e funcionárias da casa.
Já o Ponto de Encontro, nossa programação de contrapartida da Lei Emergencial de Cultura Aldir Blanc realizou nove conversas com grupos e coletivos de diferentes linguagens artísticas, que acontecem em todas as regiões da cidade de São Paulo. Os bate-papos falaram sobre os desafios de fazer cultura em tempos de pandemia.
Você pode assistir a todos os Pontos de Encontro aqui.
Também aconteceram três oficinas de automaquiagem onlin,e que começaram no dia 05 de fevereiro. Ainda rolou o lançamento do segundo dossiê do Instituto Temporário de Pesquisa Sobre Censura, com texto de Marcos Visnadi – uma História da AIDS no Brasil, áudio da Neon Cunha – As bocas do Lixo e do Luxo e uma aula com Ronaldo Serruya e Fabiano de Freitas sobre “ Os primeiros anos da epidemia de HIV/AIDS no Brasil”.
Um dos destaques da programação é também o lançamento do primeiro podcast da Casa 1, o Passagem Só de Ida, que conta a trajetória de pessoas LGBT+ brasileiras e imigrantes que migraram para a cidade de São Paulo. No primeiro programa: GG ou Madonna Duarte de Beverlly Hills em Hollywood. Todos os episódios estão disponíveis no site do programa.
IV Semanda de Visibilidade Trans
No dia 29 de janeiro aconteceu uma transmissão ao vivo do Teatro Oficina, com os pockets shows de Alice Guél e Danna Lisboa e do espetáculo “Wonder! – vem pra barra pesada”, com Wallie Ruy.
Por conta da Pandemia, toda a programação da IV Semana da Visibilidade Trans foi virtual e com curadoria de Renata Carvalho, incluindo a oficina mediada por Daniel Veiga, que resultou na publicação do livro Escrivivências, com nove autores e autoras. Está disponível aqui.
Houve também a publicação do primeiro livro da coleção Traviarcado, com textos de Sara Wagner York, Bruna Benevides (Antra) e Ian Geike. Nesse processo, foram remunerados 16 profissionais trans, travestis e não bináries.
E para saber mais, basta acompanhar a gente no nosso site e nas nossas redes sociais!
Entre os dias 19 a 28 de março a plataforma de Streaming TodesPlay recebe duas programações na semana do combate a discriminação racial. O primeiro evento é o Festival “Cinema também é Quilombo” que aborda a representatividade negra no cinema. A programação conta com competição virtual que selecionará produções audiovisuais de realizadores negros brasileiros e da diáspora africana em outros países. O filme mais votado no júri popular será premiado com o valor de R$ 1.000.
Realizada pela primeira vez em ambiente virtual, a segunda edição do X-Reality USP 2021 Ressignificação da Presença, também é uma das agendas da plataforma TodesPlay. A programação vai discutir como o avanço das tecnologias de produção de imagem digital podem expandir mundos e inventar aplicações das estéticas audiovisuais às científicas. Trabalhos nacionais e internacionais em três diferentes mostras também farão parte da programação. A mostra é gratuita e aberta ao público de todo o país.
E para o público infantil a TodesPlay reservou uma atração especial, o programa Kekere Infâncias, um episódio de 50 minutos, elaborado para dar continuidade aos eventos presenciais que já aconteciam desde 2018, no Centro Afro Carioca de Cinema, no Rio de Janeiro. O lançamento acontecerá no dia 20 de março, às 10h, na TodesPlay. A programação pode ser conferida até dia 28 de março.
Os eventos coincidem com a semana contra a discriminação racial que é comemorada no dia 21 de março. A Todesplay é uma plataforma de streaming voltada para exibição de conteúdo identitário, dando prioridade a produções audiovisuais negras, LBGTQ+ e indígenas. De forma gratuita a todesplay integra diversas Mostras e Festivais em sua programação. Para conferir a programação completa dos eventos acesse o site https://todesplay.com.br/.
Serviço:
Festival “Cinema também é Quilombo” Local: Plataforma de Streeming TodesPlay Data: 19 a 28 de março
X-Reality USP 2021 Ressignificação da Presença, Local: Plataforma de Streeming TodesPlay Data: 20 a 28 de março
Escrevivência foi um termo cunhado por Conceição Evaristo e se refere à escrita literária como ferramenta política, a palavra foi emprestada para nomear o livro produzido coletivamente durante uma oficina da Casa1, realizada durante a IV Semana da Visibilidade Trans. “Escrevivências – CUSturas Poéticas” faz parte da Coleção “Traviarcado”, organizada pela transpóloga Renata Carvalho e foi lançada pela Editora Monstra, um projeto editorial da Casa1 que tem como propósito documentar e fazer circular produções de pessoas LGBTQIA+.
Com textos de Afro Queer, Bruna Pires, Cae Beck, C. Hanada, Caê Ferraroni, Lira Queiroz, Márcie Vieira, Renata Bastos e Zara Dobura, o livro também teve sua produção gráfica executada de maneira coletiva, em parceria com Laura Daviña do Parquinho Gráfico. Sua tiragem física foi destinada apenas para participantes da oficina e agora a obra está disponível ao público na versão online e em áudio e pode ser acessada aqui.
O escritor, dramaturgo, professor e co-fundador do Coletivo de Artistas Transmasculines Daniel Veiga, foi o orientador da oficina realizada à distância: “Há formas de amenizar o impacto da virtualidade: pedir que todes trabalhem com as câmeras ligadas, dar mais espaço para as trocas, onde todes contribuam com suas falas deixando a coisa mais dinâmica, enfim.”
Para ele a parte mais desafiadora da oficina foi mergulhar na intimidade das pessoas durante três dias e instigá-las a abrirem e compartilharem suas vivências: “Escrever é um ato demasiado prazeroso, mas também doloroso, muito íntimo e orientar um grupo a abrir suas pessoalidades é delicado, exige confiança. Quando eu começo uma turma nova ou vou dar uma oficina para um grupo pela primeira vez, nunca sei quais feridas posso encontrar entre os participantes. Daí a importância da escuta aberta, da delicadeza, da generosidade, mas também de me colocar quanto orientador de escrita. Mostrar a importância de se encarar a escrita como ofício e escrever pra valer. Para além disso, quando estamos entre nós, entre pessoas trans, a gente sabe que o buraco é muito mais embaixo. Os temas que surgem trazem questões como rejeição, violência, solidão. Por isso é tão importante que cada vez mais pessoas trans estejam à frente deste tipo de projeto. Só um de nós – com nossas particularidades e universo próprio – consegue entender a dimensão do problema e também a dimensão das vitórias”.
A coleção “Traviarcado” traz questões importantes sobre as possibilidades da travestilidade e da transexualidade, contribuindo para o debate de forma didática, acessível e nítida. Também somando na disseminação e na produção intelectual de pessoas trans e travestis, construindo acervo documental e de memória. A ideia da coleção é naturalizar todas essas vivências e suas experiências. O livro “Escrevivências – CUSturas Poéticas” e obras similares ajudam na construção documental e da memória, mas esse arquivo não é importante somente para pessoas trans e travestis: “A maioria das pessoas cis conhecem pessoas trans através de outras pessoas cis. A cisgeneridade, sobretudo branca, é quem domina nossas narrativas. E esse CIStema sempre vende – vende mesmo, para lucrar – a nossa imagem de maneira patologizante, altamente marginalizada, exotificada e estereotipada, sempre para gerar piedade, curiosidade, asco ou riso. Esse controle falacioso das narrativas trans pela cisgeneridade permite a manutenção das muitas formas de violência que sofremos e, com isso, ninguém sai ganhando de verdade. Talvez alguns artistas cis tenham uns lucros medianos ou ganhem algum prêmio sequestrando nossas histórias, mas nada se ganha de verdade enquanto sociedade, absolutamente nada melhora. Por isso reforço a importância cabal de termos mais pessoas trans controlando as narrativas nas diversas linguagens artísticas, através da dramaturgia para o audiovisual ou para o teatro, através da literatura, através da música, enfim, através da palavra. É usar a língua patriarcal e colonizadora a nosso favor para mostrar quem somos de verdade. Obras como o livro ‘Escrevivências – CUSturas Poéticas’, que nasceu desta oficina, são mais um tijolo fixado na estrutura deste novo tempo, é mais uma peça imprescindível nesta engrenagem que levará as pessoas trans a dominarem suas narrativas. E nós sabemos valorizar cada vitória, porque só nós sabemos a grandiosidade de cada uma delas” complementa Daniel.
A deputada estadual de São Paulo Érica Malunguinho (PSOL), listou em suas redes sociais os 21 históricos do movimento LGBT+ no Brasil, confira:
1978: Fundação do Grupo Somos, primeira organização sociopolítica em defesa dos direitos LGBT no Brasil
1985: É criado o Programa de DST e AIDS no Ministério da Saúde
1990: Despatologização da homossexualidade, que deixa de ser reconhecida pela OMS como doença
1992: Nascimento da Associação de Travestis e Liberados, fundada no Rio de Janeiro
1992: Kátia Tapety é eleita como vereadora no município de Colônia (PI) e torna-se a primeira travesti eleita no Brasil
95/2020: Consolidação da primeira rede nacional de entidades do Movimento de Travestis e Transexuais do Brasil: RENATA/RENTRAL/ANTRA
1997: SUS passa a realizar cirurgias de redesignação secual em caráter experimental
2008: Processo Transexualizador é instituído no SUS
2009: Nome social é instituído no SUS
2010: Início das atividades do Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (CNCD/LGBT)
2011: Protocolo da ADI a favor da União Estável Homossexual
2013: Lançamento da Política Nacional de Saúde Integral LGBTI
2015: Programa Transcidadania é lançado no município de São Paulo
2016: Dilma Rousseff assina decreto que garante o direito ao nome social e o reconhecimento da identidade de gênero das pessoas trans
2018: STF garante a retificação de nome e sexo nos registros civis de pessoas trans no Brasil
2018: Erica Malunguinho é eleita e torna-se a primeira mulher trans eleita deputada no Brasil
2019: STF vota favorável à criminalização da LGBTfobia
2019: A transexualidade deixa de ser reconhecida pela OMS como transtorno mental
2020: STF derruba proibição de doação de sangue por parte de pessoas LGBTQIA+
2020: Publicação da mais recente resolução do Conselho Nacional de Justiça sobre a população LGBTQIA+ em privação de liberdade
2020: Mais de 30 pessoas trans foram eleitas no pleito municipal de 2020
Março é um mês de celebração das diferenças. Entre os dias que nos lembram das lutas de movimentos sociais por direitos, o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) em memória ao Massacre de Sharpeville, que ocorreu no bairro negro homônimo situado em Vereeniging, cidade da África do Sul. Em 21 de março de 1960, foi marcada uma manifestação pelo fim da política de passe, que restringia a circulação da população negra nas ruas. Milhares de pessoas protestaram em frente a uma delegacia de Sharpeville e foram atacadas pela polícia. Foram mortos 69 manifestantes e 180 ficaram feridos.
Na era do apartheid, regime colonialista que durou de 1948 a 1994 na África do Sul, os direitos de negras e negros, majoritários no país, ficaram restritos por políticas que institucionalizavam o racismo e privilegiavam brancas e brancos – boa parte de origem anglo-saxã, pois o Reino Unido colonizou o país até o início do século XX.
Quase 30 anos depois do fim do apartheid, a população negra ainda sofre discriminação racial não somente na África do Sul, mas em todo o mundo. Muitos casos de racismo continuam institucionalizados pelo Estado. A violência policial é um exemplo disso. De acordo com dados de um relatório de 2020 produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, cerca de 79,1% das vítimas de intervenções policiais são negras, enquanto 20,8% são brancas. Essa disparidade de mortes causadas por uma das principais instituições do Estado é gritante. Além disso, a desigualdade entre as raças ainda é presente nos acessos a oportunidades de estudo e de emprego, nas diferenças salariais e, consequentemente, em outras dimensões sociais, como o direito à saúde e à habitação. E, também, em campos culturais, como o das artes e da literatura.
A literatura negra tem a resistência, que perdura há séculos, como terreno fértil para a construção de narrativas, incluindo a dos povos negros. Nessas narrativas, eles ocupam o seu próprio lugar, marcado por suas perspectivas de vida, repletas de diferenças, mas unidas pelas heranças históricas que atravessam sucessivas gerações. A população negra resiste por meio da literatura, um meio de expressão para as suas vozes, e dentro dela, já que ainda existe uma grande desigualdade entre autoras e autores negros e brancos no mercado editorial. Por isso, neste dia 21 montamos uma lista de livros de escritoras e escritores negros para ter na cabeceira da cama.
1 – “Quarto de despejo: diário de uma favelada”, Carolina Maria de Jesus
Carolina Maria de Jesus foi uma escritora negra, mineira de nascença, que se mudou para São Paulo, onde exercia a atividade de catadora de papéis e morava na Favela do Canindé. Seu livro mais famoso, um diário sobre sua própria vida, é um clássico publicado em 1960, “Quarto de despejo: diário de uma favelada”.
“[…] Despedi-me e retornei-me. Cheguei em casa, fiz o almoço. Enquanto as panelas fervia eu escrevi um pouco. Dei o almoço as criança, e fui no Klabin catar papel. Deixei as crianças brincando no quintal. Tinha muito papel. Trabalhei depressa pensando que aquelas bestas humanas são capás de invadir o meu barracão e maltratar meus filhos. Trabalhei apreensiva e agitada. A minha cabeça voltou a doer […]”.
2 – “Mulheres, raça e classe”, Angela Davis
Esta obra-prima de Angela Davis examina profundamente o racismo institucionalizado nas sociedades contemporâneas, traçando um percurso histórico da opressão dos povos negros. A autora discute a negritude em intersecção com outros recortes, como o de classe e gênero, e o funcionamento dos mecanismos de controle do Estado para negras e negros.
“[…] As mulheres grávidas não apenas eram obrigadas a realizar o trabalho agrícola usual como também estavam sujeitas às chicotadas que trabalhadoras e trabalhadores normalmente recebiam se deixassem de cumprir a cota diária ou se protestassem com ‘insolência’ contra o tratamento recebido […]”
O livro é uma espécie de autobiografia do ator, em que conta suas histórias e debate questões contemporâneas como a diversidade. Ele convida seus leitores e leitoras a vestirem a sua pele e entrarem em seu universo particular.
“[…] Ter passado a conviver com pessoas que não refletiam sobre o racismo no seu dia a dia me fez buscar argumentos para inserir esse tema nas conversas. Queria que elas percebessem o que para mim era tão claro. Queria dividir sem medo minha sensação de entrar num restaurante e ser o único negro no lugar. Queria mostrar as riquezas da cultura afro-brasileira, da qual eu tanto me orgulho e que é tantas vezes ignorada […]”.
4 – “Negritude: usos e sentidos”, Kabengele Munanga
Kabengele Munanga é um antropólogo nascido na República do Congo e radicado no Brasil. Professor e pesquisador, construiu sua carreira acadêmica investigando o tema das identidades e diferenças, especialmente, da negritude. Este livro discorre sobre a construção das identidades negras no Brasil em vista da história dos povos africanos, observando suas mudanças diante de diferentes contextos e da influência da colonização, das diásporas e da assimilação cultural.
“[…] Se o processo de construção da identidade nasce a partir da tomada de consciência das diferenças entre ‘nós’ e ‘outros’, não creio que o grau dessa consciência seja idêntico entre todos os negros, considerando que todos vivem em contextos socioculturais diferenciados […]”.
Este livro discute como o racismo está enraizado nas estruturas sociais e presente nos grandes e pequenos atos do dia a dia. O manual também mostra como o racismo se confunde com a história do Brasil e traz importantes reflexões de como a população negra vivencia as várias formas de opressão.
“[…] Desde cedo, pessoas negras são levadas a refletir sobre sua condição racial. O início da vida escolar foi para mim o divisor de águas: por volta dos seis anos entendi que ser negra era um problema para a sociedade […]”.
6 – “A origem dos outros: seis ensaios sobre racismo e literatura”, Toni Morrison
Ganhadora do Nobel de Literatura e do Pulitzer, Toni Morrison analisa grandes clássicos da literatura para compreender como o racismo se instaura neles, como a negritude é representada e como se constroem as identidades raciais.
“[…] Porém, a tendência dos humanos de separar aqueles que não pertencem ao nosso clã e julgá-los como inimigos, como vulneráveis e deficientes que necessitam ser controlados, tem uma longa história que não se limita ao mundo animal nem ao homem pré-histórico. A raça tem sido um parâmetro de diferenciação constante, assim como a riqueza, a classe e o gênero, todos relacionados ao poder e à necessidade de controle […]”.
Por Cyro Morais, produtor de conteúdo freelancer da Casa 1
Com uma programação totalmente online nos dias 21, 25, 26 e 27 de março, o evento – realizado pelo coletivo Bixanagô, – traz rodas de conversa, oficinas, showcases e uma exposição virtual. O objetivo é estimular as potencialidades da cultura LGBTQIA+ com estética urbana e do universo periférico, ampliando o debate sobre questões acerca das identidades étnico racial, de gênero e interseccionalidade.
A primeira edição, em 2019, foi a única presencial do Bixanagô, que contou com um público de cerca de 3 mil pessoas. Em 2020, a programação, mais enxuta, já foi online. Este ano, segundo os organizadores, o número de atrações cresceu.
Entre os diversos temas abordados nas atividades do festival, estão alimentação, planejamento financeiro e arranjos produtivos, como os relacionados à moda e às artes, para geração de renda. “O movimento LGBTQIA+ está discutindo outras pautas que não são essas de sobreviver, alimentação. Estão nas universidades, discutindo casamentos”, diz Marcelo, acrescentando que a discussão sobre direitos civis é importante, mas existem outras pautas básicas e urgentes quando se pensa a realidade da parcela da população negra.
“O movimento dos gays, brancos, classe média, eles não estão pensando nisso. É a partir do cenário de raça que aparecem todas essas outras interseccionalidades. A gente tem que trazer esse contraponto de que existe essa série de demandas secundárias e que são urgentes”, diz ele.
Economia criativa, cuidados e imunização contra doenças também são alguns dos temas dos debates do festival realizado pelo coletivo desde 2019. “Naquele ano, um dos integrantes do coletivo se descobriu com HIV. Colocamos esse debate sobre as ISTs e, mais especificamente, sobre o apagamento das bichas pretas soropositivo. Temos uma alta infecção das bichas brancas. Mas as que mais morrem são as bichas pretas. O Bixanagô surge nesse contexto da gente ter um espaço para conseguir debater essas e outras questões que são da população preta e que as bichas brancas não estão discutindo”, afirma Morais.
“Por exemplo, quando você faz o uso do coquetel antirretroviral você precisa garantir uma alimentação, vitaminas. Tem gente que o coquetel causa descalcificação e a pessoa perde os dentes. Precisamos dar visibilidade a essas outras pautas que o movimento não dá visibilidade”, revela Marcelo.
DISCUSSÕES
““Para a construção das oficinas tivemos o trabalho de observar quais eram as necessidades do cotidiano das BixaNagôs, como por exemplo, pensar em sua alimentação, ou em arranjos produtivos que consigam gerar alguma fonte de renda. Assim também foi feito com as rodas de conversa, onde tivemos o cuidado de pensar questões que interferem diretamente no cotidiano como a criminalização da cultura periférica, sustentabilidade econômica e espaços para pensar na prevenção combinada de ISTs”, conta o idealizador do festival e curador das atividades
Os temas das roda de conversa são: “Bixa cadê meu dinheiro: Sustentabilidade econômica e economia criativa nas artes”, com Guilherme Calixto; “Criminalização da cultura e das identidades periféricas”, com Jaqueline Santos, Juliana Bragança e Maitê Freita; “Das margens, ao centro do debate: Direitos, Políticas Públicas e Pop LGBTQIA+”, com Felipa Brunelli, Midiã Noelle e Thiago Amparo; “Pega ou não pega: ISTs, transmissão e prevenção”, com Beto de Jesus; e “Prevenção combinada – novas tecnologias para o controle da AIDS”, com Dr. Alvaro Costa, Lorangeles Thomas e Emer Conatus e Raul Nunnes do projeto Preto Positivo.
EXPOSIÇÂO, PERFORMANCES E ATRAÇÕES MUSICAIS
O festival traz uma programação intensa com diversas performances e números musicais. A abertura será no domingo 21, com os shows de Enme e Tasha Tracie.
No final de semana seguinte, estão os shows de Urias, Irmãs de Pau, (que recentemente lançaram o clipe Travequeiro); Rico Dalasam, primeiro show do novo álbum; Alice Guél e muitos outros.
O festival conta ainda com performances de Renata Prado, Babiy Querino.
É possível conferir a programação completa no instagram do @festivalbixanago
O evento traz ainda com uma exposição virtual dos artistas Alexandre dos Anjos, Karolayne Kemblin, Mayara Amaral e Manauara Clandestina irão expor seus trabalhos em uma plataforma exclusiva do festival.
O Supremo Tribunal Federal (STF) pode derrubar a tese de legítima defesa da honra, usada para defender, principalmente, homens acusados de feminicídio. Para o ministro Dias Toffoli, que baixou uma liminar para proibir a utilização do argumento por advogados, a tese é inconstitucional e contraria princípios da dignidade humana, da igualdade de gênero e da proteção à vida, em suas palavras uma justificativa “odiosa, cruel e desumana”.
A ação foi movida pelo PDT – Partido Democrático Trabalhista que acionou o STF questionando a tese jurídica. De acordo com o partido, a tese da legítima defesa da honra abre precedentes para que uma pessoa, geralmente um homem, mate outra pessoa, geralmente uma mulher, com o intuito de defender sua honra perante a sociedade, por razões como término ou traição em uma relação afetiva. O partido apresentou a ação em janeiro, após um levantamento do partido que identificou o uso do argumento em tribunais desde 1991.
Mesmo não prevista pela Constituição, a tese é usada muitas vezes para defender réus nos tribunais. Um dos casos de grande repercussão em que o argumento foi apresentado pela defesa foi no assassinato da socialite Ângela Diniz, assunto do podcast “Praia dos Ossos”. Ângela foi assassinada com quatro tiros na cabeça em dezembro de 1976 por seu então namorado Doca Street.
Até o momento, além de Toffoli, apenas o ministro Gilmar Mendes apresentou seu voto e foi favorável à abolição do argumento. O julgamento ficará aberto até o dia 12 de março e pode ser suspenso ou adiado caso algum ministro peça mais tempo de análise do processo.
A tese e a transmídia
A produção midiática “Praia dos Ossos”, da Rádio Novelo, reconstitui em oito episódios a história de Ângela, seu relacionamento com Doca Street, seu assassinato, o julgamento do caso e também questiona a atuação e abordagem da mídia em casos de feminicídio.
Para a Casa1, Branca Vianna, idealizadora da Rádio Novelo e apresentadora do “Praia dos Ossos” e a pesquisadora e coordenadora de conteúdo Flora Thomson – DeVeaux ministraram a aula aberta “Outras formas de narrar: Feminismos e memória”. O conteúdo pode ser acessado no Youtube aqui.
A aula contou com a mediação de Lívia Lourenço, psicanalista coordenadora do Grupo de Trabalho de Saúde e da Clínica Social da Casa1 e de Pam Michelena, advogada coordenadora do Grupo de Trabalho Jurídico da Casa1.
A Biblioteca Comunitária da Casa1 participou da formação para bibliotecas comunitárias da Rede LiteraSampa. Criada em 2010, a Rede LiteraSampa tem como princípio promover o direito humano à literatura, à memória e à valorização da diversidade cultural como essenciais ao pleno desenvolvimento das pessoas. Acreditamos que juntos e juntas, atuando em rede, poderemos incidir em políticas públicas. É assim que com a Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias (RNBC) composta por 11 redes de bibliotecas comunitárias espalhadas em todo o país, estamos construindo “O Brasil que lê”.
As instituições que fazem parte da rede desenvolvem atividades culturais e socioeducativas, incluindo ações de incentivo à leitura literária. As ações de promoção da leitura fortalecem, qualificam e disseminam as práticas desenvolvidas pela rede, contribuindo para o fortalecimento e a construção de políticas públicas de difusão da leitura – que é um direito e um valor cultural inestimável para a cidadania.
A Biblioteca Comunitária Caio Fernando Abreu teve início em 2017 a partir de doações recebidas do projeto “Esqueça um Livro”. Hoje, o centro conta com quase 4 mil obras, entre livros, DVDs, CDs e revistas. O acervo da biblioteca busca dar espaço e ecoar a voz de literaturas representativas e dissidentes e tem parceria com nove instituições de ensino e cultura, repassando parte das doações que recebe de acordo com a demanda.
Seguindo o ideário de portas abertas da Casa 1, os empréstimos da Caio são gratuitos e não é necessário apresentar extensa documentação para tornar-se sócio ou sócia, garantindo assim o atendimento a toda a comunidade, sem exceções.
Com a plataforma “Mapa da Leitura“, que conecta bibliotecas comunitárias de todo o país, é possível trocar experiências entre bibliotecas, se relacionar com leitores, parceiros e voluntários. A plataforma é uma realização da Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias.